6 de novembro de 2008

Meu corpo sob a preguiça

Considere que, como o próprio título já diz, esse post está sendo criado de maneira arrastada, com energia baixa, corpo sonolento e uma imensa vontade de desligar o pc e voltar pra cama. Não ver mais o dia, não ver pessoas, não sentir sabores. Apenas deitar e ver a vida passar... passar... e passar. Felizmente, o pouco de energia que me resta, me dá forças para concluir.

Abro os olhos, vejo a luz do sol invadindo o meu quarto anunciando a chegada de mais um grande dia. Grande dia? Ah, não. Hoje não. Eu só quero ficar na cama, sem fazer nada. Mesmo assim, os pássaros amontoados na planta que fica em minha janela insistem em cantar fervorosamente, como a exigir que eu aceite a chegada de mais um dia. Droga, hoje eu só quero ficar na cama. Será que é tão difícil entender? Hoje eu não quero viver, não quero sair. Hoje meu melhor companheiro será o ócio.


Alguém bate na minha porta, me convidando a apreciar o maravilhoso, ensolarado, quente e singular dia. Não, já disse que não quero. Sendo assim, fico irritado com facilidade, acabo falando coisas duras contra quem não tem nada a ver, minha energia fica ainda mais baixa, fico confuso, sinto uma impotência tomando conta de mim, não tenho vontade de fazer nada, passo sonolento pelo dia. É desse modo que meu corpo soletra a palavra P-R-E-G-U-I-Ç-A.


Levanto-me, com os olhos ainda semi-cerrados. Tropeço na quina da porta. Porra, essa quina tinha de estar no meio do caminho? Vou me arrastando até o banheiro, não cumprimento as pessoas da casa, não quero saber de nada nem de ninguém. Tranco-me, finjo que escovo os dentes, finjo que tomo banho, finjo que estou vivendo. Maldita indolência. Rouba-me a energia sem piedade. Suga minha força de viver com um sorriso sinistro, como a me desafiar, a me humilhar. Joga-me ao chão, pisa, zomba de mim. Eu não reajo, estou preguiçoso demais para tomar qualquer atitude. Sou apático até para recuperar minha própria vida de volta. Esse contexto torna-se ideal para manifestação de outro sentimento repulsivo. Quem vai assumir a partir de agora é a impotência.


Saio do banheiro, depois de um mágico banho gelado. Sinto-me um pouco melhor. Um pouco mais disposto. Resolvo encarar o dia, mostrar ao ócio quem manda aqui. Retomo as atividades habituais. Finalmente o dia me convence de que eu devo vivê-lo plenamente. Então, let´s go...


Começo a estudar, mas não consigo absorver um assunto absurdamente simples. O que será que está errado? É melhor fazer outra atividade. Pego um Bukowski. Hoje vou me acabar lendo Misto Quente. Henry Chinaski é sempre um ótimo remédio anti-apatia. Estranho. Hoje o Chinaski não está tão prazeroso. Resolvo mudar outra vez de atividade. Farei algo mais fácil, que não exija muito de mim. Vou encontrar alguns amigos. Só que, inexplicavelmente, meu corpo se fecha, sussurrando essas palavras; “hoje não me sinto bem para encontrar pessoas. Estou feio, magro, gordo, chato, irritado, preguiçoso, hesitante, distante, inseguro demais. Elas julgarão minhas roupas, meu modo de falar, a minha vida. Desculpe, mas hoje não me sinto digno de falar com alguém. Hoje eu não sou ninguém”.


Será possível que não conseguirei fazer nada? Até nas coisas em que sou bom, há hesitação. É como se houvesse uma identidade sibilando para mim: “hoje você é só meu. Não irá fazer nada que eu não permita”. Sinto pavor ao ouvir essas palavras. Meu corpo estremece, sente uma necessidade de virar o jogo, dar um basta na situação. Afinal, o dia vai acabar e não terei mais como recuperá-lo. Será um dia perdido em minha vida. Quantas pessoas não queriam ter só mais um dia em suas breves vidas, para poder vivê-los de forma singular? Não quero ter de esperar um diagnóstico de câncer, ou de qualquer outra tragédia para aprender a valorizar a vida. É hora de dar um basta na situação.


Meu corpo se enche de raiva. É preciso canalizá-la. Paulatinamente, transformo a energia da raiva em ação. Começo a encarar o que me resta do dia com destemor, com o peito aberto. Agora sim. Nem de longe pareço aquele cara inerte que começou o dia. Aos poucos, a impotência dá lugar aos desafios. E daí se eu não conseguir fazer as coisas? O que importa é que agora estou disposto a tentar. A preguiça, que parecia um obstáculo intransponível, cede seu lugar ao chamado do universo, ao chamado da vida. Lembro-me de minha missão, lembro-me das pessoas que esperam por mim, lembro-me de meu compromisso em semear a felicidade alheia. Lembro-me que a vida é muito breve para passarmos adormecidos por ela. Lembro-me também que eu posso dormir o dia todo hoje, porém não sei se vou acordar amanhã. Por via das dúvidas, é melhor viver como se fosse o último. Carpe diem, estou chegando, estou chegando...