24 de janeiro de 2012

Esse conto está sem título ainda. Quer dizer, falando francamente, eu terminei de escrevê-lo. Só que ficou uma bosta. Completamente diferente do que eu queria. Vou reescrevê-lo ainda essa semana. Vou colocar aqui até onde eu gostei. O resto, que ficou uma bosta e também extremamente pervertido até para mim, eu vou cortar. Vamos ao que interessa...


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Havia dois meses que eu estava sem emprego. Fui demitido do meu último trabalho – de açougueiro – porque certa vez o dono do frigorífico resolveu aparecer por lá de surpresa e me pegou no exato momento em que eu batia uma punheta em cima das picanhas argentinas. De fato, tentei convencê-lo de que aquilo era um procedimento padrão e que, já que o boi era brasileiro, eu estava ao menos dando o “segredo” argentino à carne. Me demitiu no mesmo dia e sem justa causa. E disse que se eu não saísse de lá imediatamente, ele enfiaria o espeto de segurar a carne no meu rabo e ainda iria fatiar minha vara e vender como salsichinha a granel, por menos de 1,99 o quilo. Embora eu ache que fatiada não daria nem duzentos gramas.

Esses dois meses sem trabalho não foram lá tempos muito confortáveis. Minha rotina se limitava a ir de casa para o bar e vice-versa. Comida não era o problema mais grave. Eu sempre conseguia arrumar. O lance era a bebida. Eu já não tinha mais grana para sustentar o vício do álcool e do cigarro. De modo que passava o dia todo lá mendigando algumas doses das pessoas que freqüentavam o lugar. Poucas se sensibilizavam com a minha situação. Se você for mesmo depender da benevolência das pessoas para ficar um pouco embriagado, você está fodido. Muito fodido. Vai passar a vida sóbrio.

Certo dia em casa, resolvi que precisava de um novo emprego. Fazia tempo que eu não procurava. Eu não tinha muitas experiências e não cheguei a completar meu ensino médio. Sendo assim, só sobravam empregos de merda para mim. Fui lá aos classificados procurar por alguma coisa:

“PRECISA-SE DE COVEIRO QUE SEJA MACHO E NÃO TENHA MEDO DE FICAR NO CEMITÉRIO À NOITE. PAGA-SE BEM. TRABALHAMOS TAMBÉM COM META. QUANTO MAIS DEFUNTO ENGAVETAR, MAIOR O SALÁRIO.”
-Porra, pensei, do jeito que eu ando fodido e com o pé na cova, é capaz de que eu fique por lá mesmo. Passo...

“PRECISA-SE DE MASTURBADOR DE PORCOS QUE SEJA PACIENTE E QUE ESPERE OS TRINTA MINUTOS NECESSÁRIOS PARA QUE O BICHINHO TENHA UM ORGASMO DECENTE. SALÁRIO A COMBINAR.”

-Eu queria ser um porco. E não masturbar um. Próximo...

“PRECISA-SE DE CAMAREIRO URGENTE. COM EXPERIÊNCIA DA PORRA. PAGA-SE BEM PRA CARALHO”.

-hahahaha. Camareiro ou recolhedor de camisinha e lavador de esperma? Nunca mais deixo preservativos espalhadas pelo chão e nem gozarei no espelho de novo.
Não havia nada de interessante nos classificados. Os melhores empregos exigiam a experiência que eu não tinha. Talvez, minha única alternativa seria dar um pulo na agência de empregos. Eu não gostava daquele lugar. Tinha uma atmosfera decadente e parecia mais um congresso de derrotados. Toda a escória vagabunda e bêbada estava lá. Gente, que como eu, não tinha estudado e passava a vida fazendo pequenos “bicos” em empregos mais decadentes ainda. Além de tudo, os atendentes eram mal humorados e te olhavam de um jeito esnobe, como se estivessem fazendo o maior favor da vida deles em te encaminhar para a merda de um emprego mais de merda ainda.

Joguei o jornal no chão e me dirigi ao banheiro. Dei uma bela cagada de vinho, mas esqueci que havia acabado o papel higiênico. Voltei pra sala e recolhi o jornal dos classificados do chão. Voltei para o banheiro, peguei uma folha que considerei fina, dobrei em duas e passei bem no meio do rabo. Nossa Senhora, talvez ardesse menos se passasse uma lixa na bunda ao invés daquele jornal. Me certifiquei de que além de ter limpado o rabo, todos os pelos do meu cu também haviam ido embora naquela folha. Joguei fora e fui tomar banho.

Quando sai do banheiro, coloquei minha roupa de domingo. Era uma calça de linho, uma camisa social surrada e um sapato de cobrador que brilhava como catarro quando exposto ao sol. Também passei um perfume vagabundo na cara, penteei os cabelos para trás, tomei um gole de café e fui à luta atrás de emprego. Era preciso enfrentar o mundo. O trabalho dignifica o homem. Não que eu fizesse questão de ser um cara muito digno. Contudo, para um homem manter certos luxos, ele precisa ter algum dinheiro. Bebida, cigarro e mulher são coisas bem caras hoje em dia.

A agência de empregos ficava a uns quarenta minutos da minha casa. Era preciso pegar um ônibus, descer na avenida principal e andar mais dois quarteirões. Era bem longe e o sol estava de rachar a cabeça de qualquer um. Assim que desci do ônibus, fui ao bar mais próximo tentar descolar uma bebida para chegar bem a agência. Pedi uma dose de Slova que era a bebida mais barata que eles tinham. O garçom, um tipo careca, meio gordo, de postura curvada e estatura baixa, atendeu de pronto meu pedido. Falei qualquer merda sobre o tempo e bebi minha Slova. Ele disse que estava calor e me perguntou aonde eu ia vestido daquele jeito. Eu disse que estava indo a agência de empregos. Ele colocou outra dose e disse que era por conta da casa. Bebi, paguei a primeira bebida e me despedi dele.

Tive que concordar com o garçom. Que calor infernal estava fazendo. Cheguei à agência molhadinho de suor. Peguei a ficha 85. O guichê apontava o número 60. Procurei um lugar e fui sentar. Aquilo me levaria o dia todo.

-É meu amigo, não tá fácil pra ninguém. Disse um sujeito assim que eu me sentei.
Concordei apenas balançando a cabeça.

Finalmente chegou a minha vez. Fui atendido por um tipo brucutu, grosso como cano de passar fezes.

-Nome? Falou ele, asperamente.

-Amaro.

-De quê?

-Jaime.

-Identidade?

-Só um momento. Eu disse.

-Temos o dia todo, falou ele, de modo cínico.

Entreguei o documento.

-Amaro Jaime Pinto. Que nome excêntrico. Disse ele debochando.

-No bundinha não vai nada? Perguntei.

-Como?

-Não, nada.

-Bom, seu Amaro Jaime, o senhor tem experiência em quê?

-O que colocar eu tô pegando. Desde que não seja masturbar porcos e nem limpar camas de motel.

-Qual sua escolaridade?

-Estudei até o primeiro ano.

-Temos uma vaga de repórter aqui. Pena que o Senhor não se encaixe no perfil. Espera. Deixe-ver... Temos uma vaga para ator pornô. O Senhor se interessa?

Pensei por uns minutos.

-É heterossexual, pelo menos?

-Cavalo dado não se olha os dentes.

-Pimenta e pau grande no rabo dos outros é refresco.




(continua...)

10 de janeiro de 2012

Trepando e refletindo

-Nunca gozei tanto numa só noite. Disse ela ofegante, enquanto ele limpava o pau no lençol e estampava no rosto um sorriso orgulhoso. –Sabe, você é um bom amante, mas precisa ser menos selvagem. Você também poderia usar a língua de um modo mais brando.

-Meu bem, ele disse, não viajei de uma ponta a outra da cidade para vir tomar leitinho na sua tigela de carne.

- Como você é insensível.

- Nas histórias de amor, há mais que amor.

-Como?

- Nas histórias de amor, sempre há algo mais do que amor.

- Cara, você enlouqueceu?

- Infelizmente não.

- E que raio de assunto é esse? Perguntou ela, enquanto acendia um cigarro.

Silêncio por alguns instantes... Há tempos que ele não escrevia nada. Não porque não quisesse. Ele até tentava. Apenas não conseguia organizar as ideias. Tinha uma porção de coisas na cabeça. Tinha tempo. Tinha disposição. Só não conseguia vencer a interminável luta contra a folha em branco. Esse é o mal que assola os escritores. Cada dia em que você não consegue produzir nada, é como se fosse um dia perdido. Um dia sem palavras no papel, é um dia perdido. Uma punheta sem gozar, é tempo perdido.

-Cara, no que você tanto pensa? Perguntou ela novamente, enquanto acendia um novo cigarro em outro quase apagado.

- Eu e aquela velha aflição.

- Que aflição?

- Você não entenderia... Eu sou só mais uma criatura atordoada pelo amor. E é tudo deliciosamente confuso.

-Li uns textos seus. Não te conheço muito bem. Só sei que você fala e pensa muito em sexo. Não acho que amor seja um tema recorrente pra você.

- É uma forma de disfarçar meus sentimentos.

- Sentimentos? É algum tipo de pegadinha isso?

- hahaha. Ele riu. -Eu disse que você não entenderia. Ninguém entende.

Jack levantou e caminhou até o banheiro para dar uma mijada. Na volta, deu uma bela coçada no pau e pegou duas cervejas. Abriu uma e entregou outra para ela. Ele não sabia o que estava acontecendo. Estava bem estranho esses dias. Jack não era um cara muito sentimental, mas já tinha passado por poucas e boas nessa vida. Quer dizer, todo mundo pra ser alguém, tem que se foder um pouco. Jack havia se fodido razoavelmente bem, contudo, teve jogo de cintura e tirou tudo de letra. Só que algo insistia em voltar.

- Escuta, garota, como é mesmo seu nome? Perguntou Jack.

- É assim que os escritores trabalham? Comem a gente e nem sequer lembram o nome? E se eu tivesse uma pica no lugar da xoxota?

-Não precisamos fazer disso uma novela mexicana. E se fosse uma pica maior do que a minha, eu iria perceber logo.

-Meu nome é Sandra...

Jack avançou e a beijou furiosamente. Seu pau não subiu.

-Cara, você é realmente pirado. Assim como os seus textos. Aquilo tudo que está lá, é verdade mesmo?

- Só as que eu costumo me foder.

-Porra, nunca trepei com um escritor decadente.

Escritor decadente. Aquelas palavras soavam no ouvido de Jack como um eco numa montanha. Escritor decadente. Jack não era isso. Até porque, pra ser decadente, supõe-se que já se esteve no auge algum dia. Ele nunca esteve. Jack era o tipo de cara estranho que deixava a vida ir embora por entre os dedos. É claro que já havia escrito um ou dois contos bons. Nada de extraordinário. Além disso, Jack estava no rol dos escritores escatológicos. Aqueles que só falam de bundas e peitos e vaginas e pênis. Jack só havia escrito uma história na vida em que não pronunciou nenhuma dessas palavras. E foi um texto bem ruim por sinal. O forte de Jack era falar de putaria. Só que Alguma coisa estranha estava acontecendo com ele. Jack não conseguia mais falar disso. E o que era pior: ele estava tentando esboçar uns textos de amor. Porra, Jack, assim você nos mata de vergonha.

-Sandra, eu preciso me declarar para alguém hoje. Faz parte da profissão de escritor.

-E por que não se declara pra alguma ex namorada tua? Talvez o texto saia mais autêntico.

-É porque eu só posso me declarar pra uma puta de cada vez. E já que você está perto...

-Jack puro sangue de volta?

-Creio que não. Sinto que só vou voltar de verdade quando colocar pra fora todas essas merdas sentimentais que estão me bloqueado. É como sarrar e não gozar. Se você ficar esfregando e não colocar pra fora, aquilo vai ficar te incomodando.

-E ainda dizem que o romantismo acabou, Jack...

Jack começou seu texto enfadonho. Havia colocado na cabeça que precisava ser mais lírico. Fez uma auto-análise e achou que seus textos estavam mesmo “pesados” demais. Chegou a essa conclusão depois que recebeu uma carta de um editor dizendo que não iria publicar um de seus contos porque havia muitos órgãos genitais por linha. Desse modo, resolveu se aventurar em textos mais romantizados. A merda é que Jack não sabe escrever textos assim sem cair na pieguice.

“Em vários textos meus, como vocês já puderam ver, eu me referi ao amor como uma puta. Bem safadinha por sinal. Que te come de quatro e depois vai embora. Pensando bem, talvez o amor não seja uma puta. Putas só vem até você se forem chamadas. E com jeitinho. Se você for bruto, ela vai se assustar e não vai te atender. Ou se atender, não vai caprichar no boquete. Enfim, voltando, o amor, apesar de tudo (e é difícil para mim admitir isso) não é bem uma putinha. Podemos comparar o amor como um menino treloso. Daqueles bem filhos da puta sacanas mesmo. Em minhas andanças, eu já pude experimentar muita coisa nessa vida. E tenho que confessar que a melhor delas foi mesmo o amor. Porra, eu nem sei bem se foi amor. Talvez tenha sido, mas foi bom pra caralho. Sono compartilhado, acordar junto, cumplicidade, mãos dadas, programa básico juntos, nunca pensei que essas pequenas merdas fossem tão importantes. A satisfação de ser o motivo da felicidade de uma pessoa. Cuidar dela, ser cuidado, dedicar-se ao outro. Acredito que nossa vida tem mais sentido quando nos dedicamos saudavelmente ao outro. O amor brinca contigo. Faz de uma tristeza, uma demonstração de afeto e cumplicidade. Do desespero, ele se materializa no outro como porto seguro. Da alegria, ele faz uma felicidade extrema. Coitados daqueles que nunca experimentaram plenamente o amor.”

Fez uma pausa. Foi na geladeira buscar outra cerveja. Enquanto isso, Sandra lia o texto.

-Está uma bela bosta. Você não sabe falar sobre o amor. Você não pegou o espírito da coisa, Jack.

-Que espírito? Perguntou ele enquanto peidava algo parecido com sopa de urubu misturado com rato empanado.

-Por que essa necessidade de falar sobre o amor, Jack? Você não fala sobre o amor, você experimenta.

Enquanto pensava, Jack peidou novamente. E dessa vez se superou. Fedeu mais do que o outro. Coisa que parecia impossível. Só estando lá para se ter ideia de quão fedorento era aquele cu.

-Porra, cara. Tu sabes mesmo como tratar uma mulher.

-Isso porque você ainda não viu meu pai.

- Porra, o que andam te servindo por aí? Self service de carniça?

- Sandra, é possível que tenhamos apenas um “amor da vida” ou “vários amores da vida”?

-Ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez...

- Não?

- Claro que não, Jack. Os amores da nossa vida estão aí o tempo todo.

-E aquela sensação que dizem só sentir uma vez na vida?

-Porra, Jack. Nossas perspectivas mudam, cara. O amor da vida hoje pode não mais ser amanhã.

-Mas, se acaba assim tão rápido, talvez não seja amor verdadeiro...

-Tu fala que nem uma mocinha. Sai desse castelo, baby. E para de querer viver um conto de fadas.

-Mas eu já tive duas grandes experiências amorosas. E nunca mais consegui sentir isso. Deve ser por esse motivo que sou assim.

-Jack, lendo seus textos, jamais eu imaginaria tanta inocência em você. Isso é fofo. Dá até um charme. Dá vontade de colocar no colo.

-Até que não é má ideia chupar uns peitos agora...

-Reescreve a merda desse texto...

“Coitados daqueles que nunca experimentaram o amor. Muitos tem oportunidade, mas, por medo de se machucar, não permitem que o amor entre em suas vidas. Coitadas dessas pessoas. Na maioria dos casos são covardes e se fecham em casulos, não permitindo que nenhum invasor cheguem ao território de ninguém que é o coração.”

-Jack, tá ficando uma merda...

“Eu já experimentei o amor algumas vezes na vida. E confesso que me fodi bonitinho. Porém, trocaria tudo que tenho hoje só para sentir aquilo de novo...”

-Que merda é essa, Jack? Trocaria tudo que tem pra sentir aquilo de novo?

-Claro. Foi uma sensação linda.

-Jack, Jack... Há muito caminho por percorrer ainda. E hoje eu vejo o porquê de você estar em queda livre. Tua escrita Jack, a tua escrita está condicionada a essas frustrações amorosas. Porra, Jack, até eu que sou mulher sei disso. QUERER REVIVER SENTIMENTOS PASSADOS É ATESTAR SUA INCAPACIDADE DE VIVER ALGO BOM NO FUTURO, SEU CUZÃO!

Jack ficou sem palavras...

-Além do mais, Jack, você disse que já experimentou o amor algumas vezes. E que sente falta disso. Aposto que se uma dessas mulheres te procurassem para tentar voltar, você iria rapidinho, como um cachorro.

-Seria uma boa oportunidade...

-É isso que está te fodendo, cara. Eu chego aqui, doida pra dar o priquito, tu me come de um modo violento, eu gozo até o cu fazer bico e, depois que eu quero só descansar pra meter mais, tu simplesmente coloca uma calcinha e começa a falar essas merdas sentimentais. Porra, Jack, não se volta com uma ex namorada assim, cara. Na maioria dos casos, voltar um antigo namoro é uma tentativa patética de resgatar o que não está lá há tempos. Ou tua forma de pensar não muda?

-Até que você é uma putinha bem esperta...

Sandra levanta e vai tomar um copo d´água. Na volta, traz duas cervejas e acende um cigarro.

-Jack, aprende uma coisa, a vida é dinâmica. Se tua capacidade de amar se resume apenas a uma mulher, tu estás bem fodido.

Jack parou para pensar. Depois deu um gole na cerveja e continuou escrevendo.

“Eu já experimentei o amor algumas vezes na vida. E confesso que me fodi bonitinho. Só que, pensando bem, talvez não seja tão ruim ter me fodido um pouco. Se hoje me tornei esse canalha que fala com tanto orgulho das partes safadas, devo agradecer a essas frustrações amorosas. Até que se prove o contrário, todo homem é um canalha em potencial. E essa transição só acontece depois que o amor te enraba e vai embora. Sim. Talvez o amor seja mesmo uma puta, ou mulher safada, ou algo do gênero. O amor talvez chegue mais perto de uma gozada. Uma sensação surreal que dura dois segundos. É, isso é o amor. Uma diária e eterna gozada de dois segundos com a pessoa que você tem certeza de que não vai querer chutá-la da cama depois. O amor é se contentar com um boquete porque sua namorada está menstruada e você não gosta de comê-la de cabidela, porque dá um desespero ver a salsicha cheia de ketchup. O amor é andar de mãos dadas com orgulho de sua namorada enquanto tem um monte de gostosas te olhando e você não sente vontade de fazer nada. Ou pelo menos não deveria sentir. Porra, o amor... sempre o amor.”

Assim como Sandra havia antecipado, o texto de Jack sobre o amor estava uma bela bosta. Um monte de palavras soltas tentando definir uma coisa que ele buscava desesperadamente. Jack tinha uma natureza canalha e queria viver negando isso constantemente. Jack esqueceu que seus melhores textos (aqueles dois) ele escreveu quando não se preocupava tanto assim com o amor. Jack tinha um histórico de relações mal resolvidas e isso provavelmente começou a perturbá-lo. Jack esqueceu de que a evolução do homem é o canalha. E este, é o sonho de toda mulher. Por mais que elas neguem. Jack é um sortudo por ter se fodido na hora certa. Eu iria ficar bem triste de ver Jack casado aos 22 anos e pai de dois filhos. E há tanta vagina que Jack precisa conhecer ainda. Ele nem sequer chegou aos três dígitos.

Agora, de pau duro, avançou sobre Sandra e meteu carinhosamente. Ele não queria morrer sem experimentar novamente a delícia que é trepar com amor.

2 de janeiro de 2012

O amor se esgota mais rápido do que um jato de esperma

Nós sabíamos realmente como viver naquela época. Bebíamos e fumávamos como ninguém e nossa capacidade sexual também estava no auge. Enfiávamos nossos pênis em qualquer mulher que sorrisse por mais de dois segundos para nós e só tirávamos de lá quando ela nos expulsava. Montávamos naquelas mulheres e dávamos a elas o que já era delas por direito: muita pica dura e por um razoável período de tempo. Às vezes, era por tanto tempo que as bocetas simplesmente se fechavam para nós. Se você nunca viu uma boceta se fechar para um pênis, é sinal de que você nunca chegou até as últimas conseqüências e de fato nunca comeu efetivamente uma mulher.

Voltando ao assunto, nós éramos realmente caras bem durões para o nosso tempo. Não que fosse preciso fazer muita coisa para ser um cara durão. Porém, só o fato de que você ser constantemente chamado de ogro pela maioria das pessoas numa sociedade extremamente sensível, já impunha algum tipo de respeito. Ou não.

Líamos também os escritores da moda e constantemente discutíamos sobre eles. Na verdade, o que nós fazíamos mesmo era copiar seu estilo. Bukowski, Rimbaud, Fante, Bolanos. Até Woody Allen com toda sua prolixidade era motivo de nossas “inspirações” literárias. Quando a seca apertava e nós precisávamos fazer sexo com certa urgência, Caio Fernando Abreu era a pedida certa. Diga a uma mulher tudo o que ela quer e precisa ouvir e depois se prepare para receber um dos maiores boquetes da sua vida.

Realmente vivíamos sem muitas preocupações naquela época. Embora nossos empregos não fossem nada daquilo que sonhamos, não havia muitos motivos para reclamar. Tínhamos dinheiro suficiente para encher a cara com freqüência socialmente questionável, éramos jovens bonitos e até certo ponto inteligentes e também tínhamos amigos que poderíamos contar em qualquer situação. Exceto se nessa situação alguns deles estivessem metendo ou em coma alcoólico. O que é bastante justificável. A única coisa em que a gente de fato sempre fazia merda era na escolha de nossas mulheres. Eu não sei bem o que acontecia, mas nunca acertávamos por completo com uma mulher. Escolhíamos sempre as mais bizarras, ou as mais neuróticas, ou ciumentas, ou tudo junto e misturado, enfim, para cada virtude que alguma mulher possuía, multiplique-se por dois a capacidade que ela tinha de encher as tuas bolas.

Lógico que algumas foram marcantes. E pra falar a verdade, tenho que assumir que o sexo com uma mulher problemática é mesmo sensacional. A perícia que ela tem em ficar te enchendo o saco, ela aplica toda na hora de envolver tuas bolas com a boca. Bate e chupa, bate e chupa. Tudo bem ritmado, tal qual uma sinfonia de Beethoven, como deve ser. E no fim você lança jatos de esperma como uma baleia lança água pelo buraco das costas. E já que estamos falando em mulheres marcantes e problemáticas, eu me lembro de um amigo que estava saindo de um relacionamento que havia acabado mal. A mulher simplesmente fodeu com a cabeça dele e o deixou obcecado. Vocês sabem essas mulheres como são. Tecem uma teia e te envolvem como uma aranha, chupam todo o teu sangue e depois partem teu coração. O Grande Poeta dizia que essas mulheres não sabem amar. Elas ficam parasitando de cara em cara, até que, o tempo passa e essas mulheres esquecem que estão envelhecendo. Vão ficando gordas, feias, os peitos caem e a xoxota fica flácida e para te fazer um simples boquete, tem que tirar a dentadura. Um verdadeiro horror. Voltando ao meu amigo, ele estava bem fodido por causa dessa garota. Havia dado a ela todo o seu amor e todo seu tempo e tudo mais que um homem apaixonado acha que deve dar a mulher. Víamos que ele caminhava a passos largos para o fundo do poço e nada do que falássemos ou fizéssemos poderia mudar isso. O cara deixou de comer, vivia 24 horas de porre e fumava um cigarro atrás do outro. Não tinha vontade de comer outras mulheres e sempre que via casais apaixonados pela rua logo caía no choro. Era uma cena bem patética. Um homem daquele tamanho e daquela idade chorando porque teve seu pobre coraçãozinho partido. Não que eu seja insensível ou que nunca tenha chorado também, mas a cena seria ridícula de todo jeito. E a única forma de reverter isso era indo pro bar e fazendo o que mais a gente sabia: virar um copo atrás do outro.

Certo dia, numa dessas festas da vida, esse meu amigo que já apresentava alguma melhora, recebeu um telefonema meio suspeito. Era a mulher que fodeu seu coração. Ligou só para se certificar de que ele ainda continuava na merda. Eu não sei ao certo o que se passava pela cabeça dela, mas o lance era o seguinte: a forma mais rápida e eficiente que encontrava para se sentir bem era tendo a certeza de que esse meu amigo ainda sofria por ela. Todas as vezes que quebrava a cara, era pra ele que ela corria. Não que sentisse algo por ele, porém, era tudo simplesmente humano. Dois idiotas numa cilada, um tentando sustentar o mundo do outro. E a gente se perguntava o tempo todo como ele poderia se considerar sortudo tendo uma mulher que acabou de ser abandonada por outro cara? Enfim, esse telefonema mexeu tanto com meu amigo que ele acabou sozinho com meia garrafa de uísque. Pediu outra e começou a chorar.

-Ah, cara, não começa com essa merda novamente, porra.

-Ela é a mulher da minha vida. Nós vivemos momentos intensos e eles não podem ser jogados fora assim.

-Se agarrar a essa merda é sentenciar a própria morte.

-Você fala isso porque nunca viveu nada parecido.

-Você realmente acredita que é o único cara fodido aqui?

-Tão intensamente, sim.

-Você realmente não está pronto, cara. Bebe mais uísque.

-Você acha que é fácil ficar sozinho assim de uma hora para outra? Tudo nós fazíamos juntos.

-Há coisas bem piores do que ficar sozinho.

-Tipo...

Levantei, deu um gole no meu uísque com gelo, enchi o peito e disse:

“há coisas piores na vida do que
ficar sozinho
mas frequentemente leva décadas
para entender isso
e mais frequentemente
quando você entende
é tarde demais
e não há nada pior do que
tarde
demais”

Meu amigo deu um gole e esboçou um sorriso. Pegou seu celular e atirou ao chão. Encheu o copo mais uma vez, deu mais um lindo gole e se dirigiu para o meio do salão. Havia um grupo de mulheres conversando e ele abordou uma delas.

- Olá, me chamo Antônio.

-Me chamo Kelly. Prazer.

-Sou escritor, advogado e um ótimo amante nas horas vagas.

-Eu sou universitária. Entretanto, ganho a vida fazendo programas.

-As putas estão cada vez mais qualificadas hoje em dia.

-Sabe como é... A concorrência anda muito desleal. É sempre bom estar preparada.

Antes mesmo de a puta terminar de falar, meu amigo a agarrou e deu um beijo de cinema nela. Um beijo tão apaixonado que poucas vezes eu tive a sorte de presenciar. Mais que isso. Creio que poucas vezes eu beijei uma mulher tão apaixonadamente como esse meu amigo estava fazendo com essa puta. Finalmente ele encontrou uma mulher verdadeiramente viva e, mesmo por alguns minutos, ele está tendo a coragem de entregar o seu amor pra ela. Se ele está sendo capaz disso, quer dizer que ele está livre para amar qualquer mulher que faça por merecer. Enquanto eu pensava essas coisas, meu amigo beijava a puta acariciando seus cabelos com uma das mãos e a outra, é claro, apertava firmemente sua generosa bunda. Ele parou um momento e acenou para mim. Eu sorri para ele, orgulhoso de sua coragem. Finalmente, meu amigo iria pegar o número da puta. Colocou a mão no bolso e não achou o celular. Provavelmente esqueceu de que havia quebrado o aparelho minutos antes. Veio até mim e pediu então o meu emprestado. Entreguei-o.

No momento em que ele se preparava para salvar o número da puta, a mulher que havia partido o coração dele ligava para o meu celular. Ele atendeu.

-Alô, por favor, me chama o Antônio?

-É ele.

-Eu te amo, Antônio.

-Ok. Ele disse.

É tudo isso que você tem a dizer?

-Sim.

-Vá tomar no cu. Eu te odeio! E desligou.

Mais uma vez eu estava orgulhoso do meu amigo. Além da coragem de amar a puta, ele conseguiu romper a teia que o prendia. Dei mais um gole no meu uísque, dessa vez sem gelo e lembrei de que o amor se esgota mais rápido do que um jato de esperma. Levantei e fui à caça também. Havia mais putas ali que precisavam ser amadas. E o sol nem estava nascendo ainda.