24 de janeiro de 2012

Esse conto está sem título ainda. Quer dizer, falando francamente, eu terminei de escrevê-lo. Só que ficou uma bosta. Completamente diferente do que eu queria. Vou reescrevê-lo ainda essa semana. Vou colocar aqui até onde eu gostei. O resto, que ficou uma bosta e também extremamente pervertido até para mim, eu vou cortar. Vamos ao que interessa...


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Havia dois meses que eu estava sem emprego. Fui demitido do meu último trabalho – de açougueiro – porque certa vez o dono do frigorífico resolveu aparecer por lá de surpresa e me pegou no exato momento em que eu batia uma punheta em cima das picanhas argentinas. De fato, tentei convencê-lo de que aquilo era um procedimento padrão e que, já que o boi era brasileiro, eu estava ao menos dando o “segredo” argentino à carne. Me demitiu no mesmo dia e sem justa causa. E disse que se eu não saísse de lá imediatamente, ele enfiaria o espeto de segurar a carne no meu rabo e ainda iria fatiar minha vara e vender como salsichinha a granel, por menos de 1,99 o quilo. Embora eu ache que fatiada não daria nem duzentos gramas.

Esses dois meses sem trabalho não foram lá tempos muito confortáveis. Minha rotina se limitava a ir de casa para o bar e vice-versa. Comida não era o problema mais grave. Eu sempre conseguia arrumar. O lance era a bebida. Eu já não tinha mais grana para sustentar o vício do álcool e do cigarro. De modo que passava o dia todo lá mendigando algumas doses das pessoas que freqüentavam o lugar. Poucas se sensibilizavam com a minha situação. Se você for mesmo depender da benevolência das pessoas para ficar um pouco embriagado, você está fodido. Muito fodido. Vai passar a vida sóbrio.

Certo dia em casa, resolvi que precisava de um novo emprego. Fazia tempo que eu não procurava. Eu não tinha muitas experiências e não cheguei a completar meu ensino médio. Sendo assim, só sobravam empregos de merda para mim. Fui lá aos classificados procurar por alguma coisa:

“PRECISA-SE DE COVEIRO QUE SEJA MACHO E NÃO TENHA MEDO DE FICAR NO CEMITÉRIO À NOITE. PAGA-SE BEM. TRABALHAMOS TAMBÉM COM META. QUANTO MAIS DEFUNTO ENGAVETAR, MAIOR O SALÁRIO.”
-Porra, pensei, do jeito que eu ando fodido e com o pé na cova, é capaz de que eu fique por lá mesmo. Passo...

“PRECISA-SE DE MASTURBADOR DE PORCOS QUE SEJA PACIENTE E QUE ESPERE OS TRINTA MINUTOS NECESSÁRIOS PARA QUE O BICHINHO TENHA UM ORGASMO DECENTE. SALÁRIO A COMBINAR.”

-Eu queria ser um porco. E não masturbar um. Próximo...

“PRECISA-SE DE CAMAREIRO URGENTE. COM EXPERIÊNCIA DA PORRA. PAGA-SE BEM PRA CARALHO”.

-hahahaha. Camareiro ou recolhedor de camisinha e lavador de esperma? Nunca mais deixo preservativos espalhadas pelo chão e nem gozarei no espelho de novo.
Não havia nada de interessante nos classificados. Os melhores empregos exigiam a experiência que eu não tinha. Talvez, minha única alternativa seria dar um pulo na agência de empregos. Eu não gostava daquele lugar. Tinha uma atmosfera decadente e parecia mais um congresso de derrotados. Toda a escória vagabunda e bêbada estava lá. Gente, que como eu, não tinha estudado e passava a vida fazendo pequenos “bicos” em empregos mais decadentes ainda. Além de tudo, os atendentes eram mal humorados e te olhavam de um jeito esnobe, como se estivessem fazendo o maior favor da vida deles em te encaminhar para a merda de um emprego mais de merda ainda.

Joguei o jornal no chão e me dirigi ao banheiro. Dei uma bela cagada de vinho, mas esqueci que havia acabado o papel higiênico. Voltei pra sala e recolhi o jornal dos classificados do chão. Voltei para o banheiro, peguei uma folha que considerei fina, dobrei em duas e passei bem no meio do rabo. Nossa Senhora, talvez ardesse menos se passasse uma lixa na bunda ao invés daquele jornal. Me certifiquei de que além de ter limpado o rabo, todos os pelos do meu cu também haviam ido embora naquela folha. Joguei fora e fui tomar banho.

Quando sai do banheiro, coloquei minha roupa de domingo. Era uma calça de linho, uma camisa social surrada e um sapato de cobrador que brilhava como catarro quando exposto ao sol. Também passei um perfume vagabundo na cara, penteei os cabelos para trás, tomei um gole de café e fui à luta atrás de emprego. Era preciso enfrentar o mundo. O trabalho dignifica o homem. Não que eu fizesse questão de ser um cara muito digno. Contudo, para um homem manter certos luxos, ele precisa ter algum dinheiro. Bebida, cigarro e mulher são coisas bem caras hoje em dia.

A agência de empregos ficava a uns quarenta minutos da minha casa. Era preciso pegar um ônibus, descer na avenida principal e andar mais dois quarteirões. Era bem longe e o sol estava de rachar a cabeça de qualquer um. Assim que desci do ônibus, fui ao bar mais próximo tentar descolar uma bebida para chegar bem a agência. Pedi uma dose de Slova que era a bebida mais barata que eles tinham. O garçom, um tipo careca, meio gordo, de postura curvada e estatura baixa, atendeu de pronto meu pedido. Falei qualquer merda sobre o tempo e bebi minha Slova. Ele disse que estava calor e me perguntou aonde eu ia vestido daquele jeito. Eu disse que estava indo a agência de empregos. Ele colocou outra dose e disse que era por conta da casa. Bebi, paguei a primeira bebida e me despedi dele.

Tive que concordar com o garçom. Que calor infernal estava fazendo. Cheguei à agência molhadinho de suor. Peguei a ficha 85. O guichê apontava o número 60. Procurei um lugar e fui sentar. Aquilo me levaria o dia todo.

-É meu amigo, não tá fácil pra ninguém. Disse um sujeito assim que eu me sentei.
Concordei apenas balançando a cabeça.

Finalmente chegou a minha vez. Fui atendido por um tipo brucutu, grosso como cano de passar fezes.

-Nome? Falou ele, asperamente.

-Amaro.

-De quê?

-Jaime.

-Identidade?

-Só um momento. Eu disse.

-Temos o dia todo, falou ele, de modo cínico.

Entreguei o documento.

-Amaro Jaime Pinto. Que nome excêntrico. Disse ele debochando.

-No bundinha não vai nada? Perguntei.

-Como?

-Não, nada.

-Bom, seu Amaro Jaime, o senhor tem experiência em quê?

-O que colocar eu tô pegando. Desde que não seja masturbar porcos e nem limpar camas de motel.

-Qual sua escolaridade?

-Estudei até o primeiro ano.

-Temos uma vaga de repórter aqui. Pena que o Senhor não se encaixe no perfil. Espera. Deixe-ver... Temos uma vaga para ator pornô. O Senhor se interessa?

Pensei por uns minutos.

-É heterossexual, pelo menos?

-Cavalo dado não se olha os dentes.

-Pimenta e pau grande no rabo dos outros é refresco.




(continua...)

2 comentários:

Anônimo disse...

Continuaaaaa Will....

Anônimo disse...

Continuaaaaa Will....