28 de novembro de 2011

De sensibilidade, xoxotas e Caio Fernando Abreu

Eu não me lembro muito bem. Só sei que eu precisava trepar. Há algum tempo eu não escrevia nada. Não bebia nada. Não fumava nada. E também não trepava. Não me lembro de quando entrei naquela vida monástica, mas isso precisava mudar. E era hoje.

Liguei para Sarah.

-Alô, Sarah? Eu disse.

-Quem é? Ela perguntou.

Tive uma ereção.

-É Chinaski, meu amor. Tudo bem?

-Oi, Chinaski? Como estão as coisas?

-Bem. Te liguei porque queria te convidar para assistir um filme aqui em casa.

-Filme? Que filme? E desde quando tu gostas de filmes?

-É um novo, francês. Até comprei uns vinhos para gente beber enquanto assiste.

-Olha, tem que ser agora?

-Não. Pode ser à noite. Às 21, fica bom?

-Combinado.

Desligamos.

Sarah era uma antiga namorada minha. Sempre que eu estava num período fodido com as mulheres, sem ninguém pra comer, ligava para ela. Era uma foda agradável e não muito difícil. Era meio que uma válvula de escape.

Eu detestava filmes. Principalmente os franceses. Sempre aquela coisa repetitiva da Belle époque, mostrando Paris, o Arco do Triunfo e outras merdas mais. Um verdadeiro saco.

Porém, uma coisa é certa: convidar uma garota para assistir filmes em sua casa, regado a vinho, é uma forma bastante sensível de dizer que você está muito a fim de foder. E o vinho ajuda a garota a perceber que ela também está. Dessa forma, era só esperar a hora.

Minha casa estava uma verdadeira zona. Livros jogados, pratos sujos, chão empoeirado, banheiro cagado, cama desarrumada. Nem parecia que um grande escritor vivia ali. Eu, o grande Chinaski, vivendo num verdadeiro chiqueiro. Fiquei tão orgulhoso daquela situação que nem tive coragem de mexer em nada. Poucas pessoas sabiam como manter um chiqueiro em ordem. Eu era uma delas.

Acendi um cigarro e resolvi ir à Budega do Rafa tomar uma cerveja. Fazia um calor dos infernos. Os termômetros marcavam 35 graus. A temperatura dos meus testículos girava em torno dos 50. Era o aquecimento global começando dentro de minha cueca.

-Rafa, grande “hombre”, me vê uma cu de foca. Pedi.

-Na hora, “hombre”. Um cu de foca pra meu escritor maldito preferido que não escreve porra nenhuma.

-É assim que se fala, Rafa.

Tomei na garrafa mesmo. Como era bom. Como era gelada. Como descia maravilhosa. A solução dos problemas da humanidade era a cerveja cu de foca do Rafa. Pedi mais uma para celebrar.

Nesse momento, chega uma loira, de mais ou menos um metro e oitenta, coisa linda de se olhar. O bar todo para babando por aquela beldade. Não preciso dizer que tive uma ereção instantaneamente. Ela rebolava aquele rabo como se tivesse pisando em nuvens. Seus peitos, obedientes, acompanhavam o ritmo dos seus passos. Iam para cima e para baixo. Para cima e para baixo. Para cima e para baixo... De tão hipnotizado que eu estava, nem percebi que ela se dirigia a mim.

-Sr. Chinaski? Perguntou ela.

-Seu servo e escravo sexual. Eu disse prontamente.

-hahaha. Como o Sr é prestativo. O oposto do que imaginei.

-isso porque você ainda não me viu usando a língua.

-É mesmo? Pois fiquei sabendo que o Sr. Não coloca a língua.

-É que eu economizo para as partes especiais...

-Vim falar com o Sr a respeito dos seus contos.

-Podemos deixar as formalidade de lado. Eu disse.

-Pois bem, Chinaski. Há um interesse em te publicarmos.

Dei um gole profundo na cerveja e pedi ao Rafa um copo. Servi a gostosa.

-Publicar? Mas eu nunca mandei material para ninguém!

-Chegou em nossa caixa de email alguns contos seus. Bem interessantes por sinal. Apesar de não fazer a linha de nossa editora, por serem escrachados demais, iremos apostar em escritores malditos.

-Baby, você acha que eu tenho cara de escritor maldito? E dei um gole na cerveja.

-Na verdade, o Sr tem cara de bicha.

-Quem enviou os contos? Perguntei.

-Não sabemos. Não tinha assinatura no email.

-Qual era o título dos contos?

-A saga da Vagina 2, A puta da Domingos Ferreira e um lá em que o Sr parece se declarar para uma antiga namorada. Foi justamente esse que nos fez duvidar se era mesmo o Sr que tinha escrito os contos.

-Por quê?

-Muito lírico para o senhor.

-Você acha que eu sou uma máquina de foder e que não escrevo nada romântico?

-Na verdade, não acho muita coisa ainda. Acabei de o conhecer.

-Pois bem, você deve se referir ao da alma feminina. Muita gente vive dizendo pelos quatro quantos que sou um filho da puta bêbado, que não sabe amar.

-Se o Senhor souber amar tanto quanto sabe escrever sobre cus e vaginas e pênis, isso é um bom começo.

-Você duvida da minha capacidade de amar? O que você saber sobre o amor?

-O básico que toda mulher sabe. Que homem não presta, que não tem sentimento e que só quer nos levar pra cama. Depois disso, some. Por isso, como dizia um famoso escritor: "Eu comecei minha faxina. Tudo o que não serve mais (sentimentos, momentos, pessoas) eu coloquei dentro de uma caixa. E joguei fora. (Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade). A ordem é desocupar lugares. Filtrar emoções."

-Você acha que amar é jogar na defensiva? Que amar é citar Caio Fernando Abreu?

-Sr Chinaski, se seus relacionamentos forem reflexos do que o Sr escreve, isso mostra que o Sr não passa de um desiludido.

-Desculpe, minha querida, mas eu não lembro de perguntar seu nome.

-Nina.

-Nina. Bom nome. Vou lembrar de chamar quando estiver colocando no seu rabinho e depois quando for gozar na sua cara.

-...

-Nina, você já chorou por alguém?

-Não precisei chegar a esse ponto.

-Você já se pegou vários anos pensando em apenas uma pessoa?

-Já. Mas eu tinha 10 anos. Era meu professor.

-Você já achou que o suicídio era a opção mais viável para tentar esquecer um amor que te deixou?

-Acho o suicídio uma forma de fraqueza...

-Então você nunca amou ninguém. Na verdade, você ainda não está pronta. Beba mais cerveja...

-Não entendi a relação.

-Faça o que eu digo. Apenas beba mais e mais cerveja. Há tempo ainda.

-O Sr está bêbado?

-Vocês, jogam na defensiva, vivem citando Caio Fernando Abreu, se escondem atrás de uma falsa indiferença, se fazem forte na frente dos outros, mas se sentem extremamente vazias e vem até aqui, perguntar se eu sei amar? Porra, Nina, isso merece uma foda.

-O Sr é igual aos seus personagens. Acha lindo chamar uma mulher diretamente para dar uma foda.

-Quer que eu mande flores?

-Sr Chinaski, posso fazer algumas observações sobre algumas impressões que tive sobre o Sr?

-Claro. Deixa só eu pedir mais cerveja.

-Pois bem. Eu já percebi toda a sua tática. E o que quero dizer é que o Sr é extremamente encantador. Mesmo sendo um filho da puta, o Sr consegue ser encantador. Sabe que as mulheres acham charmosos os escritores. Mais que isso. O Sr sabe como jogar com uma mulher. O Sr é imperturbável e não costuma se abalar com facilidade. É diferente dos outros homens que conheci. Eles costumam fazer concessões demais, costumam ter dúvidas demais, costumam ser polidos demais. Acham que certos assuntos não podem ser conversados com uma mulher. Tratam a mulher como uma dama vinte e quatro horas por dia. Esquecem que somos putas, que gostamos de ser desrespeitadas e invadidas. Que gostamos que nos confrontem e que batam na nossa cara. Que o maior prazer de uma mulher é ser rendida de todas as formas por um homem. O Sr é machista. Isso me deixa muito molhada. O Sr é firme, a ponto de ser grosso e estúpido. E transfere isso para seus textos. Não tem medo de falar firme com uma mulher e de a colocar no lugar dela. O Sr também é sensível, ao seu modo, claro. Isso o faz um homem de muitas camadas. Sabe o que isso significa, Sr Chinaski?

-Que eu te deixo profundamente excitada. Que você quer me levar para a cama e tentar me decifrar?

-Exatamente, seu bosta. Eu quero que você me trate como uma putinha dos seus contos.

-E a questão da publicação?

-Podemos ver isso mais tarde. Mas, por favor, me come!

-Hum... Não posso, baby.

-Por que não? Não gostou de mim? Virou veado?

-Você é linda. Na verdade, é tudo que eu sempre quis comer na vida. Mas, chega de mulheres complicadas, mal resolvidas e mal comidas na minha vida. Chega de ter de pagar pelo passado dos outros. É foda quando você passa um tempo comendo uma mulher e, mesmo ela sabendo que não sairá daquilo, começa a te responsabilizar pelo sofrimento dela e começa a encher o facebook dos outros com frases de Caio Fernando Abreu. Chega um tempo na vida de um escritor que ele percebe que a quantidade de vaginas não é tão importante quanto a qualidade. Chega um tempo em que a gente percebe que meter não é tudo. E que não adianta encher uma xoxota de porra e deixar a alma vazia. Enfim, baby, não posso fazer isso.

Levantei, deixei algum dinheiro no balcão do Rafa e fui andando. Alguém colocou It´s only Love, dos Beatles. A vida já parecia um pouco melhor. É apenas amor E isso é tudo Por que deveria me sentir Do jeito que sinto? É apenas amor E isso é tudo Mas é tão difícil... Amar você. Sim, é muito difícil... Amar você... Amar você.

Meu talento ainda não estava no fim. E eu perdi meu filme com Sarah.

20 de novembro de 2011

A saga da vagina 2

Era 2:42 da tarde. Fazia um calor dos infernos. O sol sacaneava a gente de tal forma que não era possível manter uma cerveja gelada por mais que cinco minutos. Sendo assim, contra-ataquei, partindo para os destilados.

Nada acontecia. Nenhuma confusão, nenhum amigo, nenhum emprego, nenhuma vagina, enfim, de novidade mesmo, só o aumento no preço das cervejas e dos cigarros. Era um absurdo o tamanho da ousadia.

Eu continuava mamando meu uísque puro, sem gelo. Nunca fui muito fã de cowboy, mas acho que a maneira menos afeminada de se tomar uísque, é puro e sem gelo. Ok, no máximo, duas pequenas pedras. Qualquer merda acrescida que não seja isso, eu considero como um avançado estado de viadagem. Enquanto refletia sobre isso, mandei pra dentro mais um gole.

O telefone começou a tocar. Em pensamento, senti que meu corpo levantava e ia até lá atendê-lo. Quando voltei à realidade, vi que não havia movido um fio sequer do meu ridículo bigode estilo cobrador de ônibus da Empresa Borborema. Finalmente perceberam que eu não queria atender e pararam de insistir. Isso merecia mais um gole. Foi o que fiz.

Servi mais uma boa dose para mim. O calor continuava infernal. Por algum momento pensei em sair para dar uma volta e me refrescar. Novamente em pensamento, me vi levantando da cadeira, mandando para dentro a última dose de uísque, xingando alguém por não saber onde coloquei os cigarros, pegando alguma camisa surrada e saindo. Novamente isso só aconteceu no plano das ideias. Não movi um mísero pêlo dessa vez. Pelo contrário, aproveitei o momento para admirar ainda mais a lógica dos pecados capitais, entre os quais, me identifico com a preguiça e a luxúria. Preguiça sempre foi uma marca registrada em mim. Há dias em que dá preguiça até de viver. Trabalhar, comer, beber, sair, trepar... essas coisas cansam um homem. E luxúria. Ah, a luxúria. Se eu tivesse nascido com dois paus, iriam ter que inventar um novo nome para esse pecado.

O telefone tocou de novo. Dessa vez, me levantei de verdade e fui em direção a ele. Não porque eu queria realmente atender essa merda, mas, porque iria aproveitar para pegar mais uísque. No fim das contas, uma coisa acaba levando a outra.

-Alô?

-Chinaski, querido! Quanto tempo?!

Do outro lado do telefone, eu podia ouvir uma voz feminina e sexy. Instintivamente, fiquei de pau duro.

-Quem é?

-Ah, seu safadinho, não se lembra mais da minha voz? Aposto que se fosse meu clitóris falando, você saberia na hora quem é.

- Há muito tempo não ouço a voz de um clitóris, mas a ideia me agrada muito.

-Sim, sei. Sou eu, Anny.

-Oouuuu... Olá, Anny! Como vai?

- Bem, Chinaski. Só que estou precisando de um favor seu.

-Manda lá, baby!

-Preciso que você escreva um ensaio para mim.

-Sobre o que?

-Machado de Assis e o sadismo.

-Puta que pariu, Anny. Eu nem sabia que Machado de Assis era sádico.

-É, eu também não. Quer dizer, sempre desconfiei um pouco por conta de seus livros. Dom Casmurro, A desejada das gentes, Memorial de Aires, Memórias Póstumas, enfim, o cara é mais louco do que pensei.

-E pra que isso, Anny?

-É para faculdade. Meu professor viu uma reportagem num jornal de literatura e quer saber nossa opinião a respeito disso.

-Escuta, baby, não sei se posso fazer isso.

-Por que não?

-Por que não tenho a menor intimidade com Machado de Assis. Quer dizer, com o sadismo ainda vai, já que ando lado a lado com ele, por falta de escolha. Mas com Machado, não.

-Escuta, Chinaski. De repente, senti que estou molhada.

-...

-Sabe o que isso quer dizer?

-Que você levou a sério a história do sadismo e está se masturbando com um consolo de 32 centímetros enquanto fala comigo.

-Não, seu belo filho da puta. Isso quer dizer que eu quero a porra do meu artigo. Chegue aqui em casa às 19 horas que irei te pagar dobrado e adiantado. Tu Tu Tu...

Desligou.

Anny realmente sabia como convencer um homem. Esse convite para casa dela me trazia boas sensações. Ela era conhecida como boca de veludo e tinha a melhor chupada de toda redondeza. Dava gosto de se ver. Sua língua era nervosa e sua garganta era um poço profundo. Uma vez ouvi uma história que dizia que ela colocou 25 centímetros de pica na boca sem fazer o menor esforço. E o pior de tudo é que o sortudo no qual ela fazia o boquete, disse que se assustou quando sentiu seu pau se chocar com alguma coisa parecida com um coração.

Antes da ligação de Anny, fazia dois dias que eu bebia e fumava sem parar. Na verdade, parei para dormir. E cagar. Nesse intervalo, não lembro se havia tomado algum banho. Provavelmente não, pois sentia que eu estava fedendo como um gambá assustado. Era possível sentir meu cheiro nada agradável estando a vários quilômetros de distância. Percebi que até os urubus mantinham uma distância segura de mim. Era preciso urgentemente reverter esse fétido quadro.

Me dirigi ao banheiro pensando no estranho tema do ensaio de Anny. “Machado de Assis e o sadismo”. Há anos que eu não lia nada desse autor. Pra falar a verdade, não lembrava porra nenhuma dele, apenas daqueles nerds que no meu tempo de faculdade ficavam discutindo toda tensão psicológica, toda ironia, toda crítica social, jogo de palavras e outras baboseiras a respeito de sua obra. A única coisa que eu discutia naquele tempo era em que bar iríamos encher a cara e quem iríamos comer depois que aquela longa e tediosa aula acabasse.

Abri o chuveiro e lavei o corpo como quem lava um chiqueiro. Por um momento, senti que meu corpo estava tão sujo que nem minha alma estava mais agüentando permanecer nele. Deus, como alguém pode se esquecer de tomar banho, se a todo momento a inhaca que se concentrava debaixo dos meus braços era suficiente para me lembrar que eu ainda estava vivo? Ou melhor. Que talvez estivesse morto e era só questão de tempo para alguém se lembrar de me enterrar. Depois desse filosófico exame de consciência, entendi o porquê de as pessoas não se aproximarem muito de mim e até passei a aceitar com mais naturalidade minha solidão.

Saí de casa por volta das 17:42 e peguei o primeiro ônibus que vi. Era quase a hora do rush e todas as pessoas da cidade decidiram que também deveriam pegar exatamente aquele ônibus. Por um momento pensei que só havia aquele circulando em todo o país. Quando entrei, vi que estava escrito que sua capacidade era de 40 passageiros sentados e 30 em pé. Deveria ter por ali uns 80 passageiros fingindo estar sentados e outros 150, se chutando, se empurrando, se amaldiçoando e tentando ficar em pé. Nem o colo do cobrador foi poupado.

Por sorte, desci do ônibus ainda vivo e pelo menos inteiro. Antes de me encontrar com Anny, resolvi passar num desses mercadinhos de bairro, que sempre tem bebida em conta. Comprei dois vinhos Casillero del Diablo e um pouco de salame. Estava começando a ficar disposto para escrever o artigo.

A casa de Anny, apesar de um pouco distante da minha, era bem localizada e perto de tudo. Perto de bares baratos, motéis em promoção e alguns puteiros interessantes. E caso você se sentisse entediado, poderia comprar um pouco de erva e fumar a beira de um laguinho que passava por trás da casa dela. Como eu gostava daquele lugar.

Cheguei à casa de Anny e toquei a campainha.

-Quem é?

-Sou eu, Chinaski.

-Um momento, já estou indo.

-Ok.

Anny veio abrir a porta vestida para matar. Um vestidinho preto bem curto e decotado. Dava para ver tranquilamente o biquinho dos peitos querendo furar o vestido. Suas pernas brancas e lisas, denunciavam o que estava para acontecer ali. Seu rosto safado, com seus olhos castanhos, seus longos cabelos pretos e lisos, seu nariz afilado e sua maravilhosa boca de veludo, me faziam, involuntariamente, ter vontade de tocar minhas partes safadas.

-Chinaski, quanto tempo você vai ficar aí parado na porta até que seu pau deixe de ficar duro?

-Ah, desculpe, Anny.

Entrei.

A primeira coisa que fiz foi me dirigir até a cozinha para colocar os vinhos na geladeira. Abri e estava completamente abastecida de cerveja. Peguei duas, abri e voltei para sala.

Anny estava colocando alguma coisa do Muddy Waters pra tocar quando lhe alcancei sua cerveja. Brindamos. Demos um grande gole.

“-Escuta, baby”, eu disse, “que tal deixarmos de lado esse lance do Machado e partirmos só para o sadismo?”

“-Não fode, Chinaski”, ela disse. “A porra desse ensaio vale meu semestre”.

-Porra, Anny. Quem colocou na tua cabeça essa ideia?

-Já te disse, Chinaski. Meu professor quer esse trabalho sobre Machado e o sadismo. Lembre-se. Sem trabalho, sem buceta. Aliás, eu estava até pensando em liberar o cuzinho...

Filha da puta. Pensei. Esse era o golpe mais baixo que uma mulher poderia executar contra o homem. Liberar o cuzinho. Quando uma mulher quer uma coisa e coloca o cuzinho em jogo, significa que ela está muito desesperada. E eu não poderia perder uma oportunidade dessas. Nunca havia montado Anny no cuzinho. Mas, já que apareceu a chance, eu não iria desperdiçá-la.

-Anny, sua safada. Eu disse. Esse foi o golpe mais sujo que alguém já usou contra mim. Em todos esses anos de merda, nenhuma mulher me fez uma proposta tão tentadora. Você sabe muito bem que eu não tenho taras por cus. Mas esse seu, Anny... esse seu cu de vaca me faz chegar a um ponto que eu nunca pensei que chegaria: me vender por um cuzinho.

Estava iniciada a luta. Eu já havia escrito sobre a alma feminina, sobre o desespero humano, sobre putarias das mais diversas formas, sobre tudo que você imaginar no mundo. Mas, sobre Machado de Assis, seria a primeira vez. Desse modo, resolvi chamar o ensaio de A saga da vagina. Comecei assim:

Machado de Assis, escritor negro que viveu no tempo em que o Brasil ainda não tratava bem a sua gente. Não que atualmente faça isso. Só que, naquele tempo, era foda. Se você nascesse negro, já estava fudido. E negro e pobre, nem se fala. Embora hoje em dia não tenha mudado muita coisa. A maior parte das pessoas já nasce fudidas mesmo. E aquelas que têm a sorte de não nascer assim, tratam de fazer isso ao longo da vida. Voltemos ao Machado.

Senti que estava ficando bom, apesar dos palavrões.

Machado realmente foi um cara esplêndido. Pelo menos no que se propôs a fazer. Negro, pobre, fudido e sem muito estudo. Tratou logo de ser autodidata. Aprendeu desde cedo os atalhos da escrita. O que me deixa com bastante inveja. Naquele tempo, obviamente, não havia os recursos que tem hoje: muitas bibliotecas, revistas especializadas, internet... enfim... Atualmente as oportunidades de você ser um escritor bem sucedido são inúmeras. E muita gente fica por aí escrevendo merda. Escrevem duas ou três frases cheias de palavrões e se acham os verdadeiros escritores marginais. Falam da bebida, do cigarro, das prostitutas, mas, só bebem sminorff ice, não fumam nem pentelho e vivem por aí batendo punheta. Isso quando não estão dando a bunda. Machado de Assis não tinha acesso a metade das informações que temos hoje e escreveu várias obras que são como um divisor de águas na literatura brasileira. Isso sim é um belo filho da puta.

Nesse momento, Anny me traz outra cerveja. Ela vem me entregar só de lingerie.

-Como está ficando o artigo, meu amor?

-Está uma verdadeira tese de mestrado, meu anjo. Seu professor terá orgasmos sucessivos lendo esse artigo digno da New York Writers.

-Acho bom. Só por causa disso, lhe daria um adiantamento.

Ela baixou minha calça e começou a mamar como uma louca. Batia e mamava. Mamava e batia. Batia. Mamava. Mamava... até que engoliu tudo que saiu do meu pau. Era incrível. Não deixou sequer escorrer uma gota. Deu um sorriso sacana e se foi. Continuei a escrever o artigo.

A relação de Machado de Assis com o sadismo é uma coisa interessante de se observar. Pouca gente percebe que ele tem uma leve queda pelo que machuca, pelo que fere. Podemos observar em Dom Casmurro toda uma estrutura que leva a um desfecho no qual o leitor não pode afirmar com certeza se aquela cachorra da Capitu traiu ou não. O fato é que percebemos certo prazer em Bentinho ao conviver com a dúvida, denominada, nos dias atuais, como complexo de corno. E é justamente que mora aí o sadismo. O corno sente prazer não em ter plena certeza de que a mulher traiu. Mas, em conviver com a dúvida. É isso que faz um corno ser sádico: desconfiando ele de que sua mulher o trai, ele se pega imaginando as posições nas quais ela é enrabada pelo urso. Pior. Ele se pega imaginando se ela geme mais com o urso, se chupa melhor a rola dele, se pede para ele colocar no cuzinho, se deixa ele gozar na cara. Em Dom Casmurro, nós não tivemos essa riqueza de detalhes que estamos tendo aqui agora. Entretanto, numa análise mais profunda, esses detalhes viriam facilmente à tona. O que nos faz deduzir que ser corno já dava prazer desde aqueles tempos.

Passemos agora a Brás Cubas. Porra, Brás Cubas morre e vem meter o pau nos vivos. Vem falar mal de todo mundo, vem mostrar a fraqueza de todo mundo. Vem falar de suas próprias fraquezas. Só um sádico faria isso. Depois de morto, ficar remoendo seus defeitos. Numa escala de zero a dez no sadismo, podemos afirmar que essa atitude é uma nota nove. Ponto.

E para encerrar esse brilhante ensaio, que está me valendo o lindo cuzinho de sua aluna Anny, que por sinal o senhor professor já deve ter comido, falarei agora de Memorial de Aires. Sem dúvidas, essa é a melhor obra de Machado. Realmente é uma obra do caralho. Lembro que eu chorei como um filho da puta quando terminei de ler. O livro é sombrio do começo ao fim. Mas não um sombrio fantasmagórico. É daqueles que te faz sentir certo prazer com a tristeza. Você sente o autor mais maduro, mais cadenciado. Dá para sentir que cada situação ali foi moldada a partir do profundo pesar do autor no momento em que perdeu a sua esposa. Enquanto escrevo aqui, as lágrimas começam a visitar meu rosto. O casal que não pode ter filhos, D. Carmo, o próprio Aires... Machado nessa obra utiliza um saudosismo que se torna sádico justamente por machucar e dar prazer. É igual a comer um cu. Aquele que enfia machuca. Aquele que é enrabado, sofre, mas tem prazer.

- Finalmente acabei essa merda. Berrei ao mundo. –Anny, seu cuzinho não será perdoado.

Dizendo isso, comecei o que chamo de uma verdadeira saga da vagina. Aliás, do cuzinho mesmo. Anny estava na cozinha fazendo alguma coisa que nem me dei ao trabalho de tentar descobrir. Puxei sua calcinha e fui logo enterrando no cuzinho.

-Ai, ai, ai... no cuzinho não! No cuzinho não. Ela dizia.

-No cuzinho sim! No cuzinho sim!

Joguei-a no chão. Ela tentava se livrar, mas, na posição que estávamos, era questão de tempo para eu poder entrar.

-Ai, ai, ai... no cuzinho não! No cuzinho não. Dizia de novo.

-No cuzinho sim! No cuzinho sim. Eu berrava.

Até que alguém bateu na porta. Deveria ser um vizinho.

-Anny, está tudo bem? Perguntou a voz.

-Sim, está tudo ótimo. Pode ficar tranqüilo.

A safada aproveitou a distração para sair correndo pro quarto. Nem pensei duas vezes e fui atrás dela.

-Chinaski, eu não falava sério quando disse do cuzinho.

-Já disse, Anny. Ele não será perdoado. E parti pra cima.

Agarrei Anny, joguei na cama e meti na buceta. Como era quentinha. Como estava molhada. Como era bom estar ali. Bombei mais um pouco. Tirei o pau e mirei no cu.

-Ai, ai, ai... no cuzinho não! No cuzinho nããããããããão... no cuzinho sim!

Era bem estreito. Na verdade, era quase impenetrável. No momento em que colocava no cuzinho de Anny, eu refletia sobre aquilo tudo. Há pouco tempo, eu estava ali, falando sobre o sadismo, sobre o prazer em ter algum tipo de sofrimento e agora me vejo praticando isso. Anny se contorcia de dor, mas disse pra eu não tirar. Era perceptível que ela estava tendo o melhor orgasmo da sua vida. Ela mordia, gemia, uivava. Gozei dois litros e trezentos naquele cu apertado. Gozei por mim, por Machado, por todos os bêbados filhos da puta que praticam o sadismo todos os dias, jogados nas ruas sujas, gozei pelo cara do recife antigo, sem família, sem porra nenhuma, mas que sempre tenta recitar alguma coisa de Maiakovski, gozei pelas prostitutas, gozei por todos aqueles que, mesmo involuntariamente, se fodem todos os dias e conseguem encontrar algum prazer nisso.

No fim das contas, somos todos uns sádicos. Pensei. Agradeci a foda a Anny e voltei ao meu antro. Meu sujo, vagabundo, triste e sádico antro. Onde minha vida se proliferava. Talvez o sadismo não fosse tão ruim assim, afinal.

16 de novembro de 2011

O romântico apaixonado

Depois de uma olhada, digo, depois de uma boa vislumbrada em tudo que pairava ao meu redor. Sim, chegava numa conclusão: “Há algo de muito estranho, muito estranho acontecendo”. Pensei.

Para começo de conversa; o inferno aparentava estar congelado, o abismo não me encarava mais, o apocalipse não assustava, fazia cócegas. Não que o epicentro de acontecimentos estranhos estivesse nesse dia, mas algo relacionado a ele:

No dia em que eu recebi o encargo de escrever sobre o feminismo.

- Se o machismo mata, o feminismo tortura. – Disse meu chefe. – Faz algo nessa linha. - Completou.

- Mas isso vai irritar muita gente...

- É, eu sei, é pra irritar no mínimo. Uma polêmica aqui, outra polêmica ali, é bom pro jornal, pro site, pro blog, polêmicas fazem bem a democracia, não acha?

- Tudo bem, tudo bem... É pra ser agressivo?

- Bastante. – Respondera com fúria, meu chefe.

Havia algo de errado, porque era raro ter carta branca num assunto, geralmente ficávamos sempre vinculados a assuntos políticos, portanto, éramos restringidos pelos interesses do nosso patrocínio.

- E lembre-se; - advertiu meu chefe. – Ninguém vencerá a guerra dos sexos, afinal; há muita solidariedade entre os inimigos.

Ok, ao começar a digitar no Microsoft world. As palavras não vinham, então percebi que o problema não era o conteúdo, mas a forma dele.

Buscar inspiração era uma necessidade, e a melhor forma era uma envolvente conversa e muito sexo selvagem com o sexo oposto. Lá vamos nós:

Primeira foda


Marquei num bar safado, daqueles pega-bebum, pois era o que ela mais apreciava. Ela era uma daquelas historiadoras, super descolada. Acreditava na plena liberdade do ser humano, por bem dizer, pela liberdade sexual também. Conversa vai, conversa vem... depois de uma, duas, três, quatro, cinco, seis, cervejas, era o suficiente para um boquete num beco escuro:

Depois de um sexo clandestino, nas escuras, de um lugar perigoso. Caminhávamos no centro da cidade e ela sempre me dizendo:

- Você é romântico. Eu sempre soube disso; você é muito romântico.

- Como assim? – Perguntei abismado.

- É isso o que você ouviu, eu sempre soube que você era um cara pra ter compromisso, para namorar, um cara família, sabe?

- Mas por que você tá me dizendo isso? – Perguntei em alto e bom som porque era impossível fazer sentido; eu que estava solteiro há mais de três anos, acostumara-me bastante àquela vida, recheada de liberdade e em total desapego. Acostumara-me com os vazios existenciais da carência. Minha única ligação com as mulheres era o sexo selvagem com muitas e só.

- Você não consegue esconder isso, você é romântico pra caralho. – Eu sabia que ela não estava falando isso com a intenção em me prender e dizer para aproveitar meu romantismo com ela, pelo visto, o desabafo, as considerações sobre minha pessoa eram do fundo do coração.

Não respondi, não porque me faltasse resposta, mas porque não havia nada que eu pudesse provar o contrário, o que é na verdade medonho.

Voltei para casa, com a intenção de escrever algo após muita conversa sobre relacionamentos amorosos, machismo, feminismo e relações de ir e vir... O que a conversa tinha a intenção em ser esclarecedora. Deixou-me mais e mais confuso. Era isso, eu era romântico. Mesmo depois de ir a um botequo fodido e uma trepada num beco sem saída. Essa era a conclusão.

Segunda foda:



Ela era bailarina, requentada e muito! Daquele tipo de garota que vem de família tradicional e você consegue observar bem no semblante do seu rosto aquele ar de família aristocrática, de portugueses ricos que ocuparam esse país, passando de geração em geração.

Após um encontro em um restaurante chique pra caralho. Dei aquele velho golpe do: “eita, esqueci a carteira, poderia pagar a conta?”.

- Ok, eu posso pagar a conta, sim. – Falou-me rindo. – Mas...

Eu não esperava por “mas”, não esperava por “no entanto”, não esperava muito menos por “todavia.

- Mas você que vai pagar o motel. – Ela completou.

Após uma grande surpresa; essa era minha garota; uma dama aristocrática na mesa, e uma putona na cama. E era assim que ela gostava de ser chamada, de ser tratada. Gostava de penetrações fortes: “Vaiiiii, me come gostoso, vai mais forte, mais forte.”

Após xingá-la bastante. E em um breve intervalo, perguntei se ela tinha um cigarro:

- Você não fuma. – Ela me lembrara.

- É verdade. - Eu consenti.

- Porque você fica dando uma de machão, de ogro?

- Porque eu devo ser um, não? Eu me sinto bem quando alguma garota me chama assim. É meio que um elogio pra mim, sabe? – Respondi com a plena convicção.

E aquela cretina riu pra caralho, ria como quem se acabava de uma piada muito descontente e avassaladora. Até que resolvi perguntar:

- O que foi? Por que você tá rindo?

- Você aí, oh! Dando uma de Mcgyver depois de uma foda.

- Sim e daí...

- Você não vê? Você é sensível... você é diferente dos outros.

- Como assim diferente?

- Não é o que você fala, sabe... É como você fala. Daí dá pra ver que você era um daqueles ultraromânticos do século XIX. Você não consegue nem enganar a si mesmo.

Levantei-me da cama, com o pau semi-ereto, e fui pegar uma cerveja no frigobar. Após um grande gole e uma aliviada do tipo “ah, esse cerveja tá boa pra caralho”. Retornava a me repousar na casa coçando o saco, num grande bela homenagem ao espírito masculino. De macho mesmo, porra!

Ela continuava olhando para mim, com aquele ar de riso e bastante empenhada em dar outra risada daquelas. Até que nem eu mesmo agüentei e soltei um arroto e peidei na cama mesmo.

- Você é mesmo muito romântico. – Ela disse.

Terceira Foda.

Porra, depois de vários acontecimentos inesperados e perturbadores, comecei a fazer o que era um incômodo para todo ser vivo; perguntar sobre si mesmo. E realmente, não dava para entender de onde aquelas piranhas tiravam tais idéias... Onde já se viu, eu, um ser do puro romantismo.

Antes mesmo de pedir a terceira cerveja; os meus amigos chegaram no bar e me acompanharam; conversa vai, conversa vem; e então resolvo contar a grande intriga.

- Mermão, vocês não sabem... têm umas doida aí que me acham romântico pra caralho... Puta que pario, né foda?

O mais assustador é que os dois se entreolharam e começaram a rir.

- Porra, bicho, desde que você terminou a porra daquele namoro (se referindo a um relacionamento quando eu ainda era adolescente), nunca mais as doidas foram as mesmas. E é assim mesmo, não dá pra se contentar com pouco, o lance é comer mais vadias possíveis, porque daqui a pouco chega a época, e você vai ter que rezar e casar.

- Porra.... – Completou o outro. Já imaginou, bicho? Tu lá, casado, sem ao menos ter metido com duas garotas ao mesmo tempo... isso é triste, isso é triste. – Dando um gole na cerveja.

- Bicho, a questão não é essa de antigo relacionamento. – Comecei a desabafar. – A questão é que... eu vivo num vazio existencial do caralho. A diferença é que eu aceito isso e admito pra mim mesmo. As pessoas possuem outra, ou gostam da idéia de que possuem alguém, simplesmente para agüentar esse vazio. O fato é que preencher esse vazio se torna viciante e pra mim foi ao contrário... pra mim, o viciante é deixar o vazio aberto. É como levar um tiro no peito, entende... e não querer que se cure a ferida.

- Viu, viu isso? – Disse um dos meus amigos. – Você ainda está traumatizado. É isso que acontece quando a gente se dá demais para uma pessoa. E você lembra, né?

- É... você não terminou com ela, nem ela terminou com você porque deixaram de gostar um do outro... simplesmente acabou porque teve que terminar, as circunstâncias pediam aquilo. É como aquele filme; CLOSER – tem uma frase legal; dizia que amar não era o bastante.

Depois de um longo silêncio na mesa... veio-me uma idéia:

- É, talvez seja trauma ou sei lá o que. Fico sempre me perguntando, qual seria o pior palavrão que você pode dizer para uma pessoa. Qual seria, bicho? – Joguei a polêmica na mesa:

- Tá com o cuzinho dando bote? – Arriscou-se um dos meus amigos.

- Fecha o cu pra falar comigo? – tentou o outro.

- Porra, vocês tão se fuleragem comigo, véi.

- Vai, fala, porra.

- É, É, fala, carai. – Insistiram ambos.

Após um longo gole e um bom silêncio, eu disse:

- Porra, sinceramente, véi. Acho que, o maior palavrão que alguém pode dizer ou... a maior ofensa que alguém pode praticar é quando alguém diz: “eu te amo”. Bicho, você tem idéia do que essa frase pode fazer com a vida da pessoa? Eu vejo os filmes de comédia românticas hollywoodianas, caralho, bicho. Esses filmes são muito agressivos. As pessoas que falam mais em felicidade são as mais fudidas. As pessoas que mais postam no facebook como está seu estado de espírito, que querem provar para o mundo, forçadamente, insistentemente que estão bem, maravilhosas, que são felizes e auto-suficiente. Porra, são essas pessoas que tão fudida, tão na merda, velho. Pessoas que dizem “eu te amo”, são agressivas pra caralho.

- O que tem essas pessoas? – Perguntou um dos amigos.

- Quero distância delas, velho. – Respondi. – Pessoas que dizem que te amo esporadicamente, bicho, parece uma heresia. Você vê em novelas, você vê em romances... é porque no mínimo, pode-se concluir que essas pessoas nunca souberam que porra era amor, ou significado em ficar apaixonado. Pessoas que nunca viram estrelas no espelho.

- Estrelas no espelho? – Perguntou um deles.

- Deixa pra lá. – Disse o outro amigo. – Bicho, bebe, bebe, tais precisando beber, bebe aí.

Antes mesmo que alguém perguntasse porque tanta revolta acabei o copo e fui ao banheiro; há quem dissesse que tinha ido não somente para mijar, mas sobretudo para esconder a lágrima que havia nos meus olhos. Acredite em mim; porque eu realmente falo a verdade; não havia lágrima nos meus olhos, porque ao invés de um beijo, ou um chiclete de menta, tudo que restava era a sombra do sorrisso que eu deixara para um tempo que era ficto demais para se ter certeza se existiu ou não.

Saindo do banheiro, a garçonete me perguntou:

- Você fala bem.

- A n ?

- Eu ouvi o que vocês estavam conversando... não pude resistir, gostei do que você disse.

- Ah, certo, certo. – Fui pego de surpresa.

Retornara para a mesa do bar, e lá; havia descontração total; Até que um dos meus amigos, após retornar do banheiro, disse:

- Ei, bicho; aquela doida ali (referindo-se a garçonete), te chamou de Romeu!

Risadas na mesa.

- E ainda perguntou – continuou meu amigo – se tu tinha namorada.

- E aí? eu perguntei animado.

- Eu disse que não, né, porra? Só tu mesmo pra ter namorada... Ela quer o teu número.

Para quem já é veterano em guerra, sabe que é muito fácil fazer acontecer as coisas, até chegar ao motel. Esperei o final do expediente, para que finalmente pudesse pegá-la e fomos ao motel.

Devido a conversa constrangedora e promissora que eu tive com meus amigos, acho que algo em mim estava um pouco fora do lugar. Talvez um pouco do lado esquerdo. Era como estar em dormindo numa rede, dentro de um barco embriagado.

Para tal efeito, eu meti nela, naquela garota desconhecida em que mal consigo lembrar o nome.

Meti com tanta força... com tanta agressividade. Reparei e concentrei tudo que havia de mais selvagem em mim e copulava, como se fosse explodir uma fábrica de explosivos, mas a explosão não vinha.

Metia forte, metia impiedosamente, enquanto ela pedia para que a chamasse puta: eu metia com todo meu vigor, todo meu ímpeto sexual estava lá carregado, acumulado. Metia com força para esquecer de todo o romantismo que um dia me acusaram.

Metia em várias posições e sempre com aquele ar agressivo. E ela gostava; fazia as mais indecentes promessas, praticava todo o tipo de sexo anal, vaginal, oral... meti tanto, que pude sentir o ácido lático nos meus músculos. E o orgasmo não veio.

No começo ela pedia baixinho: “goza pra mim, goza em mim”.

Depois; ela pedia com força: “vai, goza, goza...”

Na terceira vez, ela não mais pedia mais implorava: “vai, vai, vai... goza, não to mais agüentando.”. E de fato não gozei. Respeitei os limites do meu corpo, para que pudesse um respirar um pouco. Enquanto a garçonete que dividia a cama comigo e tomava o mesmo ar que eu... Pensei em abismos, pensei em infernos congelados. Pensei em finalidades, e misturei com falta de obejtos e objetivos. Para cessar o silêncio, ela disse:

- Você é muito diferente, diferente de todos.

Antes mesmo que eu pudesse perguntar: o que ela quis dizer com aquilo; ela sentenciou;

- Você é apaixonado...dá pra ver nos seus olhos que você é diferente de todos, muito muito... você acredita no amor.




Quando não sentimos mais medo do apocalipse, parece que o mundo acaba.