20 de março de 2012

Livro

Capítulo I

“Um rei me disse que quem deixa ir tem pra sempre. E me contou que só foi rei porque pensava assim, tão diferente. E eu, que andava assim tão Zé, deixei que tudo fosse e decidi olhar pra frente, mas não vi nada...”

Foi a partir do trecho dessa música que eu resolvi que seria escritor. Aliás, mentira. Eu sempre quis ser um, desde muito pequeno mesmo, só que nunca tive coragem de escrever uma linha sequer. Sempre achei que escrever é se expor. Nunca estive pronto para correr riscos. Talvez nunca esteja, vai saber. Dizem que os covardes vivem mais. Contudo, é difícil entender o que acontece com a maioria das pessoas que escrevem. Elas simplesmente detestam suas criações. Comigo não era diferente. Eu não só detestava tudo aquilo que escrevia, bem como me sentia absolutamente impotente se lesse algum trabalho melhor do que o meu. Dava um arrepio no ânus saber que alguém tinha mais intimidade com as palavras do que eu. Há essa competição estranha entre os que se dizem escritores. Na verdade, nenhum escritor gosta de outro. Talvez seja inveja. O que os filhos da puta fazem é estampar um sorriso no rosto fingindo se tolerar ou mantendo certa diplomacia. No fundo, o verdadeiro desejo deles é que o trabalho do outro seja tão bom quanto o que é solto todo dia no vaso sanitário.

Agora que eu comecei a escrever isso, preciso fazer algumas considerações. Isto aqui não passa de um monte de memórias sujas. De coração, tenho plena certeza de que você irá detestá-lo. Eu nem o escrevi e já detesto tanto quanto ou mais do que você. Talvez você reconheça em meu estilo várias imitações explícitas de grandes autores. Ou de autores menores. Me mostre um filho da puta que nunca imitou o estilo de ninguém e eu encho esse cretino de porrada. Até ele aprender que literatura nunca foi sinônimo de originalidade.

Eu poderia começar isso aqui pela infância. Não o farei porque nada de interessante aconteceu nessa época. Sério, simplesmente nada. Até os meus dez anos eu era um menino feio, fedorento, esfarrapado e punheteiro. Não que agora eu tenha ficado bonito ou cheiroso ou algo do tipo. De modo nenhum. Continuo feio. Não sou mais fedorento porque adquiri o hábito de tomar banho todos os dias. Ou quase todos. Não sou esfarrapado, mas minhas roupas são horríveis e continuo me vestindo muito mal. E a mania da punheta creio que vá comigo para o caixão. Um homem dotado de duas bolas não consegue passar mais de vinte e quatro horas sem tocar no pau. Deve ser questão de humanidade isso.

A minha adolescência, sim, foi recheada de fatos marcantes. De tão marcantes, me transformaram nisso que sou hoje. Um homem amargurado e solitário. Pelo menos é o que as pessoas dizem. Lembro-me que tudo começou quando eu tinha quatorze anos. Eu não sei bem como explicar com riqueza de detalhes o fato ocorrido. Eu estava na casa do meu tio e minha prima me chamou para assistir umas merdinhas de programas que eram até engraçados na época. Me faziam soltar 25 centavos de sorriso. Eram bem bobos mesmo. Minha prima era feia que doía. Deus nunca me abençoou com primas bonitas. Essa em especial, era mais homem do que eu. Não que precisasse muito esforço para isso. A danada era alta, meio branquela, tinha o cabelo de pixaim e as costas largas. A mulher era feia demais. Mas nesse dia em especial, aconteceu uma coisa estranha:

-Vou ao banheiro – disse ela.

-Tudo bem – eu disse.

Ouvi o som da torneira sendo aberta. Não tive muita certeza, mas parecia que ela escovava os dentes. Depois foi algo como um gargarejo. Passado isso, ela voltou.

-Você sabe o que é boquete? – perguntou ela.

-Nunca ouvi falar – eu disse. Isso se bebe como?

-Não é para beber, seu bobo. É para chupar.

-Tem alguns pra gente experimentar aí? – Perguntei.

-Nessa idade e você nunca recebeu um boquete? O que é um boquete?

E começou a passar a mão no meu inocente carcará. Não sei bem o que eu estava sentindo na hora. Era um misto de vergonha, de prazer e de indignação. Durante esse tempo todo, eu era a única pessoa que havia pego no meu pênis. De repente aquele monstro das cavernas passa a mão em mim do nada. E se ela arrancasse? Fiquei assustado pra caralho. Também não consegui mandá-la parar. A safada foi alisando e vendo a minha reação. Quando teve certeza de que eu não mais impediria aquela profanação na minha pitoca, ela abriu o meu zíper, abaixou minha cueca e colocou pra fora. Se apresentou diante dela uma das coisas mais perfeitas da natureza: meu pênis duro. A rapariga ainda olhou com desdém, deu um sorrisinho e murmurou algo do tipo: “-É, deve servir”. Depois disso caiu de boca e eu sinceramente não me recordo a ordem dos fatos. Só sei que aquele lance do boquete era uma coisa deliciosa. Meu pênis não conhecia outras mãos que não as minhas. Ao ser envolvido por mãos e boca estranhas, de súbito, ele começou a latejar até que eu senti um formigamento nas pernas e gozei. Então aquilo era boquete? Não tive nem tempo para refletir quando meu tio entrou no quarto. Me viu com o pau pra fora, viu a boca da filha suja, viu que os lençóis também estavam sujos. Não deu outra. Começou a xingar e antes mesmo de ele tentar descer a porrada em mim, eu já estava na rua, correndo com o pau pra fora balançando. E essa foi minha primeira experiência marcante na adolescência. Um boquete feito por uma mulher mais homem do que eu.