17 de dezembro de 2011

O julgamento do meu amigo

Um dia, presenciei meu amigo dizendo uma das melhores frases de efeito: “O que importa é que eu não me importo.”. Independente do sentido, ou do contexto, das circunstâncias que foi dita tal frase; desejo ter a potência em carregá-la durante toda minha vida.
Talvez você conheça meu amigo, sim, você no mínimo já ouviu falar.E se está lendo isso tudo aqui, é porque deve ter grandes chances em presumir quem o seja.
Muitas garotas, inconformadas não com ele, mas com o que ele representa: a natureza masculina no seu melhor signo: um verdadeiro ogro – selvagem, grosso, animal, insensível – no final das contas. Essa é a imagem que ele tem. Correção; essa é a imagem que você faz dele. E não é por menos...
Lembro do quanto ele escreve, vive, respira, bebe, fuma... esse seu estilo de vida tão displicente com as mulheres – com sua aparente indiferença. Ele sempre me pergunta revoltado: “o que é um boquete?”. Ele acha a coisa mais simples do mundo uma relação sexual, e que todos devem ter a maturidade para sofrer as conseqüências de uma boa trepada.
Esse meu amigo não é burocrático; na verdade ele é bem pragmático. Fala palavrões de alto e bom som, de forma mais direta possível – sem qualquer distinção ou frescura que se caiba.
É verdade; presenciei garotas com uma raiva imensa dele; não pelo que ele fez, mas pelo que ele deixou de fazer. Em alguns determinados momentos; ele dava tudo que uma garota deseja: compreensão – não só em ouvir mas em opinar. Segurança – sem er firme nas suas atitudes. E o principal; dava de presente a essas infelizes virgens-loucas; uma excelente trepada. O que é o suficiente para uma garota se apaixonar.
Esse meu amigo tem uma absoluta propriedade em sexo, tanto na teoria, quanto na prática. Ele sabe fazer as coisas, sabe sentir o timing do momento. Sabe a hora de agir – de atacar e de recuar. E antes mesmo que a garota ou até a “vítima”, sinta a incerteza sobre como agir; ele simplesmente atuará primeiro. É isso que um bom pegador faz.
Muitas são as acusações de que ele prometia o céu para as mulheres, e depois, não se prendia a ninguém; simplesmente se afastava o que as deixava decepcionadas. Muitas vezes era acusado de mentiroso por não cumprir tais promessas, ainda que essas mesmas promessas eram feitas tão somente vindas da interpretação das mulheres; ou seja, as virgens-loucas-obcecadas; o acusavam de traidor – como se ele tivesse se comprometido com algo. Ou o que é bem pior, muitas vezes é acusado de oportunista, um galanteador aproveitador como se diante daquela pouca experiência que elas tiveram, não tivessem obtido nada de bom naquilo tudo. Hipocrisia à parte.
As feministas afirmam com toda convicção que o machismo mata. Ele ri ao se deparar uma cena de defesa feminista; pois no final das contas é tudo farinha do mesmo saco; o machismo e o feminismo estão do mesmo lado da moeda, a questão é quem joga essa moeda, e qual lado a pessoa escolherá. “Se machismo mata...” – ele diz: “feminismo tortura”
Como um bom estrategista nas fodas; ele vê algo de muito sagrado no momento em que uma intimidade estar pra acontecer. Ao contrário do que elas dizem; ele respeita muito as mulheres, porque é praticamente um grande ritual adentrar numa vagina e tratá-la como um templo.
Ele deve ser culpado por amar sua própria natureza?
Diante de várias polêmicas, eis o comportamento face a ele: ou você o odeia, ou você o ama.
Provavelmente ele irá para o céu; não porque fez muita coisa boa, ou não foi egoísta, ou no final das contas, nunca quis fazer mal a ninguém. Eu tenho certeza de uma coisa, ele vai por céu, não por outras boas prerrogativas que fazem parte da natureza dele; mas ele vai por céu, tão somente porque ELE FALA A VERDADE.
Será que ele tem de pedir desculpas por dar a algumas mulheres infelizes a certeza de que elas podem ser bem mais felizes;ou a certeza de que estão conformadas com tão pouco. Deve, esse meu amigo, pedir desculpas? Pedir perdão?
Diante de todo o charme e sedução, eis então um cavaleiro medieval pós-moderno, com estratégias e técnicas em como deixar uma garota segura; “Deve permitir- que ela se permita”, ele sempre me ensina.
Mas nem sempre foi assim... diante de tanto ódio, incompreensão e até julgamento contra ele; as pessoas que praticam essa impressão só conseguem enxergar o quadro;e não a moldura.
Para aquelas pessoas que o desmitificam, para aquelas garotas que duvidam de forma absoluta sobre sua SENSIBILIDADE; eu lhe direi o que é sensibilidade.
Há talvez, uns 8,9 anos. Ele amou. Sim, e amou de verdade. Amou pra valer uma garota, a ponto de tocar na loucura.
É uma história de amor belíssima, da qual nem mesmo eu tenho permissão para contá-la:
Lembro do dia em que liguei para ele:
- Tais fazendo o que, carai?
- Porra, to na praia, véi.
- Ah, massa, to indo praí.
- Não, não, não... eu já to voltando.
- ah, beleza, então...
Após algumas horas, falo com a amada dele e ela me surpreende com uma afirmativa: “Will fez uma serenata pra mim hoje.”:
- Cá cá porra!, sério? Foi de que horas isso? – Perguntei abismado.
- Umas quatro horas.... por aí. – A sua amada me respondeu.
- Mas eu liguei pra ele, pô, e ele tava na praia.
-Ah, foi... – Ela riu. – É que ele vem aqui pra casa de bicicleta.
- Como? Ele foi de Bike? – Perguntei sem mal acreditar
- Sim...
- E ele levou o violão, andando de Bike?
- Sim. – Falou ela, rindo bem orgulhosa do seu amor.
- Porra, ele foi de Boa viagem até Candeias de bike segurando a porra de um violão?
- Sim...
Esse é meu amigo, a parte que poucas pessoas conheceram dele; ele fazia poucos dos obstáculos, e ainda assim, sempre, mas sempre mesmo seguia em frente,o que ele queria realizar, nunca desanimava, sempre se concentrava em realizar seus sonhos. E aquele dia, eu vi o sacrifício que ele fez.
Não era o bastante, após um longo período, em um relacionamento plenamente conturbado – mas APAIXONADÍSSIMO. Um dia ele veio aqui em casa:
- Que porra é isso, bicho? – Perguntei a ele.
- Eu tinha te falado, esqueceu?
- De quê? – Estava olhando para tinta e cal que ele havia conseguido.
- Eu vou fazer uma surpresa pra ela, será que ela vai gostar?
E daí tudo me viera a mente: ele havia me dito que estava a preparar uma surpresa para sua amada, iria colocar em plena rua, na verdade avenida: - “eu te amo”. No meio da madrugada, e claro, ele havia me convidado para ser cúmplice e participe de sua arte-manha.
Teria sido uma grande surpresa se não tivesse chovido tanto aquela época.
Eu lembro deles, sabe, era de fato um casal apaixonado. Eles se amavam bastante. E é daquele relacionamentos que você se pergunta:”Mas, peraí... o que deu errado finalmente.”. Porque todo mundo já sabe, ou soube; eles nunca haviam terminado por causa da ausência de sentimentos, haviam terminado pelo excesso deles na verdade.
“A gravidade te trouxe e o tempo me afastou de ti”.
Depois de inúmeras brigas irracionais; ambos saíram muito feridos do fim. Um dia, quando eu estava num restaurante ele me ligava pedindo para socorrê-lo. Após uma imensa discussão com ela, finalmente ele havia terminado até de uma forma trágica; com muita raiva. E finalmente ele me disse:
- Tá vendo isso aqui, velho? – Apontando para as alianças.
- Sim, sim.
- Por favor, bicho. Não me deixe dar a ela novamente, por favor. Fica contigo. – E eu me emocionei bastante pela confiança que ele havia me dado.
Depois de um grande período na sombra, tentando compreender o que de fato acontecera... ele se recompôs com muita classe, começou a viver, a viajar, a explorar tudo que há na natureza selvagem. E aprimorou toda a sua sedução diante das mulheres acreditando que sexo deve ser sagrado, mantido e sem frescura a todos – sem distinção.
É claro que você o julga. Ou no mínimo, você já o julgou. É claro que você o utiliza como um péssimo exemplo, ainda que você saiba que ele sempre diz a verdade.
Mas uma coisa eu vou te dizer; o que importa é que ele não se importa. Ademais, posso te garantir, da mesma forma como você o julga. ELE NUNCA IRÁ TE JULGAR, seja em qualquer circunstâncias ou contextos; ele não te julgará por respeito a sua, a dele e a nossa humanidade – não só por já ter se metido em muita enrascada, mas porque ele mais do que ninguém reconhece que somos passivos de todo tipo de abismo, que a derrota ou a queda é imprescindível para o crescimento.
Você o julga de insensível. Mas na verdade, o que ele teve na vida, a forma como ele amou, foi mais do que o suficiente para amar pela vida toda ao invés de se esconder em relacionamentos vazios.
Todo sopro de romantismo, toda forma de se apaixonar fatalmente, ele sentiu uma única vez e a encarou como qualquer poucos mortais ousariam.
É preciso saber cultivar nosso “pântano” interno, aquela parte da sua essência condenável, em que o que há de pior em você lhe resta. Ele sabe fazer muito bem
Eu tenho muito orgulho de toda parte podre desse meu amigo.
Na verdade eu admiro muito esse meu amigo.

28 de novembro de 2011

De sensibilidade, xoxotas e Caio Fernando Abreu

Eu não me lembro muito bem. Só sei que eu precisava trepar. Há algum tempo eu não escrevia nada. Não bebia nada. Não fumava nada. E também não trepava. Não me lembro de quando entrei naquela vida monástica, mas isso precisava mudar. E era hoje.

Liguei para Sarah.

-Alô, Sarah? Eu disse.

-Quem é? Ela perguntou.

Tive uma ereção.

-É Chinaski, meu amor. Tudo bem?

-Oi, Chinaski? Como estão as coisas?

-Bem. Te liguei porque queria te convidar para assistir um filme aqui em casa.

-Filme? Que filme? E desde quando tu gostas de filmes?

-É um novo, francês. Até comprei uns vinhos para gente beber enquanto assiste.

-Olha, tem que ser agora?

-Não. Pode ser à noite. Às 21, fica bom?

-Combinado.

Desligamos.

Sarah era uma antiga namorada minha. Sempre que eu estava num período fodido com as mulheres, sem ninguém pra comer, ligava para ela. Era uma foda agradável e não muito difícil. Era meio que uma válvula de escape.

Eu detestava filmes. Principalmente os franceses. Sempre aquela coisa repetitiva da Belle époque, mostrando Paris, o Arco do Triunfo e outras merdas mais. Um verdadeiro saco.

Porém, uma coisa é certa: convidar uma garota para assistir filmes em sua casa, regado a vinho, é uma forma bastante sensível de dizer que você está muito a fim de foder. E o vinho ajuda a garota a perceber que ela também está. Dessa forma, era só esperar a hora.

Minha casa estava uma verdadeira zona. Livros jogados, pratos sujos, chão empoeirado, banheiro cagado, cama desarrumada. Nem parecia que um grande escritor vivia ali. Eu, o grande Chinaski, vivendo num verdadeiro chiqueiro. Fiquei tão orgulhoso daquela situação que nem tive coragem de mexer em nada. Poucas pessoas sabiam como manter um chiqueiro em ordem. Eu era uma delas.

Acendi um cigarro e resolvi ir à Budega do Rafa tomar uma cerveja. Fazia um calor dos infernos. Os termômetros marcavam 35 graus. A temperatura dos meus testículos girava em torno dos 50. Era o aquecimento global começando dentro de minha cueca.

-Rafa, grande “hombre”, me vê uma cu de foca. Pedi.

-Na hora, “hombre”. Um cu de foca pra meu escritor maldito preferido que não escreve porra nenhuma.

-É assim que se fala, Rafa.

Tomei na garrafa mesmo. Como era bom. Como era gelada. Como descia maravilhosa. A solução dos problemas da humanidade era a cerveja cu de foca do Rafa. Pedi mais uma para celebrar.

Nesse momento, chega uma loira, de mais ou menos um metro e oitenta, coisa linda de se olhar. O bar todo para babando por aquela beldade. Não preciso dizer que tive uma ereção instantaneamente. Ela rebolava aquele rabo como se tivesse pisando em nuvens. Seus peitos, obedientes, acompanhavam o ritmo dos seus passos. Iam para cima e para baixo. Para cima e para baixo. Para cima e para baixo... De tão hipnotizado que eu estava, nem percebi que ela se dirigia a mim.

-Sr. Chinaski? Perguntou ela.

-Seu servo e escravo sexual. Eu disse prontamente.

-hahaha. Como o Sr é prestativo. O oposto do que imaginei.

-isso porque você ainda não me viu usando a língua.

-É mesmo? Pois fiquei sabendo que o Sr. Não coloca a língua.

-É que eu economizo para as partes especiais...

-Vim falar com o Sr a respeito dos seus contos.

-Podemos deixar as formalidade de lado. Eu disse.

-Pois bem, Chinaski. Há um interesse em te publicarmos.

Dei um gole profundo na cerveja e pedi ao Rafa um copo. Servi a gostosa.

-Publicar? Mas eu nunca mandei material para ninguém!

-Chegou em nossa caixa de email alguns contos seus. Bem interessantes por sinal. Apesar de não fazer a linha de nossa editora, por serem escrachados demais, iremos apostar em escritores malditos.

-Baby, você acha que eu tenho cara de escritor maldito? E dei um gole na cerveja.

-Na verdade, o Sr tem cara de bicha.

-Quem enviou os contos? Perguntei.

-Não sabemos. Não tinha assinatura no email.

-Qual era o título dos contos?

-A saga da Vagina 2, A puta da Domingos Ferreira e um lá em que o Sr parece se declarar para uma antiga namorada. Foi justamente esse que nos fez duvidar se era mesmo o Sr que tinha escrito os contos.

-Por quê?

-Muito lírico para o senhor.

-Você acha que eu sou uma máquina de foder e que não escrevo nada romântico?

-Na verdade, não acho muita coisa ainda. Acabei de o conhecer.

-Pois bem, você deve se referir ao da alma feminina. Muita gente vive dizendo pelos quatro quantos que sou um filho da puta bêbado, que não sabe amar.

-Se o Senhor souber amar tanto quanto sabe escrever sobre cus e vaginas e pênis, isso é um bom começo.

-Você duvida da minha capacidade de amar? O que você saber sobre o amor?

-O básico que toda mulher sabe. Que homem não presta, que não tem sentimento e que só quer nos levar pra cama. Depois disso, some. Por isso, como dizia um famoso escritor: "Eu comecei minha faxina. Tudo o que não serve mais (sentimentos, momentos, pessoas) eu coloquei dentro de uma caixa. E joguei fora. (Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade). A ordem é desocupar lugares. Filtrar emoções."

-Você acha que amar é jogar na defensiva? Que amar é citar Caio Fernando Abreu?

-Sr Chinaski, se seus relacionamentos forem reflexos do que o Sr escreve, isso mostra que o Sr não passa de um desiludido.

-Desculpe, minha querida, mas eu não lembro de perguntar seu nome.

-Nina.

-Nina. Bom nome. Vou lembrar de chamar quando estiver colocando no seu rabinho e depois quando for gozar na sua cara.

-...

-Nina, você já chorou por alguém?

-Não precisei chegar a esse ponto.

-Você já se pegou vários anos pensando em apenas uma pessoa?

-Já. Mas eu tinha 10 anos. Era meu professor.

-Você já achou que o suicídio era a opção mais viável para tentar esquecer um amor que te deixou?

-Acho o suicídio uma forma de fraqueza...

-Então você nunca amou ninguém. Na verdade, você ainda não está pronta. Beba mais cerveja...

-Não entendi a relação.

-Faça o que eu digo. Apenas beba mais e mais cerveja. Há tempo ainda.

-O Sr está bêbado?

-Vocês, jogam na defensiva, vivem citando Caio Fernando Abreu, se escondem atrás de uma falsa indiferença, se fazem forte na frente dos outros, mas se sentem extremamente vazias e vem até aqui, perguntar se eu sei amar? Porra, Nina, isso merece uma foda.

-O Sr é igual aos seus personagens. Acha lindo chamar uma mulher diretamente para dar uma foda.

-Quer que eu mande flores?

-Sr Chinaski, posso fazer algumas observações sobre algumas impressões que tive sobre o Sr?

-Claro. Deixa só eu pedir mais cerveja.

-Pois bem. Eu já percebi toda a sua tática. E o que quero dizer é que o Sr é extremamente encantador. Mesmo sendo um filho da puta, o Sr consegue ser encantador. Sabe que as mulheres acham charmosos os escritores. Mais que isso. O Sr sabe como jogar com uma mulher. O Sr é imperturbável e não costuma se abalar com facilidade. É diferente dos outros homens que conheci. Eles costumam fazer concessões demais, costumam ter dúvidas demais, costumam ser polidos demais. Acham que certos assuntos não podem ser conversados com uma mulher. Tratam a mulher como uma dama vinte e quatro horas por dia. Esquecem que somos putas, que gostamos de ser desrespeitadas e invadidas. Que gostamos que nos confrontem e que batam na nossa cara. Que o maior prazer de uma mulher é ser rendida de todas as formas por um homem. O Sr é machista. Isso me deixa muito molhada. O Sr é firme, a ponto de ser grosso e estúpido. E transfere isso para seus textos. Não tem medo de falar firme com uma mulher e de a colocar no lugar dela. O Sr também é sensível, ao seu modo, claro. Isso o faz um homem de muitas camadas. Sabe o que isso significa, Sr Chinaski?

-Que eu te deixo profundamente excitada. Que você quer me levar para a cama e tentar me decifrar?

-Exatamente, seu bosta. Eu quero que você me trate como uma putinha dos seus contos.

-E a questão da publicação?

-Podemos ver isso mais tarde. Mas, por favor, me come!

-Hum... Não posso, baby.

-Por que não? Não gostou de mim? Virou veado?

-Você é linda. Na verdade, é tudo que eu sempre quis comer na vida. Mas, chega de mulheres complicadas, mal resolvidas e mal comidas na minha vida. Chega de ter de pagar pelo passado dos outros. É foda quando você passa um tempo comendo uma mulher e, mesmo ela sabendo que não sairá daquilo, começa a te responsabilizar pelo sofrimento dela e começa a encher o facebook dos outros com frases de Caio Fernando Abreu. Chega um tempo na vida de um escritor que ele percebe que a quantidade de vaginas não é tão importante quanto a qualidade. Chega um tempo em que a gente percebe que meter não é tudo. E que não adianta encher uma xoxota de porra e deixar a alma vazia. Enfim, baby, não posso fazer isso.

Levantei, deixei algum dinheiro no balcão do Rafa e fui andando. Alguém colocou It´s only Love, dos Beatles. A vida já parecia um pouco melhor. É apenas amor E isso é tudo Por que deveria me sentir Do jeito que sinto? É apenas amor E isso é tudo Mas é tão difícil... Amar você. Sim, é muito difícil... Amar você... Amar você.

Meu talento ainda não estava no fim. E eu perdi meu filme com Sarah.

20 de novembro de 2011

A saga da vagina 2

Era 2:42 da tarde. Fazia um calor dos infernos. O sol sacaneava a gente de tal forma que não era possível manter uma cerveja gelada por mais que cinco minutos. Sendo assim, contra-ataquei, partindo para os destilados.

Nada acontecia. Nenhuma confusão, nenhum amigo, nenhum emprego, nenhuma vagina, enfim, de novidade mesmo, só o aumento no preço das cervejas e dos cigarros. Era um absurdo o tamanho da ousadia.

Eu continuava mamando meu uísque puro, sem gelo. Nunca fui muito fã de cowboy, mas acho que a maneira menos afeminada de se tomar uísque, é puro e sem gelo. Ok, no máximo, duas pequenas pedras. Qualquer merda acrescida que não seja isso, eu considero como um avançado estado de viadagem. Enquanto refletia sobre isso, mandei pra dentro mais um gole.

O telefone começou a tocar. Em pensamento, senti que meu corpo levantava e ia até lá atendê-lo. Quando voltei à realidade, vi que não havia movido um fio sequer do meu ridículo bigode estilo cobrador de ônibus da Empresa Borborema. Finalmente perceberam que eu não queria atender e pararam de insistir. Isso merecia mais um gole. Foi o que fiz.

Servi mais uma boa dose para mim. O calor continuava infernal. Por algum momento pensei em sair para dar uma volta e me refrescar. Novamente em pensamento, me vi levantando da cadeira, mandando para dentro a última dose de uísque, xingando alguém por não saber onde coloquei os cigarros, pegando alguma camisa surrada e saindo. Novamente isso só aconteceu no plano das ideias. Não movi um mísero pêlo dessa vez. Pelo contrário, aproveitei o momento para admirar ainda mais a lógica dos pecados capitais, entre os quais, me identifico com a preguiça e a luxúria. Preguiça sempre foi uma marca registrada em mim. Há dias em que dá preguiça até de viver. Trabalhar, comer, beber, sair, trepar... essas coisas cansam um homem. E luxúria. Ah, a luxúria. Se eu tivesse nascido com dois paus, iriam ter que inventar um novo nome para esse pecado.

O telefone tocou de novo. Dessa vez, me levantei de verdade e fui em direção a ele. Não porque eu queria realmente atender essa merda, mas, porque iria aproveitar para pegar mais uísque. No fim das contas, uma coisa acaba levando a outra.

-Alô?

-Chinaski, querido! Quanto tempo?!

Do outro lado do telefone, eu podia ouvir uma voz feminina e sexy. Instintivamente, fiquei de pau duro.

-Quem é?

-Ah, seu safadinho, não se lembra mais da minha voz? Aposto que se fosse meu clitóris falando, você saberia na hora quem é.

- Há muito tempo não ouço a voz de um clitóris, mas a ideia me agrada muito.

-Sim, sei. Sou eu, Anny.

-Oouuuu... Olá, Anny! Como vai?

- Bem, Chinaski. Só que estou precisando de um favor seu.

-Manda lá, baby!

-Preciso que você escreva um ensaio para mim.

-Sobre o que?

-Machado de Assis e o sadismo.

-Puta que pariu, Anny. Eu nem sabia que Machado de Assis era sádico.

-É, eu também não. Quer dizer, sempre desconfiei um pouco por conta de seus livros. Dom Casmurro, A desejada das gentes, Memorial de Aires, Memórias Póstumas, enfim, o cara é mais louco do que pensei.

-E pra que isso, Anny?

-É para faculdade. Meu professor viu uma reportagem num jornal de literatura e quer saber nossa opinião a respeito disso.

-Escuta, baby, não sei se posso fazer isso.

-Por que não?

-Por que não tenho a menor intimidade com Machado de Assis. Quer dizer, com o sadismo ainda vai, já que ando lado a lado com ele, por falta de escolha. Mas com Machado, não.

-Escuta, Chinaski. De repente, senti que estou molhada.

-...

-Sabe o que isso quer dizer?

-Que você levou a sério a história do sadismo e está se masturbando com um consolo de 32 centímetros enquanto fala comigo.

-Não, seu belo filho da puta. Isso quer dizer que eu quero a porra do meu artigo. Chegue aqui em casa às 19 horas que irei te pagar dobrado e adiantado. Tu Tu Tu...

Desligou.

Anny realmente sabia como convencer um homem. Esse convite para casa dela me trazia boas sensações. Ela era conhecida como boca de veludo e tinha a melhor chupada de toda redondeza. Dava gosto de se ver. Sua língua era nervosa e sua garganta era um poço profundo. Uma vez ouvi uma história que dizia que ela colocou 25 centímetros de pica na boca sem fazer o menor esforço. E o pior de tudo é que o sortudo no qual ela fazia o boquete, disse que se assustou quando sentiu seu pau se chocar com alguma coisa parecida com um coração.

Antes da ligação de Anny, fazia dois dias que eu bebia e fumava sem parar. Na verdade, parei para dormir. E cagar. Nesse intervalo, não lembro se havia tomado algum banho. Provavelmente não, pois sentia que eu estava fedendo como um gambá assustado. Era possível sentir meu cheiro nada agradável estando a vários quilômetros de distância. Percebi que até os urubus mantinham uma distância segura de mim. Era preciso urgentemente reverter esse fétido quadro.

Me dirigi ao banheiro pensando no estranho tema do ensaio de Anny. “Machado de Assis e o sadismo”. Há anos que eu não lia nada desse autor. Pra falar a verdade, não lembrava porra nenhuma dele, apenas daqueles nerds que no meu tempo de faculdade ficavam discutindo toda tensão psicológica, toda ironia, toda crítica social, jogo de palavras e outras baboseiras a respeito de sua obra. A única coisa que eu discutia naquele tempo era em que bar iríamos encher a cara e quem iríamos comer depois que aquela longa e tediosa aula acabasse.

Abri o chuveiro e lavei o corpo como quem lava um chiqueiro. Por um momento, senti que meu corpo estava tão sujo que nem minha alma estava mais agüentando permanecer nele. Deus, como alguém pode se esquecer de tomar banho, se a todo momento a inhaca que se concentrava debaixo dos meus braços era suficiente para me lembrar que eu ainda estava vivo? Ou melhor. Que talvez estivesse morto e era só questão de tempo para alguém se lembrar de me enterrar. Depois desse filosófico exame de consciência, entendi o porquê de as pessoas não se aproximarem muito de mim e até passei a aceitar com mais naturalidade minha solidão.

Saí de casa por volta das 17:42 e peguei o primeiro ônibus que vi. Era quase a hora do rush e todas as pessoas da cidade decidiram que também deveriam pegar exatamente aquele ônibus. Por um momento pensei que só havia aquele circulando em todo o país. Quando entrei, vi que estava escrito que sua capacidade era de 40 passageiros sentados e 30 em pé. Deveria ter por ali uns 80 passageiros fingindo estar sentados e outros 150, se chutando, se empurrando, se amaldiçoando e tentando ficar em pé. Nem o colo do cobrador foi poupado.

Por sorte, desci do ônibus ainda vivo e pelo menos inteiro. Antes de me encontrar com Anny, resolvi passar num desses mercadinhos de bairro, que sempre tem bebida em conta. Comprei dois vinhos Casillero del Diablo e um pouco de salame. Estava começando a ficar disposto para escrever o artigo.

A casa de Anny, apesar de um pouco distante da minha, era bem localizada e perto de tudo. Perto de bares baratos, motéis em promoção e alguns puteiros interessantes. E caso você se sentisse entediado, poderia comprar um pouco de erva e fumar a beira de um laguinho que passava por trás da casa dela. Como eu gostava daquele lugar.

Cheguei à casa de Anny e toquei a campainha.

-Quem é?

-Sou eu, Chinaski.

-Um momento, já estou indo.

-Ok.

Anny veio abrir a porta vestida para matar. Um vestidinho preto bem curto e decotado. Dava para ver tranquilamente o biquinho dos peitos querendo furar o vestido. Suas pernas brancas e lisas, denunciavam o que estava para acontecer ali. Seu rosto safado, com seus olhos castanhos, seus longos cabelos pretos e lisos, seu nariz afilado e sua maravilhosa boca de veludo, me faziam, involuntariamente, ter vontade de tocar minhas partes safadas.

-Chinaski, quanto tempo você vai ficar aí parado na porta até que seu pau deixe de ficar duro?

-Ah, desculpe, Anny.

Entrei.

A primeira coisa que fiz foi me dirigir até a cozinha para colocar os vinhos na geladeira. Abri e estava completamente abastecida de cerveja. Peguei duas, abri e voltei para sala.

Anny estava colocando alguma coisa do Muddy Waters pra tocar quando lhe alcancei sua cerveja. Brindamos. Demos um grande gole.

“-Escuta, baby”, eu disse, “que tal deixarmos de lado esse lance do Machado e partirmos só para o sadismo?”

“-Não fode, Chinaski”, ela disse. “A porra desse ensaio vale meu semestre”.

-Porra, Anny. Quem colocou na tua cabeça essa ideia?

-Já te disse, Chinaski. Meu professor quer esse trabalho sobre Machado e o sadismo. Lembre-se. Sem trabalho, sem buceta. Aliás, eu estava até pensando em liberar o cuzinho...

Filha da puta. Pensei. Esse era o golpe mais baixo que uma mulher poderia executar contra o homem. Liberar o cuzinho. Quando uma mulher quer uma coisa e coloca o cuzinho em jogo, significa que ela está muito desesperada. E eu não poderia perder uma oportunidade dessas. Nunca havia montado Anny no cuzinho. Mas, já que apareceu a chance, eu não iria desperdiçá-la.

-Anny, sua safada. Eu disse. Esse foi o golpe mais sujo que alguém já usou contra mim. Em todos esses anos de merda, nenhuma mulher me fez uma proposta tão tentadora. Você sabe muito bem que eu não tenho taras por cus. Mas esse seu, Anny... esse seu cu de vaca me faz chegar a um ponto que eu nunca pensei que chegaria: me vender por um cuzinho.

Estava iniciada a luta. Eu já havia escrito sobre a alma feminina, sobre o desespero humano, sobre putarias das mais diversas formas, sobre tudo que você imaginar no mundo. Mas, sobre Machado de Assis, seria a primeira vez. Desse modo, resolvi chamar o ensaio de A saga da vagina. Comecei assim:

Machado de Assis, escritor negro que viveu no tempo em que o Brasil ainda não tratava bem a sua gente. Não que atualmente faça isso. Só que, naquele tempo, era foda. Se você nascesse negro, já estava fudido. E negro e pobre, nem se fala. Embora hoje em dia não tenha mudado muita coisa. A maior parte das pessoas já nasce fudidas mesmo. E aquelas que têm a sorte de não nascer assim, tratam de fazer isso ao longo da vida. Voltemos ao Machado.

Senti que estava ficando bom, apesar dos palavrões.

Machado realmente foi um cara esplêndido. Pelo menos no que se propôs a fazer. Negro, pobre, fudido e sem muito estudo. Tratou logo de ser autodidata. Aprendeu desde cedo os atalhos da escrita. O que me deixa com bastante inveja. Naquele tempo, obviamente, não havia os recursos que tem hoje: muitas bibliotecas, revistas especializadas, internet... enfim... Atualmente as oportunidades de você ser um escritor bem sucedido são inúmeras. E muita gente fica por aí escrevendo merda. Escrevem duas ou três frases cheias de palavrões e se acham os verdadeiros escritores marginais. Falam da bebida, do cigarro, das prostitutas, mas, só bebem sminorff ice, não fumam nem pentelho e vivem por aí batendo punheta. Isso quando não estão dando a bunda. Machado de Assis não tinha acesso a metade das informações que temos hoje e escreveu várias obras que são como um divisor de águas na literatura brasileira. Isso sim é um belo filho da puta.

Nesse momento, Anny me traz outra cerveja. Ela vem me entregar só de lingerie.

-Como está ficando o artigo, meu amor?

-Está uma verdadeira tese de mestrado, meu anjo. Seu professor terá orgasmos sucessivos lendo esse artigo digno da New York Writers.

-Acho bom. Só por causa disso, lhe daria um adiantamento.

Ela baixou minha calça e começou a mamar como uma louca. Batia e mamava. Mamava e batia. Batia. Mamava. Mamava... até que engoliu tudo que saiu do meu pau. Era incrível. Não deixou sequer escorrer uma gota. Deu um sorriso sacana e se foi. Continuei a escrever o artigo.

A relação de Machado de Assis com o sadismo é uma coisa interessante de se observar. Pouca gente percebe que ele tem uma leve queda pelo que machuca, pelo que fere. Podemos observar em Dom Casmurro toda uma estrutura que leva a um desfecho no qual o leitor não pode afirmar com certeza se aquela cachorra da Capitu traiu ou não. O fato é que percebemos certo prazer em Bentinho ao conviver com a dúvida, denominada, nos dias atuais, como complexo de corno. E é justamente que mora aí o sadismo. O corno sente prazer não em ter plena certeza de que a mulher traiu. Mas, em conviver com a dúvida. É isso que faz um corno ser sádico: desconfiando ele de que sua mulher o trai, ele se pega imaginando as posições nas quais ela é enrabada pelo urso. Pior. Ele se pega imaginando se ela geme mais com o urso, se chupa melhor a rola dele, se pede para ele colocar no cuzinho, se deixa ele gozar na cara. Em Dom Casmurro, nós não tivemos essa riqueza de detalhes que estamos tendo aqui agora. Entretanto, numa análise mais profunda, esses detalhes viriam facilmente à tona. O que nos faz deduzir que ser corno já dava prazer desde aqueles tempos.

Passemos agora a Brás Cubas. Porra, Brás Cubas morre e vem meter o pau nos vivos. Vem falar mal de todo mundo, vem mostrar a fraqueza de todo mundo. Vem falar de suas próprias fraquezas. Só um sádico faria isso. Depois de morto, ficar remoendo seus defeitos. Numa escala de zero a dez no sadismo, podemos afirmar que essa atitude é uma nota nove. Ponto.

E para encerrar esse brilhante ensaio, que está me valendo o lindo cuzinho de sua aluna Anny, que por sinal o senhor professor já deve ter comido, falarei agora de Memorial de Aires. Sem dúvidas, essa é a melhor obra de Machado. Realmente é uma obra do caralho. Lembro que eu chorei como um filho da puta quando terminei de ler. O livro é sombrio do começo ao fim. Mas não um sombrio fantasmagórico. É daqueles que te faz sentir certo prazer com a tristeza. Você sente o autor mais maduro, mais cadenciado. Dá para sentir que cada situação ali foi moldada a partir do profundo pesar do autor no momento em que perdeu a sua esposa. Enquanto escrevo aqui, as lágrimas começam a visitar meu rosto. O casal que não pode ter filhos, D. Carmo, o próprio Aires... Machado nessa obra utiliza um saudosismo que se torna sádico justamente por machucar e dar prazer. É igual a comer um cu. Aquele que enfia machuca. Aquele que é enrabado, sofre, mas tem prazer.

- Finalmente acabei essa merda. Berrei ao mundo. –Anny, seu cuzinho não será perdoado.

Dizendo isso, comecei o que chamo de uma verdadeira saga da vagina. Aliás, do cuzinho mesmo. Anny estava na cozinha fazendo alguma coisa que nem me dei ao trabalho de tentar descobrir. Puxei sua calcinha e fui logo enterrando no cuzinho.

-Ai, ai, ai... no cuzinho não! No cuzinho não. Ela dizia.

-No cuzinho sim! No cuzinho sim!

Joguei-a no chão. Ela tentava se livrar, mas, na posição que estávamos, era questão de tempo para eu poder entrar.

-Ai, ai, ai... no cuzinho não! No cuzinho não. Dizia de novo.

-No cuzinho sim! No cuzinho sim. Eu berrava.

Até que alguém bateu na porta. Deveria ser um vizinho.

-Anny, está tudo bem? Perguntou a voz.

-Sim, está tudo ótimo. Pode ficar tranqüilo.

A safada aproveitou a distração para sair correndo pro quarto. Nem pensei duas vezes e fui atrás dela.

-Chinaski, eu não falava sério quando disse do cuzinho.

-Já disse, Anny. Ele não será perdoado. E parti pra cima.

Agarrei Anny, joguei na cama e meti na buceta. Como era quentinha. Como estava molhada. Como era bom estar ali. Bombei mais um pouco. Tirei o pau e mirei no cu.

-Ai, ai, ai... no cuzinho não! No cuzinho nããããããããão... no cuzinho sim!

Era bem estreito. Na verdade, era quase impenetrável. No momento em que colocava no cuzinho de Anny, eu refletia sobre aquilo tudo. Há pouco tempo, eu estava ali, falando sobre o sadismo, sobre o prazer em ter algum tipo de sofrimento e agora me vejo praticando isso. Anny se contorcia de dor, mas disse pra eu não tirar. Era perceptível que ela estava tendo o melhor orgasmo da sua vida. Ela mordia, gemia, uivava. Gozei dois litros e trezentos naquele cu apertado. Gozei por mim, por Machado, por todos os bêbados filhos da puta que praticam o sadismo todos os dias, jogados nas ruas sujas, gozei pelo cara do recife antigo, sem família, sem porra nenhuma, mas que sempre tenta recitar alguma coisa de Maiakovski, gozei pelas prostitutas, gozei por todos aqueles que, mesmo involuntariamente, se fodem todos os dias e conseguem encontrar algum prazer nisso.

No fim das contas, somos todos uns sádicos. Pensei. Agradeci a foda a Anny e voltei ao meu antro. Meu sujo, vagabundo, triste e sádico antro. Onde minha vida se proliferava. Talvez o sadismo não fosse tão ruim assim, afinal.