20 de novembro de 2011

A saga da vagina 2

Era 2:42 da tarde. Fazia um calor dos infernos. O sol sacaneava a gente de tal forma que não era possível manter uma cerveja gelada por mais que cinco minutos. Sendo assim, contra-ataquei, partindo para os destilados.

Nada acontecia. Nenhuma confusão, nenhum amigo, nenhum emprego, nenhuma vagina, enfim, de novidade mesmo, só o aumento no preço das cervejas e dos cigarros. Era um absurdo o tamanho da ousadia.

Eu continuava mamando meu uísque puro, sem gelo. Nunca fui muito fã de cowboy, mas acho que a maneira menos afeminada de se tomar uísque, é puro e sem gelo. Ok, no máximo, duas pequenas pedras. Qualquer merda acrescida que não seja isso, eu considero como um avançado estado de viadagem. Enquanto refletia sobre isso, mandei pra dentro mais um gole.

O telefone começou a tocar. Em pensamento, senti que meu corpo levantava e ia até lá atendê-lo. Quando voltei à realidade, vi que não havia movido um fio sequer do meu ridículo bigode estilo cobrador de ônibus da Empresa Borborema. Finalmente perceberam que eu não queria atender e pararam de insistir. Isso merecia mais um gole. Foi o que fiz.

Servi mais uma boa dose para mim. O calor continuava infernal. Por algum momento pensei em sair para dar uma volta e me refrescar. Novamente em pensamento, me vi levantando da cadeira, mandando para dentro a última dose de uísque, xingando alguém por não saber onde coloquei os cigarros, pegando alguma camisa surrada e saindo. Novamente isso só aconteceu no plano das ideias. Não movi um mísero pêlo dessa vez. Pelo contrário, aproveitei o momento para admirar ainda mais a lógica dos pecados capitais, entre os quais, me identifico com a preguiça e a luxúria. Preguiça sempre foi uma marca registrada em mim. Há dias em que dá preguiça até de viver. Trabalhar, comer, beber, sair, trepar... essas coisas cansam um homem. E luxúria. Ah, a luxúria. Se eu tivesse nascido com dois paus, iriam ter que inventar um novo nome para esse pecado.

O telefone tocou de novo. Dessa vez, me levantei de verdade e fui em direção a ele. Não porque eu queria realmente atender essa merda, mas, porque iria aproveitar para pegar mais uísque. No fim das contas, uma coisa acaba levando a outra.

-Alô?

-Chinaski, querido! Quanto tempo?!

Do outro lado do telefone, eu podia ouvir uma voz feminina e sexy. Instintivamente, fiquei de pau duro.

-Quem é?

-Ah, seu safadinho, não se lembra mais da minha voz? Aposto que se fosse meu clitóris falando, você saberia na hora quem é.

- Há muito tempo não ouço a voz de um clitóris, mas a ideia me agrada muito.

-Sim, sei. Sou eu, Anny.

-Oouuuu... Olá, Anny! Como vai?

- Bem, Chinaski. Só que estou precisando de um favor seu.

-Manda lá, baby!

-Preciso que você escreva um ensaio para mim.

-Sobre o que?

-Machado de Assis e o sadismo.

-Puta que pariu, Anny. Eu nem sabia que Machado de Assis era sádico.

-É, eu também não. Quer dizer, sempre desconfiei um pouco por conta de seus livros. Dom Casmurro, A desejada das gentes, Memorial de Aires, Memórias Póstumas, enfim, o cara é mais louco do que pensei.

-E pra que isso, Anny?

-É para faculdade. Meu professor viu uma reportagem num jornal de literatura e quer saber nossa opinião a respeito disso.

-Escuta, baby, não sei se posso fazer isso.

-Por que não?

-Por que não tenho a menor intimidade com Machado de Assis. Quer dizer, com o sadismo ainda vai, já que ando lado a lado com ele, por falta de escolha. Mas com Machado, não.

-Escuta, Chinaski. De repente, senti que estou molhada.

-...

-Sabe o que isso quer dizer?

-Que você levou a sério a história do sadismo e está se masturbando com um consolo de 32 centímetros enquanto fala comigo.

-Não, seu belo filho da puta. Isso quer dizer que eu quero a porra do meu artigo. Chegue aqui em casa às 19 horas que irei te pagar dobrado e adiantado. Tu Tu Tu...

Desligou.

Anny realmente sabia como convencer um homem. Esse convite para casa dela me trazia boas sensações. Ela era conhecida como boca de veludo e tinha a melhor chupada de toda redondeza. Dava gosto de se ver. Sua língua era nervosa e sua garganta era um poço profundo. Uma vez ouvi uma história que dizia que ela colocou 25 centímetros de pica na boca sem fazer o menor esforço. E o pior de tudo é que o sortudo no qual ela fazia o boquete, disse que se assustou quando sentiu seu pau se chocar com alguma coisa parecida com um coração.

Antes da ligação de Anny, fazia dois dias que eu bebia e fumava sem parar. Na verdade, parei para dormir. E cagar. Nesse intervalo, não lembro se havia tomado algum banho. Provavelmente não, pois sentia que eu estava fedendo como um gambá assustado. Era possível sentir meu cheiro nada agradável estando a vários quilômetros de distância. Percebi que até os urubus mantinham uma distância segura de mim. Era preciso urgentemente reverter esse fétido quadro.

Me dirigi ao banheiro pensando no estranho tema do ensaio de Anny. “Machado de Assis e o sadismo”. Há anos que eu não lia nada desse autor. Pra falar a verdade, não lembrava porra nenhuma dele, apenas daqueles nerds que no meu tempo de faculdade ficavam discutindo toda tensão psicológica, toda ironia, toda crítica social, jogo de palavras e outras baboseiras a respeito de sua obra. A única coisa que eu discutia naquele tempo era em que bar iríamos encher a cara e quem iríamos comer depois que aquela longa e tediosa aula acabasse.

Abri o chuveiro e lavei o corpo como quem lava um chiqueiro. Por um momento, senti que meu corpo estava tão sujo que nem minha alma estava mais agüentando permanecer nele. Deus, como alguém pode se esquecer de tomar banho, se a todo momento a inhaca que se concentrava debaixo dos meus braços era suficiente para me lembrar que eu ainda estava vivo? Ou melhor. Que talvez estivesse morto e era só questão de tempo para alguém se lembrar de me enterrar. Depois desse filosófico exame de consciência, entendi o porquê de as pessoas não se aproximarem muito de mim e até passei a aceitar com mais naturalidade minha solidão.

Saí de casa por volta das 17:42 e peguei o primeiro ônibus que vi. Era quase a hora do rush e todas as pessoas da cidade decidiram que também deveriam pegar exatamente aquele ônibus. Por um momento pensei que só havia aquele circulando em todo o país. Quando entrei, vi que estava escrito que sua capacidade era de 40 passageiros sentados e 30 em pé. Deveria ter por ali uns 80 passageiros fingindo estar sentados e outros 150, se chutando, se empurrando, se amaldiçoando e tentando ficar em pé. Nem o colo do cobrador foi poupado.

Por sorte, desci do ônibus ainda vivo e pelo menos inteiro. Antes de me encontrar com Anny, resolvi passar num desses mercadinhos de bairro, que sempre tem bebida em conta. Comprei dois vinhos Casillero del Diablo e um pouco de salame. Estava começando a ficar disposto para escrever o artigo.

A casa de Anny, apesar de um pouco distante da minha, era bem localizada e perto de tudo. Perto de bares baratos, motéis em promoção e alguns puteiros interessantes. E caso você se sentisse entediado, poderia comprar um pouco de erva e fumar a beira de um laguinho que passava por trás da casa dela. Como eu gostava daquele lugar.

Cheguei à casa de Anny e toquei a campainha.

-Quem é?

-Sou eu, Chinaski.

-Um momento, já estou indo.

-Ok.

Anny veio abrir a porta vestida para matar. Um vestidinho preto bem curto e decotado. Dava para ver tranquilamente o biquinho dos peitos querendo furar o vestido. Suas pernas brancas e lisas, denunciavam o que estava para acontecer ali. Seu rosto safado, com seus olhos castanhos, seus longos cabelos pretos e lisos, seu nariz afilado e sua maravilhosa boca de veludo, me faziam, involuntariamente, ter vontade de tocar minhas partes safadas.

-Chinaski, quanto tempo você vai ficar aí parado na porta até que seu pau deixe de ficar duro?

-Ah, desculpe, Anny.

Entrei.

A primeira coisa que fiz foi me dirigir até a cozinha para colocar os vinhos na geladeira. Abri e estava completamente abastecida de cerveja. Peguei duas, abri e voltei para sala.

Anny estava colocando alguma coisa do Muddy Waters pra tocar quando lhe alcancei sua cerveja. Brindamos. Demos um grande gole.

“-Escuta, baby”, eu disse, “que tal deixarmos de lado esse lance do Machado e partirmos só para o sadismo?”

“-Não fode, Chinaski”, ela disse. “A porra desse ensaio vale meu semestre”.

-Porra, Anny. Quem colocou na tua cabeça essa ideia?

-Já te disse, Chinaski. Meu professor quer esse trabalho sobre Machado e o sadismo. Lembre-se. Sem trabalho, sem buceta. Aliás, eu estava até pensando em liberar o cuzinho...

Filha da puta. Pensei. Esse era o golpe mais baixo que uma mulher poderia executar contra o homem. Liberar o cuzinho. Quando uma mulher quer uma coisa e coloca o cuzinho em jogo, significa que ela está muito desesperada. E eu não poderia perder uma oportunidade dessas. Nunca havia montado Anny no cuzinho. Mas, já que apareceu a chance, eu não iria desperdiçá-la.

-Anny, sua safada. Eu disse. Esse foi o golpe mais sujo que alguém já usou contra mim. Em todos esses anos de merda, nenhuma mulher me fez uma proposta tão tentadora. Você sabe muito bem que eu não tenho taras por cus. Mas esse seu, Anny... esse seu cu de vaca me faz chegar a um ponto que eu nunca pensei que chegaria: me vender por um cuzinho.

Estava iniciada a luta. Eu já havia escrito sobre a alma feminina, sobre o desespero humano, sobre putarias das mais diversas formas, sobre tudo que você imaginar no mundo. Mas, sobre Machado de Assis, seria a primeira vez. Desse modo, resolvi chamar o ensaio de A saga da vagina. Comecei assim:

Machado de Assis, escritor negro que viveu no tempo em que o Brasil ainda não tratava bem a sua gente. Não que atualmente faça isso. Só que, naquele tempo, era foda. Se você nascesse negro, já estava fudido. E negro e pobre, nem se fala. Embora hoje em dia não tenha mudado muita coisa. A maior parte das pessoas já nasce fudidas mesmo. E aquelas que têm a sorte de não nascer assim, tratam de fazer isso ao longo da vida. Voltemos ao Machado.

Senti que estava ficando bom, apesar dos palavrões.

Machado realmente foi um cara esplêndido. Pelo menos no que se propôs a fazer. Negro, pobre, fudido e sem muito estudo. Tratou logo de ser autodidata. Aprendeu desde cedo os atalhos da escrita. O que me deixa com bastante inveja. Naquele tempo, obviamente, não havia os recursos que tem hoje: muitas bibliotecas, revistas especializadas, internet... enfim... Atualmente as oportunidades de você ser um escritor bem sucedido são inúmeras. E muita gente fica por aí escrevendo merda. Escrevem duas ou três frases cheias de palavrões e se acham os verdadeiros escritores marginais. Falam da bebida, do cigarro, das prostitutas, mas, só bebem sminorff ice, não fumam nem pentelho e vivem por aí batendo punheta. Isso quando não estão dando a bunda. Machado de Assis não tinha acesso a metade das informações que temos hoje e escreveu várias obras que são como um divisor de águas na literatura brasileira. Isso sim é um belo filho da puta.

Nesse momento, Anny me traz outra cerveja. Ela vem me entregar só de lingerie.

-Como está ficando o artigo, meu amor?

-Está uma verdadeira tese de mestrado, meu anjo. Seu professor terá orgasmos sucessivos lendo esse artigo digno da New York Writers.

-Acho bom. Só por causa disso, lhe daria um adiantamento.

Ela baixou minha calça e começou a mamar como uma louca. Batia e mamava. Mamava e batia. Batia. Mamava. Mamava... até que engoliu tudo que saiu do meu pau. Era incrível. Não deixou sequer escorrer uma gota. Deu um sorriso sacana e se foi. Continuei a escrever o artigo.

A relação de Machado de Assis com o sadismo é uma coisa interessante de se observar. Pouca gente percebe que ele tem uma leve queda pelo que machuca, pelo que fere. Podemos observar em Dom Casmurro toda uma estrutura que leva a um desfecho no qual o leitor não pode afirmar com certeza se aquela cachorra da Capitu traiu ou não. O fato é que percebemos certo prazer em Bentinho ao conviver com a dúvida, denominada, nos dias atuais, como complexo de corno. E é justamente que mora aí o sadismo. O corno sente prazer não em ter plena certeza de que a mulher traiu. Mas, em conviver com a dúvida. É isso que faz um corno ser sádico: desconfiando ele de que sua mulher o trai, ele se pega imaginando as posições nas quais ela é enrabada pelo urso. Pior. Ele se pega imaginando se ela geme mais com o urso, se chupa melhor a rola dele, se pede para ele colocar no cuzinho, se deixa ele gozar na cara. Em Dom Casmurro, nós não tivemos essa riqueza de detalhes que estamos tendo aqui agora. Entretanto, numa análise mais profunda, esses detalhes viriam facilmente à tona. O que nos faz deduzir que ser corno já dava prazer desde aqueles tempos.

Passemos agora a Brás Cubas. Porra, Brás Cubas morre e vem meter o pau nos vivos. Vem falar mal de todo mundo, vem mostrar a fraqueza de todo mundo. Vem falar de suas próprias fraquezas. Só um sádico faria isso. Depois de morto, ficar remoendo seus defeitos. Numa escala de zero a dez no sadismo, podemos afirmar que essa atitude é uma nota nove. Ponto.

E para encerrar esse brilhante ensaio, que está me valendo o lindo cuzinho de sua aluna Anny, que por sinal o senhor professor já deve ter comido, falarei agora de Memorial de Aires. Sem dúvidas, essa é a melhor obra de Machado. Realmente é uma obra do caralho. Lembro que eu chorei como um filho da puta quando terminei de ler. O livro é sombrio do começo ao fim. Mas não um sombrio fantasmagórico. É daqueles que te faz sentir certo prazer com a tristeza. Você sente o autor mais maduro, mais cadenciado. Dá para sentir que cada situação ali foi moldada a partir do profundo pesar do autor no momento em que perdeu a sua esposa. Enquanto escrevo aqui, as lágrimas começam a visitar meu rosto. O casal que não pode ter filhos, D. Carmo, o próprio Aires... Machado nessa obra utiliza um saudosismo que se torna sádico justamente por machucar e dar prazer. É igual a comer um cu. Aquele que enfia machuca. Aquele que é enrabado, sofre, mas tem prazer.

- Finalmente acabei essa merda. Berrei ao mundo. –Anny, seu cuzinho não será perdoado.

Dizendo isso, comecei o que chamo de uma verdadeira saga da vagina. Aliás, do cuzinho mesmo. Anny estava na cozinha fazendo alguma coisa que nem me dei ao trabalho de tentar descobrir. Puxei sua calcinha e fui logo enterrando no cuzinho.

-Ai, ai, ai... no cuzinho não! No cuzinho não. Ela dizia.

-No cuzinho sim! No cuzinho sim!

Joguei-a no chão. Ela tentava se livrar, mas, na posição que estávamos, era questão de tempo para eu poder entrar.

-Ai, ai, ai... no cuzinho não! No cuzinho não. Dizia de novo.

-No cuzinho sim! No cuzinho sim. Eu berrava.

Até que alguém bateu na porta. Deveria ser um vizinho.

-Anny, está tudo bem? Perguntou a voz.

-Sim, está tudo ótimo. Pode ficar tranqüilo.

A safada aproveitou a distração para sair correndo pro quarto. Nem pensei duas vezes e fui atrás dela.

-Chinaski, eu não falava sério quando disse do cuzinho.

-Já disse, Anny. Ele não será perdoado. E parti pra cima.

Agarrei Anny, joguei na cama e meti na buceta. Como era quentinha. Como estava molhada. Como era bom estar ali. Bombei mais um pouco. Tirei o pau e mirei no cu.

-Ai, ai, ai... no cuzinho não! No cuzinho nããããããããão... no cuzinho sim!

Era bem estreito. Na verdade, era quase impenetrável. No momento em que colocava no cuzinho de Anny, eu refletia sobre aquilo tudo. Há pouco tempo, eu estava ali, falando sobre o sadismo, sobre o prazer em ter algum tipo de sofrimento e agora me vejo praticando isso. Anny se contorcia de dor, mas disse pra eu não tirar. Era perceptível que ela estava tendo o melhor orgasmo da sua vida. Ela mordia, gemia, uivava. Gozei dois litros e trezentos naquele cu apertado. Gozei por mim, por Machado, por todos os bêbados filhos da puta que praticam o sadismo todos os dias, jogados nas ruas sujas, gozei pelo cara do recife antigo, sem família, sem porra nenhuma, mas que sempre tenta recitar alguma coisa de Maiakovski, gozei pelas prostitutas, gozei por todos aqueles que, mesmo involuntariamente, se fodem todos os dias e conseguem encontrar algum prazer nisso.

No fim das contas, somos todos uns sádicos. Pensei. Agradeci a foda a Anny e voltei ao meu antro. Meu sujo, vagabundo, triste e sádico antro. Onde minha vida se proliferava. Talvez o sadismo não fosse tão ruim assim, afinal.

3 comentários:

Steel disse...

"Eu quero um cu p/ chamar de meu"

Anônimo disse...

Eu posso te dar o meu!

AMARela Cavalcanti disse...

essa galera anônima é fail demais!