30 de novembro de 2010

Amor sem compromisso

"Há indivíduos que não querem amar, mas que querem viver de amor" (Nietzche [?])

O amor é uma coisa louca, estranha, contraditória, meio que incompreensível. Não sabemos de onde ele vem e muito menos para onde nos leva. Toda vez que tento abordar esse tema aqui, tenho o maior cuidado para não fazer generalizações imbecis e muito menos cair em lugares comuns. E hoje não vai ser diferente. Tratar do amor sem compromisso é ao mesmo tempo um desafio e um deleite para mim. Desafio porque, como já disse em algum lugar aqui do blog, eu não sei mais amar, ou devo estar enferrujado para isso. Deleite porque é sempre bom falar mal de uma coisa que a gente não tem, mas que gostaria muito de ter. ;-P

Há alguns anos, quando iniciei algumas leituras relacionadas ao amor, visando entender melhor para me curar de um trauma daqueles, vi muita coisa interessante. Afirmações do tipo "não temos apenas um grande amor da nossa vida, mas sim, vários grandes amores longo dela", ou então "o amor se constrói a cada dia" e muitas outras tão sábias quanto essas. Também vi atrocidades, verdadeiras barbaridades do tipo "só ame quem te ama", "amor se paga com amor", entre outras bobagens. Nada disso aí é verdade absoluta, lógico. E é difícil chegar a um meio termo quando se trata de amor. Ou se ama demais, ou se ama de menos. E é nesse último aspecto que quero focar essa postagem. Quer dizer, não em amar demais, mas em amar descompromissadamente.

Eu não sei se cabe classificações ao amor. Nunca vi os poetas mencionarem isso. Nem os especialistas. Nem os namorados, nem os fuckboddys, enfim, nenhum ser que conheço até agora teve a ousadia de ser escroto ao ponto de classificar o amor. Terei um imenso prazer e uma indescritível honra em ser o primeiro a fazer isso. Classificarei de Amor sem compromisso aquele tipo que vive de migalhas, que se satisfaz com qualquer besteira, que acontece de vez em quando, que promete muito e faz pouco, que vive de Sms, twiter, msn, orkut, baddo, qualquer merda cibernética em detrimento da presença física do outro. Ou seja, um pseudo-amor, vulgarmente conhecido como amor de rapariga.

O amor sem compromisso está em alta nos dias de hoje. Tem o aval da sociedade e prega um conceito errôneo de individualidade. Na verdade, é um paradoxo do caralho. A pessoa quer formar um casal, contudo, ao mesmo tempo quer ter liberdade total de solteiro. Para ilustrar melhor, podemos fazer uma analogia com a seguinte situação: o sujeito quer cagar, mas não quer limpar o rabo e ainda sim quer ficar com o bumbum cheirando a alma de flores. Completamente incongruente.

Índio mandar aquele twitter que é pra fazer fita com patroa, né cara pálida?

Voltando ao tema em si, como foi dito mais acima, às vezes caímos na tentação de dar ao termo individualidade o sentido de descomprometimento. Sabemos que em uma relação sadia, cada ser deve ter seu espaço e deve também ser respeitado dentro dele. Porém, pelo amor de Deus, não vamos confundir individualidade com isolamento. Um casal que mal se vê e acha que isso é normal porque estamos no século 21, deveria repensar sua relação. Namorados que se falam mais pelo celular do que pessoalmente, morando a apenas poucas ruas ou poucos minutos um do outro e ainda acham que isso é saudável, deveriam romper de vez isso que chamam de relação. Na verdade, nem se trata de relação, mas de conveniência, pois, é como se estabelecessem contratos sexuais e afetivos imaginários. A pessoa tem alguém em quem se apoiar, tem um sexo gostoso na hora em que quiser, tem um certo grau de intimidade mas não tem o comprometimento de fazer algo mais por aquilo. Não faz muito esforço, quase não faz nenhuma renúncia, está presente nos momentos bons, mas sempre ocupado nos momentos ruins. Como dizia Nietzche, não quer amar, mas quer viver de amor.

O amor sem compromisso vive do nosso medo de nos comprometermos com algo. E comprometimento envolve responsabilidades. E responsabilidades é o que menos queremos. Queremos desfrutar de toda intensidade de um amor de novela, mas não estamos muito dispostos a cultivar aquilo. Não temos paciência em surpreender, não fazemos jogos amorosos lúdicos, não tiramos nosso parceiro da mesmice. Achamos que só pelo fato de rotularmos a relação, tudo está seguro, tudo está tranquilo. Uma mensagem aqui, um scrap ali. Talvez até um telefonema. Pronto. Regamos nossa relação. Renovamos nosso contrato. Pelo menos ainda hoje, temos um amor. "Ir vê-la numa segunda feira assim que sair do trabalho? Não. Deixa para o sábado. Fazer uma comidinha gostosa para ele e colocar algumas cervejas no freezer? Não. Melhor fazer isso no domingo". E assim temos, como Chaumier define, um casal alternativo, um casal de solteiros ou uma solteirice compartilhada.

"Dizer que se forma um casal não é dizer que existe amor"(Conangla, 2005). Há muitas pessoas que estão acompanhadas pelo simples fato de não conseguirem ficar sozinhas. Consequentemente, a relação que era embasada na confiança, na cumplicidade e na presença, perde força para aspectos como desleixo e comodismo, o que, no final de todo o processo, gera pessoas redundantes e contraditórias. Eles não querem ceder muito tempo ao outro, nem muito espaço e, o que é pior, não ficam muito presentes. E amor não se faz sem presença. Amor se constrói todo dia, juntos, às vezes renunciando alguma coisa, outras vezes não abrindo mão de algo, porém, valorizando e cultivando a presença do outro. Se você já namora ou está casado há algum tempo e acha que presença é coisa descartável numa relação, talvez seja hora de rever e, quem sabe, partir para outros caminhos. Se você já não faz questão de regar a semente do amor com frequência, se vive muito bem mesmo estando sozinho e quase não sente a necessidade de estar junto ao outro, talvez seja hora de rever e, quem sabe, partir para outros caminhos. Mas, por fim, se você acha que relação se solidifica com tuitadas, scraps e ficando online, por favor, esqueça tudo que leu aqui, apague esse blog dos endereços recentes do seu navegador e aperte ALT+F4.

22 de novembro de 2010

Do amor

"Nada na vida é mais importante que o amor" (Arthur Schopenhauer)

Amor, é só o que quero de você. Apenas amor. Não me pergunte nada, você sabe que eu sou confusa. Não me faça escolher nada, apenas me leve para onde você quiser ir. Me leve sem me fazer perguntas, me leve sem hesitar. Faça do seu mundo o meu mundo. Não me dê escolhas, não me faça propostas. Apenas me pegue pela mão e me faça viver. É apenas isso que espero de um homem: que me faça viver. Amor, meu amor, não me dê garantias nem certezas. Apenas vida. E ter vida vai bem além de uma frágil segurança ou estabilidade. Eu quero poder não sentir o chão, mas estar ao teu lado. Eu quero uma vida digna de filmes, com dramas em proporções absurdas, muitas lágrimas, muito riso, tudo isso misturado. Amor, não me leve tão a sério. Por favor. Pois toda vez que você faz isso, é como se eu perdesse um pouco da confiança em você. Amor, meu grande amor, assim como diz aquela música: "não chegue na hora marcada, assim como as canções, como as paixões e as palavras... " Me surpreenda, meu bem. Isso é tudo que uma mulher pede para um homem. Por favor, eu imploro: ME SURPREENDA. Seja me amando quando eu não merecer, seja me amando quando eu merecer, seja mandando flores quando eu menos esperar, seja não dando atenção às minhas confusões. Pois, como todos sabem, nós mulheres somos confusas por natureza, meu anjo. Dizemos sim quando queremos dizer não. Dizemos não quando queremos dizer sim. Nem nós mesmas nos entendemos. Cabe a você não deixar ser levado por isso. Me veja como nuvem, meu lindo. E quando eu começar a surtar, por favor, não se feche para mim. Isso é o que você pode fazer de pior para nós dois: se fechar diante da minha confusão. Seja um homem destemido, me encare de frente, fale firme comigo, me jogue na cama e me mostre quem é que manda aqui. Apesar de pregar aos quatro cantos a igualdade dos sexos, no fundo nós gostamos de homens que nos dominam, que sabem para onde estão indo e nos convidam a ir junto, que tem poder de decisão, que querem crescer, que querem sempre mais. Ficamos extremamente molhadas diante de um homem assim. Você não sabe como nos sentimos femininas quando temos a certeza de que um homem deste calibre está ao nosso lado... E nunca duvide das habilidades de uma mulher quando ela está no auge de sua feminilidade. Somos capazes de enlouquecer reis, de provocar guerras e de tantas outras coisas inimagináveis.



Voltando ao foco, meu bem, peço que você seja mais sensível, sem contudo, se tornar um veadinho. É porque há uma diferença nisso. Homens sensíveis compartilham conosco de nossas dores e fracassos, mas continuam firmes lá para nos segurar. Veadinhos costumam chorar mais que nós. E de mulher insegura e frágil aqui já basta eu. Também peço, meu anjo, que faças mais experiências comigo com o objetivo de despertar meus sentidos. Sabia que eu adorei aquele jantar silencioso, no qual rimos bastante com o garçom que ficou sem entender nada? A sua ideia de não falar em momento algum me pareceu estranha no começo e eu morri de rir quando você escreveu num papelzinho explicando para o garçom o que estava havendo. Ah, também adorei a ideia do vinho. Você sabe que sou fraca para bebida, mas compartilhar essas experiências com você torna tudo uma grande festa. Obrigado, amor, pela viagem que fizemos. Sou fresca e adoro conforto, mas passar alguns dias fora de casa contigo me fez ver que onde quer que eu esteja, se você estiver ao meu lado, tudo fica bem. Também queria dizer que eu simplesmente amo e admiro essa sua capacidade de se alegrar com as coisas. Seja um novo lugar, uma bebida diferente, um novo filme ou qualquer outra coisa. Você não espera que eu goste. Simplesmente me apresenta e essa sua empolgação me faz ficar empolgada também.

Por fim, amor meu, não sei se ficaremos juntos para o resto da vida. Não sei se amanhã ou depois, ou próxima semana, ou daqui a 50 anos, iremos nos separar. Contudo, quero deixar claro aqui que você me faz acreditar no amor. Este sentimento tão contraditório, tão assustador e sublime ao mesmo tempo. Às vezes pensamos que apenas amor não é suficiente. Mas se analisarmos direito, sem amor, nada flui. É isso que move a humanidade, que inspira os poetas, que faz as pessoas seguirem em frente, que nos faz ficar juntos. Podemos nem perceber, mas o amor é o centro de tudo. E uma vida sem amor é uma vida amarga, triste, miserável. Mesmo que alguém diga que casar por amor é burrice. Mesmo que o amor hoje em dia esteja tão banalizado. Só vale a pena viver por amor. Uma vida só tem sentido se tiver amor. E no fim é isso. Eu te amo. A cada dia. Sempre mais.

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Inspirado no filme Eu sei que vou te amar.



1 de novembro de 2010

Da necessidade de conexão ou jogo dos 11 erros

Conexão. Palavra concreta que permite vários significados. Dizemos que uma coisa está conectada quando ela está em sintonia com alguma outra coisa diferente. Ou então que a conexão foi estabelecida quando as coisas andam no mesmo sentido e em harmonia. Você tenta fazer uma ligação do seu celular e ele se encontra sem área. A conexão não está boa. Sua internet cai do nada. A conexão foi interrompida. Duas pessoas se encontram e entre elas não flui uma espontaneidade. É tudo rígido, morno, sem vida. Nesse caso, a conexão nem sequer deu as caras. Temos aí então o primeiro erro. Achar que somos capazes de nos conectar o tempo todo com pessoas. Desse primeiro erro, surge um segundo ainda mais grave: tentar a todo modo estabelecer uma conectividade onde o sinal é fraco.



Talvez seja isso que nos falte. A coragem de estabelecer conexões sem esperar nada em troca. As relações contemporâneas andam tão superficiais que quando nos deparamos com alguém capaz de adentrar mundos, logo nos assustamos. Nos fechamos. Achamos que aquilo ali não tem nada a ver com a gente. Nesse momento surge o terceiro erro: nosso medo de deixar que alguém se conecte com a gente nos faz perder oportunidades incríveis. Nos faz ter uma vida normal demais. Nos faz ficar na mesmice. É incrível como a zona de conforto na qual nos encontramos limita nossas ações. Achamos que o mundo é cíclico, que os momentos se repetem, só mudam os personagens. E, quando aparece alguém com capacidade de subverter isso, armamos nossa lança e pegamos nosso escudo. Como guerreiros a postos esperando uma batalha, lutamos até a última força para manter uma identidade que achamos que é imutável. É nesse espaço que se manifesta o quarto erro. Esquecemos que o mundo é impermanente. Esquecemos que estamos mudando o tempo todo, mesmo que isso não seja perceptível. Conexão é isso. É estar aberto ao inesperado. Alguém aqui no rádio me diz que tristeza é ausência de felicidade. Me vem um insight que diz que falta de conexão é ausência de diálogo. Mas como posso pensar isso se passamos grande parte da noite conversando? O quinto erro aparece aí. Conversar demais. Racionalizar demais. Perguntar demais. Hesitar demais. Mulher não confia em homens que costumam ter esse tipo de atitude. Deve ser por isso que ela está no sofá, enquanto eu tento desabafar escrevendo isso. Ela olha para mim de um modo estranho. Consigo ver o abismo que nos separa. Eu não sei agir em um espaço limitado. Minha liberdade, profundidade e presença não são nada diante dos bloqueios que essa mulher me impõe. Consigo perceber o sexto erro. Solidificar as flutuações femininas. Desde que comecei esse blog, sempre bati nessa tecla. Mulher não conduz, mulher não toma decisões, mulher tem direcionamento que leva a relação para lugares estranhos. Não é machismo. É biológico. Pergunte quantas mulheres gostam de ser o homem da relação. A condução, o direcionamento, tudo isso são ações masculinas. É como se tivéssemos num carro. A mulher não quer decidir para onde o casal vai. Ela só quer ser conduzida. Melhor. Ela quer ser surpreendida. A conexão vem justamente dessa atitude. Homem assumindo seu lugar de homem. Mulher assumindo seu lugar de mulher. Sétimo erro. Troca de papéis. Esse seja talvez o erro que mais me incomode. Eu só queria que ela participasse das decisões comigo. Por isso perguntei tanto, hesitei tanto. A música de fundo é melancólica. Uma troca de cartas entre dois padres. Vejo nesse momento a atitude que mais admiro em uma mulher. A capacidade de ser feminina. Agora vejo o fruto de todos os erros. Negar a feminilidade dela. Estive o tempo todo imerso em mim mesmo que me esqueci de dar o espaço para que ela dançasse. “Caminhamos em ritmos diferentes”. É a conclusão que ela chega. Me divirto com isso. Eu sou inseguro e imediatista. Preciso de afirmação. Ela é medrosa e retraída. Em momento algum me dá certeza. Oitavo erro. Embasar suas ações nas certezas femininas. Há uma metáfora que diz que mulher é como onda. Ou você surfa, ou se afoga. Cometo o nono erro ao não ter capacidade de surfar essa mulher. O décimo erro acontece no momento em que escrevo tudo isso. Ela só quer ser aberta. Ela só quer alguém que faça a tão necessária conexão. Não me sinto capaz disso. Acredito no que ela diz, não percebo seu silêncio, não compreendo suas ações. Finalizo de maneira vergonhosa com o décimo primeiro erro. Ter medo de uma mulher. Como alguém espera estabelecer uma conexão se tem medo de penetrar uma mulher? Volto ao título do texto. Cometi todos esses erros. Perdi a oportunidade de fazer alguém feliz. Acaba o vinho. Apago o cigarro. Me lamento de ter escrito isso e agradeço a ela pela oportunidade.