26 de abril de 2011

O dia em que me transformei em Henry Charles Bukowski (Parte I)

Estava em minha casa, deitado de papo para cima, coçando os testículos e assistindo ao futebol na TV. Era uma partida do campeonato italiano. O telefone toca:

-Cabaré do Chinaski, bom dia?

-Deixa de frescura, seu porra. Vamos viajar, tomar umas cervejas, ver uns rabos e quem sabe, se a gente der sorte, arrumar umas confusões?

Era o Malkovich

-Não sei cara. Estou meio ocupado de papo pra cima coçando os ovos. Não sei se é uma boa ideia.

-A cada dia que passa teu nível de homossexualidade aumenta de uma forma bastante considerável. Se você mudar de ideia, estaremos em São José, fazendo exatamente aquilo que te descrevi.

-Ok. Desligamos.

O jogo estava uma porcaria e eu já havia coçado os ovos por um tempo suficiente. Na verdade, iria ser muito chato passar o fim de semana em casa, sem bebida, sem amigos, sem putaria. Ó Meu Deus, que vida injusta.

Tentei ligar para o Malkovich para dizer que havia mudado de ideia, mas o telefone só dava fora de área. Eu não queria dirigir, porque meu carro há muito tempo já dava alguns sinais de cansaço. Eu já não confiava em fazer viagens longas como aquela. Para se ter uma ideia, certo dia a bateria inventou de queimar justo quando eu passava em frente ao Mary Bar. Tentei ligar o carro de todas as formas, porém, o máximo que consegui foi um princípio de incêndio. Liguei para o reboque. Me deram um tempo de espera de quatro horas. Achei que aquilo havia sido um sinal dos deuses para que eu parasse lá no Mary Bar e entrasse. Foi o que fiz. Foi uma noite bastante divertida, a não ser pelo cara do reboque, que ficou tão bêbado a ponto de além de rebocar meu próprio carro, eu ainda tive que rebocar o cara.

Voltando a viagem, joguei minhas coisas no carro. Algumas camisas, algumas cuecas, apesar de quase nunca usá-las, algumas bermudas, dois maços de cigarro, uma caixa de camisinhas da prefeitura e meia garrafa de vinho branco. Já estava quase pronto para pegar a estrada.

No caminho, parei para comprar algumas cervejas e meia garrafinha de uísque. O trajeto até São José era de mais ou menos uma hora e meia. Eu não conseguiria dirigir esse tempo todo com sede. Tratei de liquidar a garrafinha de uísque durante o caminho.

Chegando lá, liguei para Malkovich novamente. Sem área de novo. Resolvi descer do carro e dar uma volta pela cidade. Vi um boteco com nome sugestivo chamado Mastur Bar. Mas que filho da puta, pensei. Com um nome sugestivo desses, deve arrasar com a concorrência. Deixei de frescura e entrei.

-Uísque duplo com gelo. Pedi.


Enquanto o garçom buscava meu pedido, olhei ao redor do bar e vi uma bela mulher sentada ali. Devia ter seus 28 anos, por aí. Estava sozinha e tomava vodca. Me aproximei dela e de uma forma bastante romântica, me sentindo o próprio Vinícius de Morais, falei quase cantando:

-Olá, coisinha fofa. Eu tô a fim de transar.

-Desculpe, falou comigo?

-É que faz um ano que eu transei.

-É mesmo? Já tentou enfiar o seu pinto no seu rabo?

Meu uísque finalmente havia chegado. Tomei todo e pedi mais um.

-Não, baby. Os 25 centímetros de puro prazer são insuficientes para dar a volta e entrar na minha bunda. Mas eu acho que encaixava perfeitamente na sua. Vamos tentar?

-Escuta, cara. Quer fazer o favor de não se dirigir a mim?

-É impossível. Meu pau tem uma espécie de radar. Ele sente uma xoxota pulsado a quilômetros daqui.

-hahaha. Ô seu filho da puta, quem você pensa que é?

-Sou Bukowski. Charles Bukowski. Um grande escritor. Você já deve ter lido alguma coisa minha. Um artigo, um conto erótico, um romance, uma poesia. Sabe, é difícil não ser reconhecido nos dias de hoje.

-É mesmo? Pois eu nunca ouvi falar em você.

Chegou a outra dose. Tomei de uma vez só.

-Deve ser porque seu gosto literário é altamente questionável.

-Escuta, Bukowski. Tá vendo aquele grupo de homens ali?

Havia no fundo do bar, uns quatro negões torados, bebendo e comendo como animais e cada braço deles era uma perna minha.

-Sim, o que tem?

-Eu trepo com os quatro. E se eu chamá-los aqui e dizer que você também pretende me comer, a coisa vai ficar preta pro teu lado. Então acho bom você dar o fora daqui, seu escroto do caralho.

Olhei novamente para o grupo de negros. Constatei que cada braço não era somente uma perna minha, mas sim, meu tronco inteiro. Em um momento raro de lucidez, achei melhor ir embora. Deixei o dinheiro no balcão e parti.

De volta ao carro, liguei novamente para Malkovich. Dessa vez ele me atendeu e deu todas as coordenadas. Ainda disse que Sarah iria passar o fim de semana conosco. Sarah era um antigo rolo meu que eu não via há alguns anos. Acabamos porque numa das nossas freqüentes brigas, ela me colocou contra a parede e me mandou escolher entre a cerveja e ela. Golpe baixíssimo da parte dela. Então, lembrei de um poema de Bukowski que dizia que a cerveja era o sangue contínuo, uma amante contínua, essas merdas. Depois de muito refletir sobre esse tratado filosófico, fiquei com a cerveja mesmo.

Cheguei na casa que Malkovich havia me indicado e ela estava completamente lotada. Não havia muito espaço. E todos estavam bebendo, fumando, peidando, arrotando, talvez trepando e se divertindo. Eles sim sabiam aproveitar a vida. Tratei logo de pegar uma cerveja e me juntar a eles.

-Chinaski, seu bosta. Que demora foi essa? Perguntou Malkovich.

-Tentei te ligar, só que você não atendeu. Fui passar o tempo num bar.

-Se metesse em confusão novamente?

-Claro que não. Você me conhece. Sabe que não sou disso.

-Ok. Tente se divertir e não faça besteiras, cara. Meus tios estão aqui. Eles são bem conservadores. Aliás, grande parte da família está aqui. Pelo amor de Deus, cara, pega leve na bebida.

-Pode deixar. Vou me comportar como uma lady.

Assim que minha cerveja acabou, fui na cozinha pegar outra. Chegando lá, encontro Sarah, fazendo uma espécie de caipirosca. Ela estava abaixada procurando os limões. Já fazia alguns anos, mas eu não havia me esquecido daquele rabo. Sabia cada curva dele. Na verdade, estava mesmo hipnotizado. Fazia muito tempo desde que dei minha última gratinada. E Sarah naquela posição era o convite perfeito.

-Chinaski, quer fazer o favor de parar de secar minha bunda?

Fiquei desconsertado. Não achei que ela havia reparado.

-Sarah, quanto tempo. Que saudade. Como é bom revê-la!

-Eu sei muito bem o que você gostou de rever, seu escroto. Deixa de ficar aí me secando e me ajuda a preparar uma bebida.

Foi o que fiz. Tentei me concentrar e fui ajudá-la a fazer a caipirosca.

Enquanto ela cortava os limões, eu fui buscar a vodca. Como a cozinha era meio apertada, sem querer rocei nela. Nossa Senhora. Por um minuto quase ejaculei. Peguei a vodca e voltei roçando novamente. Só que dessa vez de propósito. Sarah esboçou um leve sorriso. Isso foi o suficiente para que eu a atacasse. Agarrei Sarah por trás e comecei a beijar seu pescoço. Nesse momento, o tio do Malkovich também entrou na cozinha. Foi o suficiente para que meu pênis se transformasse numa vagina.

-Você deve ser o Chinaski. Falou o velho.

-Não. Eu sou Henry Charles Bukowski. Eu disse com convicção. Sarah quase morre engasgada tentando conter o riso.

-É mesmo? Perguntou o velho com desdém.

-Não está acreditando? Quer que eu mostre minha benga para provar?

-Você age como um idiota. Provavelmente deve ser um aspirante a escritor tentando imitar o Bukowski. Você não passa de um monte de bosta, cara. Provavelmente não escreveu nem sequer um conto que preste. Aliás, você deve ser um analfabeto, que mal sabe onde fica o próprio cu. E por falar em cu, se você quer mesmo comer essa garota, utilize um dos quartos. A cozinha não é o lugar mais adequado para isso.

Sarah olhou para o velho perplexa. Nesse momento, o velho virou para ela e disse:

-Se você quer mesmo trepar com esse idiota, vá em frente. Mas saiba que há caras bem melhores do que ele. Que podem acabar com esse seu rabinho em segundos. Eu por exemplo, atualmente dou duas sem tirar a macaca de dentro. Se eu tomar um Pramil, dou umas quatro. Você não agüenta quatro de uma vez. Aliás, você não agüenta nem uma macaca de qualidade.

-Olha, velho escroto. Eu disse. Poupe-nos dos seus detalhes sexuais. Na verdade, só de pensar em você trepando, meu estômago se contrai em espasmos involuntários.

-Ok. Eu só vim pegar uma cerveja mesmo. Só que aviso logo. Estou de olho em vocês dois, principalmente em você, seu Bukowski de araque. É bom andar na linha.

Pegou a cerveja e saiu. Sarah já havia terminado de preparar a bebida. Não deu tempo nem de boliná-la. Demos um beijo e voltamos para o lugar em que estavam os convidados.

Havia muita gente ali que eu só conhecia de vista. Sarah saiu pra conversar com as amigas. Malkovich estava ocupado fazendo sala para os convidados. Me senti um pouco deslocado no começo. Bebi de uma vez a cerveja e logo em seguida fui buscar outra. A cerveja nunca deixa você se sentir sozinho.

O tempo foi passando e eu não parava de beber. Alguém sussurrou para mim que eu precisava diminuir um pouco na bebida. Não faço ideia de quem tenha sido, mas mandei ir à merda. À medida que o tempo passava, eu ficava mais bêbado e já começava a falar coisas sem sentido. A festa realmente estava ficando boa.


(Continua...)

14 de abril de 2011

Lembrete de Jack Kerouac



Ofereça a eles aquilo que mais desejam secretamente; é claro que entrarão em pânico imediatamente.

Fim de post.

1 de abril de 2011

O livro dos dias




Ausente o encanto antes cultivado
Percebo o mecanismo indiferente
Que teima em resgatar sem confiança
A essência do delito então sagrado
Meu coração não quer deixar
Meu corpo descansar
E teu desejo inverso é velho amigo
Já que o tenho sempre a meu lado
Hoje então aceitas pelo nome
O que perfeito entregas mas é tarde
Só daria certo aos dois que tentam
Se ainda embriagado pela fome
Exatos teu perdão e tua idade
O indulto a ti tomasse como bênção
Não esconda tristeza de mim
Todos se afastam quando o mundo está errado
Quando o que temos é um catálogo de erros
Quando precisamos de carinho
Força e cuidado
Este é o livro das flores
Este é o livro do destino
Este é o livro de nossos dias
Este é o dia de nossos amores