28 de novembro de 2011

De sensibilidade, xoxotas e Caio Fernando Abreu

Eu não me lembro muito bem. Só sei que eu precisava trepar. Há algum tempo eu não escrevia nada. Não bebia nada. Não fumava nada. E também não trepava. Não me lembro de quando entrei naquela vida monástica, mas isso precisava mudar. E era hoje.

Liguei para Sarah.

-Alô, Sarah? Eu disse.

-Quem é? Ela perguntou.

Tive uma ereção.

-É Chinaski, meu amor. Tudo bem?

-Oi, Chinaski? Como estão as coisas?

-Bem. Te liguei porque queria te convidar para assistir um filme aqui em casa.

-Filme? Que filme? E desde quando tu gostas de filmes?

-É um novo, francês. Até comprei uns vinhos para gente beber enquanto assiste.

-Olha, tem que ser agora?

-Não. Pode ser à noite. Às 21, fica bom?

-Combinado.

Desligamos.

Sarah era uma antiga namorada minha. Sempre que eu estava num período fodido com as mulheres, sem ninguém pra comer, ligava para ela. Era uma foda agradável e não muito difícil. Era meio que uma válvula de escape.

Eu detestava filmes. Principalmente os franceses. Sempre aquela coisa repetitiva da Belle époque, mostrando Paris, o Arco do Triunfo e outras merdas mais. Um verdadeiro saco.

Porém, uma coisa é certa: convidar uma garota para assistir filmes em sua casa, regado a vinho, é uma forma bastante sensível de dizer que você está muito a fim de foder. E o vinho ajuda a garota a perceber que ela também está. Dessa forma, era só esperar a hora.

Minha casa estava uma verdadeira zona. Livros jogados, pratos sujos, chão empoeirado, banheiro cagado, cama desarrumada. Nem parecia que um grande escritor vivia ali. Eu, o grande Chinaski, vivendo num verdadeiro chiqueiro. Fiquei tão orgulhoso daquela situação que nem tive coragem de mexer em nada. Poucas pessoas sabiam como manter um chiqueiro em ordem. Eu era uma delas.

Acendi um cigarro e resolvi ir à Budega do Rafa tomar uma cerveja. Fazia um calor dos infernos. Os termômetros marcavam 35 graus. A temperatura dos meus testículos girava em torno dos 50. Era o aquecimento global começando dentro de minha cueca.

-Rafa, grande “hombre”, me vê uma cu de foca. Pedi.

-Na hora, “hombre”. Um cu de foca pra meu escritor maldito preferido que não escreve porra nenhuma.

-É assim que se fala, Rafa.

Tomei na garrafa mesmo. Como era bom. Como era gelada. Como descia maravilhosa. A solução dos problemas da humanidade era a cerveja cu de foca do Rafa. Pedi mais uma para celebrar.

Nesse momento, chega uma loira, de mais ou menos um metro e oitenta, coisa linda de se olhar. O bar todo para babando por aquela beldade. Não preciso dizer que tive uma ereção instantaneamente. Ela rebolava aquele rabo como se tivesse pisando em nuvens. Seus peitos, obedientes, acompanhavam o ritmo dos seus passos. Iam para cima e para baixo. Para cima e para baixo. Para cima e para baixo... De tão hipnotizado que eu estava, nem percebi que ela se dirigia a mim.

-Sr. Chinaski? Perguntou ela.

-Seu servo e escravo sexual. Eu disse prontamente.

-hahaha. Como o Sr é prestativo. O oposto do que imaginei.

-isso porque você ainda não me viu usando a língua.

-É mesmo? Pois fiquei sabendo que o Sr. Não coloca a língua.

-É que eu economizo para as partes especiais...

-Vim falar com o Sr a respeito dos seus contos.

-Podemos deixar as formalidade de lado. Eu disse.

-Pois bem, Chinaski. Há um interesse em te publicarmos.

Dei um gole profundo na cerveja e pedi ao Rafa um copo. Servi a gostosa.

-Publicar? Mas eu nunca mandei material para ninguém!

-Chegou em nossa caixa de email alguns contos seus. Bem interessantes por sinal. Apesar de não fazer a linha de nossa editora, por serem escrachados demais, iremos apostar em escritores malditos.

-Baby, você acha que eu tenho cara de escritor maldito? E dei um gole na cerveja.

-Na verdade, o Sr tem cara de bicha.

-Quem enviou os contos? Perguntei.

-Não sabemos. Não tinha assinatura no email.

-Qual era o título dos contos?

-A saga da Vagina 2, A puta da Domingos Ferreira e um lá em que o Sr parece se declarar para uma antiga namorada. Foi justamente esse que nos fez duvidar se era mesmo o Sr que tinha escrito os contos.

-Por quê?

-Muito lírico para o senhor.

-Você acha que eu sou uma máquina de foder e que não escrevo nada romântico?

-Na verdade, não acho muita coisa ainda. Acabei de o conhecer.

-Pois bem, você deve se referir ao da alma feminina. Muita gente vive dizendo pelos quatro quantos que sou um filho da puta bêbado, que não sabe amar.

-Se o Senhor souber amar tanto quanto sabe escrever sobre cus e vaginas e pênis, isso é um bom começo.

-Você duvida da minha capacidade de amar? O que você saber sobre o amor?

-O básico que toda mulher sabe. Que homem não presta, que não tem sentimento e que só quer nos levar pra cama. Depois disso, some. Por isso, como dizia um famoso escritor: "Eu comecei minha faxina. Tudo o que não serve mais (sentimentos, momentos, pessoas) eu coloquei dentro de uma caixa. E joguei fora. (Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade). A ordem é desocupar lugares. Filtrar emoções."

-Você acha que amar é jogar na defensiva? Que amar é citar Caio Fernando Abreu?

-Sr Chinaski, se seus relacionamentos forem reflexos do que o Sr escreve, isso mostra que o Sr não passa de um desiludido.

-Desculpe, minha querida, mas eu não lembro de perguntar seu nome.

-Nina.

-Nina. Bom nome. Vou lembrar de chamar quando estiver colocando no seu rabinho e depois quando for gozar na sua cara.

-...

-Nina, você já chorou por alguém?

-Não precisei chegar a esse ponto.

-Você já se pegou vários anos pensando em apenas uma pessoa?

-Já. Mas eu tinha 10 anos. Era meu professor.

-Você já achou que o suicídio era a opção mais viável para tentar esquecer um amor que te deixou?

-Acho o suicídio uma forma de fraqueza...

-Então você nunca amou ninguém. Na verdade, você ainda não está pronta. Beba mais cerveja...

-Não entendi a relação.

-Faça o que eu digo. Apenas beba mais e mais cerveja. Há tempo ainda.

-O Sr está bêbado?

-Vocês, jogam na defensiva, vivem citando Caio Fernando Abreu, se escondem atrás de uma falsa indiferença, se fazem forte na frente dos outros, mas se sentem extremamente vazias e vem até aqui, perguntar se eu sei amar? Porra, Nina, isso merece uma foda.

-O Sr é igual aos seus personagens. Acha lindo chamar uma mulher diretamente para dar uma foda.

-Quer que eu mande flores?

-Sr Chinaski, posso fazer algumas observações sobre algumas impressões que tive sobre o Sr?

-Claro. Deixa só eu pedir mais cerveja.

-Pois bem. Eu já percebi toda a sua tática. E o que quero dizer é que o Sr é extremamente encantador. Mesmo sendo um filho da puta, o Sr consegue ser encantador. Sabe que as mulheres acham charmosos os escritores. Mais que isso. O Sr sabe como jogar com uma mulher. O Sr é imperturbável e não costuma se abalar com facilidade. É diferente dos outros homens que conheci. Eles costumam fazer concessões demais, costumam ter dúvidas demais, costumam ser polidos demais. Acham que certos assuntos não podem ser conversados com uma mulher. Tratam a mulher como uma dama vinte e quatro horas por dia. Esquecem que somos putas, que gostamos de ser desrespeitadas e invadidas. Que gostamos que nos confrontem e que batam na nossa cara. Que o maior prazer de uma mulher é ser rendida de todas as formas por um homem. O Sr é machista. Isso me deixa muito molhada. O Sr é firme, a ponto de ser grosso e estúpido. E transfere isso para seus textos. Não tem medo de falar firme com uma mulher e de a colocar no lugar dela. O Sr também é sensível, ao seu modo, claro. Isso o faz um homem de muitas camadas. Sabe o que isso significa, Sr Chinaski?

-Que eu te deixo profundamente excitada. Que você quer me levar para a cama e tentar me decifrar?

-Exatamente, seu bosta. Eu quero que você me trate como uma putinha dos seus contos.

-E a questão da publicação?

-Podemos ver isso mais tarde. Mas, por favor, me come!

-Hum... Não posso, baby.

-Por que não? Não gostou de mim? Virou veado?

-Você é linda. Na verdade, é tudo que eu sempre quis comer na vida. Mas, chega de mulheres complicadas, mal resolvidas e mal comidas na minha vida. Chega de ter de pagar pelo passado dos outros. É foda quando você passa um tempo comendo uma mulher e, mesmo ela sabendo que não sairá daquilo, começa a te responsabilizar pelo sofrimento dela e começa a encher o facebook dos outros com frases de Caio Fernando Abreu. Chega um tempo na vida de um escritor que ele percebe que a quantidade de vaginas não é tão importante quanto a qualidade. Chega um tempo em que a gente percebe que meter não é tudo. E que não adianta encher uma xoxota de porra e deixar a alma vazia. Enfim, baby, não posso fazer isso.

Levantei, deixei algum dinheiro no balcão do Rafa e fui andando. Alguém colocou It´s only Love, dos Beatles. A vida já parecia um pouco melhor. É apenas amor E isso é tudo Por que deveria me sentir Do jeito que sinto? É apenas amor E isso é tudo Mas é tão difícil... Amar você. Sim, é muito difícil... Amar você... Amar você.

Meu talento ainda não estava no fim. E eu perdi meu filme com Sarah.

2 comentários:

AMARela Cavalcanti disse...

chinaski tá ficando bem caricato!

Lua disse...

ta...gostei! =)