10 de janeiro de 2012

Trepando e refletindo

-Nunca gozei tanto numa só noite. Disse ela ofegante, enquanto ele limpava o pau no lençol e estampava no rosto um sorriso orgulhoso. –Sabe, você é um bom amante, mas precisa ser menos selvagem. Você também poderia usar a língua de um modo mais brando.

-Meu bem, ele disse, não viajei de uma ponta a outra da cidade para vir tomar leitinho na sua tigela de carne.

- Como você é insensível.

- Nas histórias de amor, há mais que amor.

-Como?

- Nas histórias de amor, sempre há algo mais do que amor.

- Cara, você enlouqueceu?

- Infelizmente não.

- E que raio de assunto é esse? Perguntou ela, enquanto acendia um cigarro.

Silêncio por alguns instantes... Há tempos que ele não escrevia nada. Não porque não quisesse. Ele até tentava. Apenas não conseguia organizar as ideias. Tinha uma porção de coisas na cabeça. Tinha tempo. Tinha disposição. Só não conseguia vencer a interminável luta contra a folha em branco. Esse é o mal que assola os escritores. Cada dia em que você não consegue produzir nada, é como se fosse um dia perdido. Um dia sem palavras no papel, é um dia perdido. Uma punheta sem gozar, é tempo perdido.

-Cara, no que você tanto pensa? Perguntou ela novamente, enquanto acendia um novo cigarro em outro quase apagado.

- Eu e aquela velha aflição.

- Que aflição?

- Você não entenderia... Eu sou só mais uma criatura atordoada pelo amor. E é tudo deliciosamente confuso.

-Li uns textos seus. Não te conheço muito bem. Só sei que você fala e pensa muito em sexo. Não acho que amor seja um tema recorrente pra você.

- É uma forma de disfarçar meus sentimentos.

- Sentimentos? É algum tipo de pegadinha isso?

- hahaha. Ele riu. -Eu disse que você não entenderia. Ninguém entende.

Jack levantou e caminhou até o banheiro para dar uma mijada. Na volta, deu uma bela coçada no pau e pegou duas cervejas. Abriu uma e entregou outra para ela. Ele não sabia o que estava acontecendo. Estava bem estranho esses dias. Jack não era um cara muito sentimental, mas já tinha passado por poucas e boas nessa vida. Quer dizer, todo mundo pra ser alguém, tem que se foder um pouco. Jack havia se fodido razoavelmente bem, contudo, teve jogo de cintura e tirou tudo de letra. Só que algo insistia em voltar.

- Escuta, garota, como é mesmo seu nome? Perguntou Jack.

- É assim que os escritores trabalham? Comem a gente e nem sequer lembram o nome? E se eu tivesse uma pica no lugar da xoxota?

-Não precisamos fazer disso uma novela mexicana. E se fosse uma pica maior do que a minha, eu iria perceber logo.

-Meu nome é Sandra...

Jack avançou e a beijou furiosamente. Seu pau não subiu.

-Cara, você é realmente pirado. Assim como os seus textos. Aquilo tudo que está lá, é verdade mesmo?

- Só as que eu costumo me foder.

-Porra, nunca trepei com um escritor decadente.

Escritor decadente. Aquelas palavras soavam no ouvido de Jack como um eco numa montanha. Escritor decadente. Jack não era isso. Até porque, pra ser decadente, supõe-se que já se esteve no auge algum dia. Ele nunca esteve. Jack era o tipo de cara estranho que deixava a vida ir embora por entre os dedos. É claro que já havia escrito um ou dois contos bons. Nada de extraordinário. Além disso, Jack estava no rol dos escritores escatológicos. Aqueles que só falam de bundas e peitos e vaginas e pênis. Jack só havia escrito uma história na vida em que não pronunciou nenhuma dessas palavras. E foi um texto bem ruim por sinal. O forte de Jack era falar de putaria. Só que Alguma coisa estranha estava acontecendo com ele. Jack não conseguia mais falar disso. E o que era pior: ele estava tentando esboçar uns textos de amor. Porra, Jack, assim você nos mata de vergonha.

-Sandra, eu preciso me declarar para alguém hoje. Faz parte da profissão de escritor.

-E por que não se declara pra alguma ex namorada tua? Talvez o texto saia mais autêntico.

-É porque eu só posso me declarar pra uma puta de cada vez. E já que você está perto...

-Jack puro sangue de volta?

-Creio que não. Sinto que só vou voltar de verdade quando colocar pra fora todas essas merdas sentimentais que estão me bloqueado. É como sarrar e não gozar. Se você ficar esfregando e não colocar pra fora, aquilo vai ficar te incomodando.

-E ainda dizem que o romantismo acabou, Jack...

Jack começou seu texto enfadonho. Havia colocado na cabeça que precisava ser mais lírico. Fez uma auto-análise e achou que seus textos estavam mesmo “pesados” demais. Chegou a essa conclusão depois que recebeu uma carta de um editor dizendo que não iria publicar um de seus contos porque havia muitos órgãos genitais por linha. Desse modo, resolveu se aventurar em textos mais romantizados. A merda é que Jack não sabe escrever textos assim sem cair na pieguice.

“Em vários textos meus, como vocês já puderam ver, eu me referi ao amor como uma puta. Bem safadinha por sinal. Que te come de quatro e depois vai embora. Pensando bem, talvez o amor não seja uma puta. Putas só vem até você se forem chamadas. E com jeitinho. Se você for bruto, ela vai se assustar e não vai te atender. Ou se atender, não vai caprichar no boquete. Enfim, voltando, o amor, apesar de tudo (e é difícil para mim admitir isso) não é bem uma putinha. Podemos comparar o amor como um menino treloso. Daqueles bem filhos da puta sacanas mesmo. Em minhas andanças, eu já pude experimentar muita coisa nessa vida. E tenho que confessar que a melhor delas foi mesmo o amor. Porra, eu nem sei bem se foi amor. Talvez tenha sido, mas foi bom pra caralho. Sono compartilhado, acordar junto, cumplicidade, mãos dadas, programa básico juntos, nunca pensei que essas pequenas merdas fossem tão importantes. A satisfação de ser o motivo da felicidade de uma pessoa. Cuidar dela, ser cuidado, dedicar-se ao outro. Acredito que nossa vida tem mais sentido quando nos dedicamos saudavelmente ao outro. O amor brinca contigo. Faz de uma tristeza, uma demonstração de afeto e cumplicidade. Do desespero, ele se materializa no outro como porto seguro. Da alegria, ele faz uma felicidade extrema. Coitados daqueles que nunca experimentaram plenamente o amor.”

Fez uma pausa. Foi na geladeira buscar outra cerveja. Enquanto isso, Sandra lia o texto.

-Está uma bela bosta. Você não sabe falar sobre o amor. Você não pegou o espírito da coisa, Jack.

-Que espírito? Perguntou ele enquanto peidava algo parecido com sopa de urubu misturado com rato empanado.

-Por que essa necessidade de falar sobre o amor, Jack? Você não fala sobre o amor, você experimenta.

Enquanto pensava, Jack peidou novamente. E dessa vez se superou. Fedeu mais do que o outro. Coisa que parecia impossível. Só estando lá para se ter ideia de quão fedorento era aquele cu.

-Porra, cara. Tu sabes mesmo como tratar uma mulher.

-Isso porque você ainda não viu meu pai.

- Porra, o que andam te servindo por aí? Self service de carniça?

- Sandra, é possível que tenhamos apenas um “amor da vida” ou “vários amores da vida”?

-Ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez...

- Não?

- Claro que não, Jack. Os amores da nossa vida estão aí o tempo todo.

-E aquela sensação que dizem só sentir uma vez na vida?

-Porra, Jack. Nossas perspectivas mudam, cara. O amor da vida hoje pode não mais ser amanhã.

-Mas, se acaba assim tão rápido, talvez não seja amor verdadeiro...

-Tu fala que nem uma mocinha. Sai desse castelo, baby. E para de querer viver um conto de fadas.

-Mas eu já tive duas grandes experiências amorosas. E nunca mais consegui sentir isso. Deve ser por esse motivo que sou assim.

-Jack, lendo seus textos, jamais eu imaginaria tanta inocência em você. Isso é fofo. Dá até um charme. Dá vontade de colocar no colo.

-Até que não é má ideia chupar uns peitos agora...

-Reescreve a merda desse texto...

“Coitados daqueles que nunca experimentaram o amor. Muitos tem oportunidade, mas, por medo de se machucar, não permitem que o amor entre em suas vidas. Coitadas dessas pessoas. Na maioria dos casos são covardes e se fecham em casulos, não permitindo que nenhum invasor cheguem ao território de ninguém que é o coração.”

-Jack, tá ficando uma merda...

“Eu já experimentei o amor algumas vezes na vida. E confesso que me fodi bonitinho. Porém, trocaria tudo que tenho hoje só para sentir aquilo de novo...”

-Que merda é essa, Jack? Trocaria tudo que tem pra sentir aquilo de novo?

-Claro. Foi uma sensação linda.

-Jack, Jack... Há muito caminho por percorrer ainda. E hoje eu vejo o porquê de você estar em queda livre. Tua escrita Jack, a tua escrita está condicionada a essas frustrações amorosas. Porra, Jack, até eu que sou mulher sei disso. QUERER REVIVER SENTIMENTOS PASSADOS É ATESTAR SUA INCAPACIDADE DE VIVER ALGO BOM NO FUTURO, SEU CUZÃO!

Jack ficou sem palavras...

-Além do mais, Jack, você disse que já experimentou o amor algumas vezes. E que sente falta disso. Aposto que se uma dessas mulheres te procurassem para tentar voltar, você iria rapidinho, como um cachorro.

-Seria uma boa oportunidade...

-É isso que está te fodendo, cara. Eu chego aqui, doida pra dar o priquito, tu me come de um modo violento, eu gozo até o cu fazer bico e, depois que eu quero só descansar pra meter mais, tu simplesmente coloca uma calcinha e começa a falar essas merdas sentimentais. Porra, Jack, não se volta com uma ex namorada assim, cara. Na maioria dos casos, voltar um antigo namoro é uma tentativa patética de resgatar o que não está lá há tempos. Ou tua forma de pensar não muda?

-Até que você é uma putinha bem esperta...

Sandra levanta e vai tomar um copo d´água. Na volta, traz duas cervejas e acende um cigarro.

-Jack, aprende uma coisa, a vida é dinâmica. Se tua capacidade de amar se resume apenas a uma mulher, tu estás bem fodido.

Jack parou para pensar. Depois deu um gole na cerveja e continuou escrevendo.

“Eu já experimentei o amor algumas vezes na vida. E confesso que me fodi bonitinho. Só que, pensando bem, talvez não seja tão ruim ter me fodido um pouco. Se hoje me tornei esse canalha que fala com tanto orgulho das partes safadas, devo agradecer a essas frustrações amorosas. Até que se prove o contrário, todo homem é um canalha em potencial. E essa transição só acontece depois que o amor te enraba e vai embora. Sim. Talvez o amor seja mesmo uma puta, ou mulher safada, ou algo do gênero. O amor talvez chegue mais perto de uma gozada. Uma sensação surreal que dura dois segundos. É, isso é o amor. Uma diária e eterna gozada de dois segundos com a pessoa que você tem certeza de que não vai querer chutá-la da cama depois. O amor é se contentar com um boquete porque sua namorada está menstruada e você não gosta de comê-la de cabidela, porque dá um desespero ver a salsicha cheia de ketchup. O amor é andar de mãos dadas com orgulho de sua namorada enquanto tem um monte de gostosas te olhando e você não sente vontade de fazer nada. Ou pelo menos não deveria sentir. Porra, o amor... sempre o amor.”

Assim como Sandra havia antecipado, o texto de Jack sobre o amor estava uma bela bosta. Um monte de palavras soltas tentando definir uma coisa que ele buscava desesperadamente. Jack tinha uma natureza canalha e queria viver negando isso constantemente. Jack esqueceu que seus melhores textos (aqueles dois) ele escreveu quando não se preocupava tanto assim com o amor. Jack tinha um histórico de relações mal resolvidas e isso provavelmente começou a perturbá-lo. Jack esqueceu de que a evolução do homem é o canalha. E este, é o sonho de toda mulher. Por mais que elas neguem. Jack é um sortudo por ter se fodido na hora certa. Eu iria ficar bem triste de ver Jack casado aos 22 anos e pai de dois filhos. E há tanta vagina que Jack precisa conhecer ainda. Ele nem sequer chegou aos três dígitos.

Agora, de pau duro, avançou sobre Sandra e meteu carinhosamente. Ele não queria morrer sem experimentar novamente a delícia que é trepar com amor.

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