Abro os olhos, vejo a luz do sol invadindo o meu quarto anunciando a chegada de mais um grande dia. Grande dia? Ah, não. Hoje não. Eu só quero ficar na cama, sem fazer nada. Mesmo assim, os pássaros amontoados na planta que fica em minha janela insistem em cantar fervorosamente, como a exigir que eu aceite a chegada de mais um dia. Droga, hoje eu só quero ficar na cama. Será que é tão difícil entender? Hoje eu não quero viver, não quero sair. Hoje meu melhor companheiro será o ócio.
Alguém bate na minha porta, me convidando a apreciar o maravilhoso, ensolarado, quente e singular dia. Não, já disse que não quero. Sendo assim, fico irritado com facilidade, acabo falando coisas duras contra quem não tem nada a ver, minha energia fica ainda mais baixa, fico confuso, sinto uma impotência tomando conta de mim, não tenho vontade de fazer nada, passo sonolento pelo dia. É desse modo que meu corpo soletra a palavra P-R-E-G-U-I-Ç-A.
Levanto-me, com os olhos ainda semi-cerrados. Tropeço na quina da porta. Porra, essa quina tinha de estar no meio do caminho? Vou me arrastando até o banheiro, não cumprimento as pessoas da casa, não quero saber de nada nem de ninguém. Tranco-me, finjo que escovo os dentes, finjo que tomo banho, finjo que estou vivendo. Maldita indolência. Rouba-me a energia sem piedade. Suga minha força de viver com um sorriso sinistro, como a me desafiar, a me humilhar. Joga-me ao chão, pisa, zomba de mim. Eu não reajo, estou preguiçoso demais para tomar qualquer atitude. Sou apático até para recuperar minha própria vida de volta. Esse contexto torna-se ideal para manifestação de outro sentimento repulsivo. Quem vai assumir a partir de agora é a impotência.
Saio do banheiro, depois de um mágico banho gelado. Sinto-me um pouco melhor. Um pouco mais disposto. Resolvo encarar o dia, mostrar ao ócio quem manda aqui. Retomo as atividades habituais. Finalmente o dia me convence de que eu devo vivê-lo plenamente. Então, let´s go...
Começo a estudar, mas não consigo absorver um assunto absurdamente simples. O que será que está errado? É melhor fazer outra atividade. Pego um Bukowski. Hoje vou me acabar lendo Misto Quente. Henry Chinaski é sempre um ótimo remédio anti-apatia. Estranho. Hoje o Chinaski não está tão prazeroso. Resolvo mudar outra vez de atividade. Farei algo mais fácil, que não exija muito de mim. Vou encontrar alguns amigos. Só que, inexplicavelmente, meu corpo se fecha, sussurrando essas palavras; “hoje não me sinto bem para encontrar pessoas. Estou feio, magro, gordo, chato, irritado, preguiçoso, hesitante, distante, inseguro demais. Elas julgarão minhas roupas, meu modo de falar, a minha vida. Desculpe, mas hoje não me sinto digno de falar com alguém. Hoje eu não sou ninguém”.
Meu corpo se enche de raiva. É preciso canalizá-la. Paulatinamente, transformo a energia da raiva
5 comentários:
“hoje não me sinto bem para encontrar pessoas. Estou feio, magro, gordo, chato, irritado, preguiçoso, hesitante, distante, inseguro demais. Elas julgarão minhas roupas, meu modo de falar, a minha vida. Desculpe, mas hoje não me sinto digno de falar com alguém. Hoje eu não sou ninguém”.
Ontem, hoje, amanhã... colocou em palavras de uma forma perfeita um pensamento que há um tempo passa pela minha cabeça. e etc.
Bom o texto, Will. Bom mesmo. =)
Sempre há aquele dia de cão, no qual não conseguimos realizar nada. No meu caso, esses dias têm sido constantes. É foda canalizar a energia e alinhar a vida quando se está inerte. Mas felizmente, podemos tentar. A dificuldade maior é apenas começar.
Obrigada por visitar o meu blog!
Se possível, dê uma passadinha lá de vez em quando... Mas você é formado em letras, então por favor não compare, pois serei descartada imediatamente!
De qualquer jeito, gostei bastante do seu também! Especialmente da postagem "Da incrível arte de perceber as pessoas"...
Bom Dia (ou Boa Noite) para você!
Preguiça da porra de ler bixo!
hauhauhauhua
Abraço.
Tenho Orgulho de ter te criado bixo! hauhaua escreve bem demais esse caba!
Grande Abraço...
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