6 de setembro de 2011

Uma longa carta declarando o fim de um breve caso que nunca começou

Tocava no som:

Às vezes eu só quero descansar
Desacreditar no espelho
Ver o sol se pôr vermelho

Acho graça
Que isso sempre foi assim
Mas você me chama pro mundo
E me faz sair do fundo de onde eu tô de novo (...)

Automaticamente, vinham aquelas lembranças de um dia estranho. A vida dava uma volta e tentava lhe dar choques de realidade... avisando novamente que ele estava vivo.

O som continuava:

Nada sei dessa tarde
Se você não vem
Sigo o sol na cidade
Pra te procurar

Eu bem sei onde tudo vai parar
Já não tenho medo do mundo
Sou filho da eternidade

-Não podemos viver num mundo mágico e, em horas preestabelecidas, voltarmos bruscamente à realidade. Pensou ele em voz alta. Não podemos viver de doses de sonhos, para logo em seguida, sermos acordados com a mais cruel realidade...

O fato é que ele havia gostado dela. Não deveria, mas ele gostou. Não aquele gostar desesperado em que você se esquece da razão e tentar construir uma história a todo custo. Ele estava mais maduro. São horas como essas em que vemos que a idade ajuda em alguma coisa. A pressa e o jeito atabalhoado de se resolver as coisas, típicas da juventude, já não o acompanham mais. A astúcia, a paciência e, principalmente, o bom senso, são seus grandes amigos agora. E ele iria precisar muito deles. Afinal, tinha mais uma vez metido os pés pelas mãos.

Palavras. Era tudo que no momento ele podia oferecer. Porém, não apenas meras palavras. São palavras que, inexplicavelmente, vinham do seu íntimo e que era preciso colocar para fora. Era preciso gritar ao mundo. Era preciso sussurrar no ouvido dela. Só algumas palavras. Nada muito cafona. Nada muito forçado. Só que por um momento, ele lembrou de que não podia gritar ao mundo, porque as conseqüências seriam irreversíveis. Teve a ideia de fazer uma carta. Ele não sabia que ela era louca por cartas e que palavras tinham força com ela, desde que faladas do fundo da alma. Ele sofria de bloqueio criativo. Escrevia uma história vagabunda atrás da outra. Só tinha habilidade com palavras quando queria falar de vaginas e pênis e cus e os três juntos. Em um dado momento do passado, ele ficou famoso pelas coisas bonitas que escrevia. Falava e vivia o amor. Seus textos continham uma áurea de paixão acachapante. Faz muito tempo isso. Atualmente, ele perdeu a capacidade de se conectar com sentimentos desse tipo. Se tornou outra pessoa. E mudou, mas não foi para melhor. Entretanto, naquele dia, naquele marcado dia, algo de estranho aconteceu. E ele ainda sente o reflexo disso. Voltemos à carta. Era necessário escrever a carta.

“...

Nesse exato momento travo uma luta cruel com o papel em branco. Luta essa que tantos poetas e escritores e gente mais importante do que eu já teve de travar. Olho para a folha e fico aflito por não saber o que te dizer. Na verdade, o modo mais correto de fazer as coisas seria não te dizendo nada. Mas é preciso falar algo. Você já ouviu diversas vezes de mim que sou um aspirante a escritor que não escreve absolutamente nada que se aproveite. E que há exatos 26 anos estou com um sério problema de bloqueio criativo. Escrever isso deveria me deixar ainda mais bloqueado. Contudo, como esse tipo de escrita é diferente, as palavras fluem diretamente do peito sem ter que passar pelas retaliações do cérebro. Isso deveria ser bom. Ou não.

Meu bem, um dia de sol pode significar muita coisa em sua vida. Principalmente quando você anda meio confuso em relação a tudo. E foi um dia de sol estranho. Eu nem sabia onde eu estava. Não sabia para onde iria. Eu apenas disse uma coisa, você rebateu dizendo outra, e outra, e outra, e quando eu percebi, você não parou mais de falar. Pior. Eu não queria mais parar de ouvir tua voz. Ficaria a vida toda naquela conversa em que só você falava. Só que você tinha que ir embora. Para um mundo real do qual não faço parte. Todas as vezes que te vejo indo embora, meu coração parece bater do lado de fora do peito, exposto a tudo que antes eu não tinha medo. E isso é bem assustador. Você simplesmente apareceu e começou a tocar pontos que não deveriam ser tocados. Eu fiz um pacto silencioso com o mundo e ficou decidido que certos sentimentos não me acompanhariam. Você me aparece e estraga tudo. Eu não deveria ficar lembrando do teu olhar, nem da tua risada histérica e engraçada. Muito menos dos teus chiliques. Os teus carinhos deveriam ser algo sem muito significado para mim. Apenas deveriam. Não são. A tua voz gasguita é algo que me faz falta. Teu abraço. Devo ter sentido isso uma ou duas vezes. Foi o suficiente para dizer que quero senti-lo por longos anos. Aí você me diz que é tudo muito recente e que deveríamos ir com calma... Você simplesmente diz que as coisas não funcionam assim. Que é tudo muito novo. Que é tudo muito intenso. Porra, a graça da vida é que as coisas não dependem de tempo para acontecer. Já te disse essa frase tantas vezes que você vai rir ao ler novamente. Igual ao dia em que assustada, você se deu conta do que estava acontecendo. Hahahaha Eu deveria deixar você fugir, eu deveria te deixar ir embora. Deveria apenas abrir os braços e te deixar. Mas, caralho, chega um tempo na vida em que a gente tem que lutar por alguma coisa. Mesmo que a gente chegue um pouco atrasado, a gente ainda tem o direito de lutar. Mesmo que seja uma luta perdida. Hahaha O Velho Safado dizia que nós devemos sempre estar abertos a possibilidade de uma derrota total. Mesmo que a razão para essa derrota pareça incerta. Se Bukowski disse isso, quem sou eu para contrariá-lo?

Essa não é uma carta comum. É uma carta que será atualizada constantemente. Até que eu coloque pra fora tudo o que você me trouxe. E não tenho dúvidas de que você virá aqui todo dia olhar se escrevi algo. Hahahaha Vai ser interessante te movimentar a distância, querida. Te fazer sentir coisas sem necessariamente estar perto de você. É assim que os escritores agem. É assim que os bons amantes agem. É assim que agem também os filhos da puta como eu. Eles escolhem uma musa, passam alguns bons momentos com ela, escolhe uma trilha sonora, e começa a escrever um monte de abobrinhas se achando o entendedor do amor. Porém, cada detalhe escrito aqui, será para você. Ninguém vai entender nada, só você... "

Intensamente seu,

Henry Chinaski.



Por fim, algo que você me dedicou:

Eu quis te conhecer, mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade

Eu quis te convencer, mas chega de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir
Pode ser a eternidade má
Eu ando em frente por sentir saudade

8 comentários:

Anônimo disse...

bora ver né ! escreve algunha coisa divertida , sai dessa foça porra negocio chato da porra de se ler da até vontade de cagar de tão merda que é

Anônimo disse...

bora ver né ! escreve algunha coisa divertida , sai dessa foça porra negocio chato da porra de se ler da até vontade de cagar de tão merda que é

Anônimo disse...

bora ver né ! escreve algunha coisa divertida , sai dessa foça porra negocio chato da porra de se ler da até vontade de cagar de tão merda que é

Anônimo disse...

bora ver né ! escreve algunha coisa divertida , sai dessa foça porra negocio chato da porra de se ler da até vontade de cagar de tão merda que é

Anônimo disse...

Então caga, porra. Se tu não sabe tirar proveito dos momentos de fossa, dificilmente sabe aproveitar plenamente os de felicidade.

E tu tá me achando com cara de Bozo é? Que tu coloca a fichinha e eu automaticamente te faço rir?

/Will

Steel disse...

HAHAHAHAHAHAHAHA

Steel disse...

Prisão de ventre!

Anônimo disse...

Não conhecia esse teu lado, apaixonei.