17 de março de 2011

Feliz aniversário

O dia começou uma merda. Acordei encaralhado e puto da vida sem o menor motivo. Virei para o criado mudo e peguei um cigarro. Acendi. Traguei. Olhei novamente para o criado mudo e vi que ainda restava meia garrafa de Cavalo Branco. Peguei e bebi na garrafa mesmo. Aprendi que é assim que um macho de verdade lida com um dia ruim. Bebendo uísque quente e na garrafa.

Tomei alguns goles e lembrei que tinha que levantar para trabalhar. Levantei e vi tudo girando. Fui até o banheiro, dei uma bela vomitada e uma cagada de uísque, me limpei, tomei banho e ri daquela merda toda. Parece que o dia estava começando a ficar engraçado.

Era 01 de Abril. Lembrei que era meu aniversário. Aliás, não tem como esquecer essa data. Cai justamente no dia da mentira. Já podia imaginar meus colegas de trabalho com aquelas brincadeiras babacas do tipo: “01 de abril!” Enfim, fiquei puto novamente e fui atrás do meu uísque.

Eu estava me embebedando mais do que era permitido para trabalhar. Não havia colocado nada sólido no estômago ainda, mas a garrafa de uísque estava quase no fim. Procurei alguma coisa pra comer. Minha namorada, que havia dormido comigo noite passada, não deixou nada pronto. Ainda por cima foi embora sem me avisar. E ainda esqueceu-se do meu aniversário. Já não se fazem mais namoradas como antigamente, pensei. Peidei em homenagem a ela, quase morri sufocado com a carniça que acabara de sair de dentro de mim e fui procurar algo rápido para comer. Já estava quase atrasado. Mais uma vez fiquei puto. É incrível como tenho ficado bastante puto ultimamente.

Incrível como um homem que mora sozinho tem sempre um estoque de miojo em seu armário. Bacon, costela, camarão, carne, galinha, peixe, verduras e legumes, sopa de miojo, churrasco de miojo, miojo ao molho branco, enfim, uma variedade de sabores especialmente preparada para filhos da puta preguiçosos como eu. Era só ferver a água, esperar alguns minutos, afogar a massa do macarrão, escorrer e jogar o tempero por cima. “Caralho, bem que miojo poderia ser um pouco mais prático”, pensei. Depois de todo esse processo, peidei de novo. Mas dessa vez não fiquei pra conferir o odor.

Comi quatro miojos lembrança de costela e fui ao quarto me vestir para trabalhar. Meu trabalho era um saco. Absolutamente burocrático. Eu trabalhava no departamento de carimbação oficial do IML. O presunto chegava lá, o pessoal fazia a limpeza e os outros procedimentos. No fim de tudo, eu olhava nos olhos do morto e dava o aval se ele estava liberado ou não. Se estivesse liberado, dava uma carimbada autorizando o envio do corpo à família. Porém, antes de o corpo sair, alguém da família deveria se dirigir a minha sala e assinar um documento que deveria ser autenticado e protocolado em três vias, ficando uma no IML, outra com a família e a outra enviada para o Governo do Estado com o intuito de fazer o censo de quantos presuntos chegavam a nós por mês. Eu não entendia muito bem o porquê disso. Apenas fazia o que mandavam.

Chegando ao trabalho, vejo de longe meus colegas com os seus sorrisos amarelos estampados naqueles rostos babacas. – Bom dia, Chinaski. Disse um deles.

- Bom dia um caralho! Tô comendo é cu, né conversa não. Respondi forçando um sorriso.

-Sabe que dia é hoje? Perguntou outro.

-01 de abril, porra. Dia da mentira. O que tem demais nisso?

- Não está esquecendo de nada?

- huuummm...

-Hoje é sexta feira, seu bosta. E é a primeira sexta feira do mês. Sabe o que isso significa?

-Caralho, esqueci! Respondi pasmo.

Toda primeira sexta feira do mês, o chefe do IML organizava um happy hour totalmente de graça. Chopp, cerveja, uísque, jurubeba, mulheres. Tudo free. Ele dizia que como nosso trabalho era bastante chato e estressante, nada melhor do que começar o mês enchendo o cuzinho de cana. Como era sábio esse homem. Deus o abençoe.

-Mas o chefe falou que esse mês não vai rolar o happy hour. Disse um deles.

-Por quê? Perguntei incrédulo, praticamente chorando.

-Ah, cara... no último que rolou ele acha que você extravasou demais. Até hoje ele não engole a estória de que você comeu no banheiro da boate a Ana Bisturi.

Ana Bisturi era do setor de autopsia. Ela tinha esse nome porque, como nenhuma outra pessoa naquele IML, tinha uma facilidade impressionante de cortar as coisas. Tanto as mortas, como as vivas, se assim fosse necessário.

-Ah cara, isso já faz parte do passado. Eu e a Ana Bisturi somos grandes amigos. Eu disse.

-Amigos demais, para o gosto do chefe. Você sabe, Chinaski. O chefe é louco por ela. É bom você ficar longe e não se meter em mais encrencas. Senão a próxima autopsia que a Ana vai fazer é do seu bilau. Que por sinal, deve ser uma visão do inferno.

- HAHAHA. Eu ri. –Vão tomar no cu. Eu preciso trabalhar. Até mais.

-Até.

Fiquei triste por não rolar o happy hour daquele mês. Mas fiquei mais triste ainda porque nenhum filho da puta desses lembrou que era meu aniversário. Nem minha namorada, nem meus amigos, nem meus pais, ninguém, absolutamente ninguém havia lembrado que era meu aniversário. Bando de filhos da puta. Só estão preocupados com seus próprios cus, refleti.

Aproveitei que não tinha muito movimento aquele dia e adiantei todo o trabalho. Passei a manhã carimbado como um louco. Meu Deus, de onde vinha tanta gente morta? Se esse ritmo não diminuir, daqui a uns dias sou eu que morro de tanto trabalho.

Perto da hora do almoço, minha secretária, que por sinal era muito gostosa, bateu a minha porta:

-Sr Chinaski, posso entrar?

-Claro, Rosinha, fique à vontade, respondi, tendo um leve princípio de ereção.

-Sr, Chinaski, eu sei, que apesar de todo mundo só lembrar que hoje é o dia da mentira, é também seu aniversário.

- Oh, Rosinha! Você lembrou. Finalmente alguém nessa porra lembrou que eu existo. Estou tão feliz.

-O que o senhor acha de irmos almoçar pra comemorar?

-Claro, claro! Oh, como estou feliz. Onde vamos?

-Não sei, no caminho a gente escolhe.

Peguei minhas coisas e a acompanhei.

Saímos e eu pensei que Rosinha nos levaria a um restaurante de nome sugestivo, chamado Coma Tudo. Digo sugestivo porque os atendentes são gays, o gerente é gay e muitos clientes, fora eu e Rosinha, também são gays. Os garçons te servem tentando fazer aquele olhar sedutor, falando algo do tipo: “- o que o senhor vai querer hoje? Franguinho a frufru com molho especial? É o prato do dia. E a racha, vai ficar só na alface?” Enfim, sempre desconfio que o nome é Coma Tudo porque se você vacilar, come até o cara que lava os pratos. Uma situação nada agradável essa.

Porém, eu me enganei feio. Rosinha nos levou a um restaurante reservado e pediu mesa só para dois. O restaurante era uma coisa muito sofisticada e a comida parecia ser boa. De entrada, veio um cara todo empacotado perguntando se iríamos beber algo. Rosinha pediu um casillero Del diablo. Para comer, pedimos batata rostie e bradwurst com mostarda escura. Eu nunca havia nem ouvido falar naquele prato. Mas parecia ser bom.

O vinho chegou e tratamos logo de abastecer nossos copos. Meu Deus, como era delicioso aquele vinho. Bebi como um camelo bebe água no deserto. Rosinha era fraca para bebida, no fim da primeira taça, ela já ria a toa. Tratei de dar conta do resto da garrafa.

A comida de nome estranho chegou e estava bem apetitosa. Comemos como dois cavalos. No fim, eu já não agüentava mais. Pagamos a conta e fomos embora.

No caminho de volta para o trabalho, Rosinha comentou como o dia estava bonito e disse ainda que nós tínhamos bastante tempo para tomarmos um vinho que estava na casa dela antes de voltarmos ao trabalho. Achei a ideia excelente e involuntariamente, fiquei de pau duro. A combinação mulher gostosa, mais vinho, mais só nós dois em seu apartamento me deixava bastante eufórico. Rosinha era uma mulher direita e jamais se insinuou para mim. Contudo, sempre há uma primeira vez e sinceramente, eu achava que ela estava precisando de uma boa dose de pica. Sorte a minha.

Chegamos ao seu apartamento. Estava um calor dos infernos. Rosinha tirou seu paletó e me disse que iria ao quarto tirar outras coisas. Nem é preciso dizer que quando ela falou isso, tive mais uma ereção.

- Fique à vontade. Ela disse. –Volto já.

-Ok. Eu disse.

Esperei ansiosamente no sofá por ela. Fiquei imaginando que ela estaria tomando banho e voltaria com uma lingerie preta matadora. Passado alguns minutos, Rosinha me aparece com um bolo enorme, seguida por minha namorada, meus pais, meus amigos de trabalho, meu chefe e Ana Bisturi. Todos cantando “parabéns, pra você...”

Enquanto isso, eu continuava no sofá... nu... de pau duro.

5 comentários:

Lua disse...

hahahahahaha...
eu ri.. foi ótima essa!
=)

Steel disse...

Puta que pariu
o herói da literatura subversiva brasileira eis aqui, oH!

Anônimo disse...

Muito Bom cara hahahahahaha...

Steel disse...

E tome anônimos!

AMARela Cavalcanti disse...

já disse pra não escrever posts longos q me dá preguiça d eler... =(
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk