- Qual o oposto de livre?
- Preso?
- É, deve ser. – Tomei mais um gole da minha cerveja. E continuei:
- Você tem alguma palavra preferida?
- Atmosfera. – Disse, depois de pensar um bocado.
- Sabe, eu tenho uma palavra preferida...
- E qualé?
- É “queda-livre”.
- Mas aí seriam duas palavras...
- Sim, eu sei, eu sei. É o que os professores de português chamam de palavras compostas.
- Mas por que essa palavra?
- Pô, não sei... Não sei se é porque eu só gosto da palavra e alguma coisa da sua etimologia, ou se algo no conteúdo me atrai.
- Que que tem?
- Que que tem, que, não pode haver queda-presa. Porque se for queda presa, vai deixar de ser queda.
- Sim...
- É por isso que eu gosto de queda-livre.
Então tomamos mais um gole de cerveja e pedimos prum garçom felá-da-puta, mal-humorado e com má-vontade em trazer a calabresa com fritas.
- Mas... – continuei. – Mas, será que é possível medir as palavras?
- Como assim, letra por letra?
- Não, digo... a palavra “tijolo”... com que eu posso medir essa palavra. Digo, com quantos centímetros esse meu tijolo será medido.
- Depende de que tipo de tijolo você tá falando.
- É... – tomei mais um gole. – Mas deve existir algo que meça... deve existir algo para medir as palavras.
- Deve? Por quê?
- Porque da mesma forma que existe um céu, existe um chão.
- An, sei sei...
- E qual é o tamanho idéia da sua atmosfera?
- Acho que bem grande...
- Viu, como você pode medir a sua atmosfera?
- Acho que temos diferentes tipos de medidas.
- Tudo bem, podemos até ter diferentes tipos de medidas, mas... os meus 2,2 centímetros literários, podem equivaler a talvez; 1,9 centímetros literários seus.
- Ok, mas que a minha atmosfera é grande, é.
- Minha queda... eu gostaria que ela fosse infinita.
- Por quê?
- Eu gosto da idéia de cair pra sempre, porque vai deixar de ser uma queda para ser um vôo.
- É, não deixa de ser um vôo. Se você estiver caindo, é só ficar de cabeça-pra-baixo, e vai estar subindo.
- Qual a maior palavra que pode existir?
- Maior palavra?
- Digo... se a gente pode medir as palavras, qual seria a maior palavra?
- Não sei... talvez “amor”?
- Naaaam, isso já tá manjado demais...
- Que tal, absoluto?
Finalmente chegaram as batatinhas e as fritas...
- Garçon, outra cerveja aí, na moral. – Pedi. – Mas veja... depende do tamanho do absoluto. - Voltei a conversa.
- Porra, absoluto, vai ser sempre absoluto, cacete.
- Ok, ok... Se deve existir uma maior palavra, deve existir uma menor, um átomo de palavra.
- É, deve existir.
- E como a gente alcança essa porra?
- Com um telescópio literário.
- Porra, que idéia do caralho!
- Que foi, que foi?
- A gente não precisa medir a palavra pra ver qual é a maior, basta saber qual é a substância Elemental da palavra, porra!
- Como?
- Simples... você disse atmosfera, e o que pode conter substancialmente na porra da tua atmosfera.
- Acho que... – Ele deu um gole. Todo o mundo que eu desconheço.
- Então, porra! A gente faz assim, a gente pega a palavra, sei lá, por exemplo: “cafona”, e depois tira as suas medidas, e compreende seu elemento básico... E uma vez desfragmentando tudo da palavra fica mais fácil em estendê-la ao infinito.
- Massa... como?
- Acho que... se perdendo na palavra. Deve existir uma palavra que uma vez dita, modifique totalmente o mundo, modifique totalmente o momento, e dessa palavra, seremos escravos, até que uma vez dita, ela consiga nos libertar.
Até que passou uma gostosona perto do bar:
Que tal criarmos teorias universais?
- Benza-te, Deus.
- É muita mulher pra uma pitoca só, olha!
- Ah, se eu fosse homem!
- E tu és o quê, porra?
- Sou menino!
- Ali, peito mandou lembrança, viu.
- Essa tem cara de quem pede um tapa!
- Bote fé, bote fé.
Após o silêncio da concentração melancólica e sexual, voltamos a realidade:
- Mas sobre o que estávamos falando mesmo?
- Sei lá...
E perdemos a maior descoberta literária da humanidade, por causa de uma mulher gostosa.
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