10 de maio de 2011

O dia em que me transformei em Henry Charles Bukowski (Parte II)

(Continuando...)

Eu não lembro bem como aconteceu, mas parece que depois de algum tempo, minha cabeça simplesmente entrou em parafuso. Num instante eu estava no terraço da casa trucidando minhas cervejas. No outro já estava na praia, colocando todos os bofes pra fora e implorando por mais bebida. Eu havia perdido muito líquido naquelas vomitadas e era preciso repor de maneira eficaz. Levantei cambaleando e fui até a barraquinha mais próxima. Só tinha aguardente. Nem pensei duas vezes. Joguei meio copo para dentro. Em um segundo vi o mundo girar. No outro, eu estava novamente no chão. Aproveitei que estava numa posição confortável na merda, olhando para o céu e resolvi falar com Deus:

-E aí, Deus? Eu disse. Mas não obtive resposta.

-Qual é, Deus? O senhor também vai me censurar? Só porque eu bebi um pouquinho além da conta?

O céu começou a ficar meio escuro e como num clichê de filmes americanos, ouviu-se alguns trovões. Deveria ser Deus, arretado comigo.

-Chinaski, meu filho... Deve ter respondido Deus, já que ouvi umas vozes vindo do céu. Quase me caguei de medo. - Qual o prazer em se colocar em um estado deplorável de perdedor desses? Por que você não facilita meu trabalho e para de fazer tanta merda? Indagou Deus.

-Por que o Senhor não facilita o meu e me cura dessa ressaca? Disse isso com um sorriso maroto na cara.

-Pra quê? Pra tu encheres teu fígado de bebida de novo? Já não foi suficiente? Qual o sentido disso, meu filho? O que você ganha, o que você busca? Não vê que assim só machuca as pessoas ao redor?

-Pô, Deus... Desculpa pelo palavreado e tudo, eu to aqui me controlando para evitar palavrões com o Senhor, mas, sabe como é, né? Eu sou um cara que se posiciona do lado dos vencidos, dos transgressores, dos que não respeitam muita coisa.

-Sim, mas o que isso tem a ver com nossa conversa?

-Na verdade, porra nenhuma. Era só pra o Senhor saber que eu gosto muito desse discurso do Roberto Piva. Além do mais, Deus, eu não sei viver de outra forma. Quer dizer, até posso tentar, mas acho que não vai ser divertido. Sabe Deus, às vezes penso que esse meu estilo de vida esconde uma espécie de catarse. Não que eu ache bonito ser bêbado e filho da puta. Mas, se apenas um homem fizer isso e todos verem que não é nada bom ser assim, ele servirá de exemplo para que os outros não façam. Então me encarreguei dessa árdua tarefa. Eu bebo e fumo e trepo para que as pessoas vejam o quão fodido eu sou e procurem um estilo de vida mais virtuoso.

-Chinaski, disse Deus com certo sarcasmo... Essa foi a pior merda que eu já ouvi, desde quando o diabo tentou Jesus. Pelo menos você foi original e eu quase movi um músculo da minha face. Por quase me fazer rir, eu vou te colocar em coma alcoólico e quando você sair dessa, decidirá o que é melhor pra sua vida.

-Coma alcoólico é bronca, Deus. Tem só como curar a ressaca não?

E tudo se apagou...

A única coisa que me lembro é que eu estava na casa de Malkovich, na cama, limpo, cheiroso e com um pouco de dor de cabeça. Tentei levantar. Caí. Tentei ficar de pé de novo. Caí mais uma vez. Fui de quatro até a sala. Algum filho da puta me ofereceu cerveja. Aceitei. Dei um gole, ri daquela merda toda, levantei me apoiando na parede e fui pro segundo round. Ou eles achavam que eu iria perder a luta tão fácil?

Todos ficaram surpresos ao me ver. Achavam que eu não levantaria daquela cama tão cedo. Eu só pensava que nesse momento Bukowski estava se revirando no túmulo de tanto orgulho que estava de mim. Ele sabia que um cão como eu não seria abatido tão facilmente.

-Então, você conseguiu se levantar, seu bostinha? Perguntou o tio de Malkovich.

-Olha velho, não me enche a porra do saco. Eu só quero ser feliz e tomar uma bebida e ficar um pouco embriagado e ainda por cima, fumar uns cigarros. Ah, também quero foder a Sarah. Faz tempo que não dou umas boas tapas naquele rabo.

-Não sei o que ela viu em um derrotado como você.

-Velho, aprenda uma coisa. Amor de pica, onde bate fica.

-Isso eu tenho de concordar.

-Vai lá e pega umas cervejas pra nós dois. Vamos comemorar alguma coisa.

-Você não deveria beber tanto. Não vê que já passou dos limites? Tiveram que te buscar na praia, de tão fodido que você estava.

-Olha velho, eu lembro de cada detalhe.

-É mesmo? Você por acaso se lembra o convite que você fez a minha esposa?

-Huuummm... não. Mas certamente, não a chamei para trepar.

-Chamou sim. E enquanto ela estava no banheiro lavando sua chapa, você disse que seu tesão era receber um boquete de uma banguela.

-E ela topou? Perguntei inocentemente.

-Vai tomar no cu. Disse o velho taxativamente. E saiu.

Aceitei o conselho do velho e peguei leve na bebida. Afinal, ainda não eram não 22 horas e tínhamos uma noite inteira pela frente. Os convidados já estavam me olhando de lado. Provavelmente, eu havia feito muita merda. Pena que não conseguia lembrar.


(Continua...)



P.S: Tô dividindo a bosta desse conto em partes para que não fique muito cansativo e para que também eu possa ganhar tempo para escrevê-lo com calma. A terceira e última parte já foi iniciada, mas, não criem muitas expectativas em relação ao fim. O desfecho é absolutamente previsível e tem tudo pra ficar uma bela bosta. ;-)

Um comentário:

Steel disse...

Eu não sei como tem gente que se dói lendo essa porra.

É aquela história:

"só se ofende, se quiser ser ofendido."