Namorar não é definido por estar junto

É sempre bom prestar atenção aos detalhes técnicos.

Ele se sentia muito bem junto dela. Queria, sempre que possível, estar perto dela. Era bastante atencioso e fazia o possível para vê-la bem e feliz. Ela gostava bastante dele também. Contudo, vê-lo constantemente não era uma das prioridades dela. Se estivessem juntos naquele momento, ótimo. Se não, deixariam para outro dia e estava tudo bem. A vontade dele era fazer com que a relação evoluísse, crescesse, fosse uma coisa prazerosa e saudável. A vontade dela era cobrir os espaços vazios entre a saída com os amigos e os momentos em que ela queria ficar sozinha. Para ele, aquilo era um namoro. Para ela, apenas estavam juntos. Depois de um tempo, isso os destruiu...

Soa familiar?

O que é namorar?

Um texto bastante famoso que circula pela internet diz que “beijos não são contratos e presentes não são promessas...” Se fôssemos fazer uma definição de namoro, esse trecho seria perfeito. Mais do que beijos, abraços, sair de mãos dadas e tirar fotografias alegres, conhecer a família e os amigos e almoçar juntos no domingo, namoro é definido pela entrega recíproca do casal, tanto nos momentos bons quanto nos momentos ruins. É definido pelo grau de cumplicidade e companheirismo, pela vontade de querer conhecer o outro sempre mais e também pela certeza de que uma relação nunca pode ficar parada muito tempo num mesmo lugar. Ela deve sempre evoluir, se transformar, andar para frente. O pior erro dos casais é achar que a relação, quando se encaminha para um momento estável, não há mais nada para se fazer por ela. Sempre há algo que se possa fazer. E o casal que logo percebe isso, tem mais chances de prolongar uma relação saudável, madura, feliz.

Contudo, namorar não se resume apenas aos momentos bons. O que seria da vida se não tivesse os momentos difíceis? A mesma coisa vale para a relação. Não abandonar o barco na primeira tempestade, não ser egoísta e saber respeitar o espaço e a opinião do outro, reconhecer que ele tem falhas e encontrar um modo saudável de lidar com isso é uma das coisas que define o sentido de namorar. Aprender com o outro, ter paciência, saber a hora e o modo de lhe falar alguma coisa mais dura também ajuda a definir esse sentido. Mais do que os momentos bons, é nos momentos difíceis que a relação é de fato provada e amadurecida. Quanto mais o empenho do CASAL em superar aquilo, mais fortalecida será a relação.

O que é estar junto?

Saber que há sempre uma pessoa ali, que se molda de acordo com a nossa disponibilidade é uma coisa bastante confortável. Beijamos aquela pessoa, transamos gostoso com ela, passeamos, fazemos programa de casal e, para os mais modernos, até levamos em casa para jantar. Entretanto, não há nada oficial. Agimos como um casal, mas só quando estamos um perto do outro. Longe dali, não ligamos, não damos notícia, não nos importamos muito. O que vale é aquele momento, o que estou com a outra pessoa. Quando estamos longe, cada qual cuide de sua vida.

Esse é o contexto do estar junto. E não há nada de mal ou errado nisso. Quando “estamos juntos”, não temos mesmo “obrigação” nenhuma, responsabilidade nenhuma. Agimos como queremos e fazemos o que temos vontade. Se quisermos sair com a outra pessoa, ligamos para ela. Se não estamos a fim, simplesmente saímos. Não há cobrança, não há necessidade de satisfações. É como foi dito mais acima, quando estão juntos, são um casal. Quando não estão, cada um que cuide de sua vida da melhor maneira possível. Bastante excitante isso.

Misturando os dois

É no começo da relação que as coisas devem ser ditas e esclarecidas. Não adianta de porra nenhuma querer fazer isso depois que já se tem meses ou anos de namoro. Se pretende namorar, deixe claro isso. Se só quer curtir, fazer um sexo conveniente, mas, de modo algum, ter “vínculos” com alguém, deixe claro isso também. O que faz com que as pessoas sofram tanto é a sua incapacidade de perceber o que estão tendo ou oferecendo naquele momento. “-Porra, eu faço tudo por ela, quero vê-la bem, quero levar pra um monte de lugar, mas ela meio que se recusa a isso.” “-Aí, amiga, eu gosto quando estou com ele, mas quando não estamos juntos, eu quero ver outros também. Ele age como se a gente namorasse. A gente só faz ficar de vez em quando. Será que ele não percebeu que a gente não tem nada além disso?”

Quando um casal se propõe a ficar, ele faz tudo que todos os casais fazem. O que difere é a ausência de compromisso e a não necessidade de nomear a relação. Ele também não precisa ficar alimentando aquilo, já que é uma coisa esporádica. Por que diabos eu vou plantar e cuidar de um pé de tomate, se eu só como tomate, no máximo, duas vezes por semana? É bem simplório e cru, mas é a lógica.

Um casal que se propõe a namorar deve ter em mente que o sentido disso é bem mais amplo do que quando estão juntos. Namorar, como foi dito no começo do texto, envolve uma série de fatores que, se você não está disposto a oferecer ou passar, nem adianta começar uma relação. Não namoramos apenas quando estamos nos agarrando. Ou quando estamos nos falamos ao telefone. Namoramos quando nos entregamos àquela pessoa, quando nos dedicamos, quando cuidamos da relação, quando aprendemos a respeitá-la como ela é e quando conhecemos seus defeitos e, sobretudo, aprendemos a conviver com eles. Namoramos quando estamos dispostos a mergulhar de cabeça para o que der e vier. Se gostamos dos momentos bons da relação, mas fugimos quando aparece os ruins, não temos nem de longe um /a namorado /a. Temos um rolo que consideramos mais sério ou oficial. E só. Namoro sempre vai ser definido pela entrega. Ficar junto, pela conveniência. Contudo, sabendo o que é melhor para o casal, é possível tirar proveito de ambos. Sempre.