Há um ditado que diz que não devemos fazer compras quando estamos com fome, pois sempre acabaremos levando mais do que precisamos. Da mesma forma, não devemos embarcar em relações quando estivermos carentes, pois acabaremos entrando em relacionamentos confusos buscando no outro o amor que não encontramos em nós mesmos.
Invariavelmente, todo mundo já se sentiu carente um dia, por mais forte e bem resolvido que seja. Parece que ela advinha o dia em que estamos mais suscetíveis. Aquele amigo que foi pra balada a fim de descolar umas gostosas, e no término sai com uma séria candidata a dragão da noite. Aquela sua amiguinha, aquela mesma que vivia esnobando o cara pegajoso, chato e feio que vivia enchendo o saco dela. Quando menos se espera, lá estão os dois juntos, no maior love. Qual o motivo que levou os dois em questão a fazer tamanha merda? SECA! É como se quiséssemos comer um suculento galeto, mas nos conformamos em comer apenas um urubu ossudo.
Essa simpática ave pode se transformar num delicioso galeto, depende muito da sua fome.
Quando estamos carentes, as coisas que antes nos pareciam feias, se tornam inexplicavelmente belas. Passamos a chamar “urubu de meu louro”. Os que antes eram chatos e pegajosos, se transformam na melhor companhia que podemos encontrar. Tudo isso acontece como em um passe de mágica, de repente um sapo cheio de verruga se transforma no mais novo galã dos cinemas ou na mais nova gostosa peituda da novela. É incrível nossa capacidade de fazer besteira quando estamos sensíveis. Qualquer migalha de atenção, qualquer sorrisinho com cárie ou qualquer receptividade para nosso lado, é um motivo para a aproximação.
Doar intensamente seu amor ao companheiro, oferecendo toda espécie de carinho, afeto, agrado, abrindo mão de sua própria vida em função do outro não vai te fazer menos carente e nem vai despertar o amor e gratidão por você. Temos a idéia errada de que fazendo tudo, temos o direito de receber de volta. Dificilmente isso acontece. Então nos frustramos, nos deprimimos e ficamos ainda mais carentes. É foda.
Diversos fatores podem gerar carência. O maior deles começa quando a pessoa não tem objetivos fortes na vida, além do amoroso. Ela não edita e não tem outras preocupações consistentes e passa a priorizar de forma doentia esse aspecto. O companheiro vem em primeiro lugar, muitas vezes abrem mão de seus amigos, trabalho, família, simplesmente para satisfazê-lo e sustentá-lo ao seu lado o maior tempo possível.
A carência não é exclusividade de pessoas solteiras. Ela também ataca casais com voracidade incomum, sugando até a última gota de lucidez. Sabota a relação com insegurança e faz perder o foco do que realmente era importante no namoro. Começa então uma série de cobranças sem fundamentos, ciúmes avassaladores e desconfianças absurdas. Discutir relação se torna tão banal quanto o que você faz no banheiro todo dia. Bastante desagradável.
Sair do estado de carência não é fácil e exige certo esforço. Mas ficar se contentando com qualquer pangaré vestido de alazão que aparece por aí é uma postura covarde. É como se você dissesse a si mesmo que não consegue nem merece algo melhor. Você deve aprender a ser autônomo, a se sentir bem sozinho, o que não significa que deva se isolar. Esse é um passo fundamental para espantar a maldita seca.
Será que assim alguém vai saber que fui eu que fiquei com aquele dragão?
Priorize sua vida, saiba dar a devida importância a seus valores, idéias e estimule o contato com suas amizade. Esteja aberto a novas amizades ou experiências de vida, dedique-se a um trabalho produtivo que goste e no qual sinta-se realizado, tenha vários prazeres em sua vida e principalmente não limite o seu existir, o seu propósito de viver em função de uma relação. Isso não é uma garantia de que a carência vá ser erradicada de sua vida, mas é a fórmula daquelas pessoas que conseguem se sentir bem sozinhas. Elas têm um enorme conhecimento sobre si, pois sabem com quem estar, onde estar e o que fazer nesses momentos de carência. Não se contente com as migalhas que a vida te oferece, aprenda a ser mais exigente. Por que roer osso quando se pode comer bisteca?