5 de março de 2008

(Des) apego

O homem é um ser que não consegue viver sozinho. Por mais forte e independente que possa ser, sempre necessita da companhia e apoio de alguém. Seja um amigo (a), um (a) namorado (a), um pai, uma mãe, não importa. Ninguém vive nesse mundo sozinho e isolado das outras pessoas. Nenhum homem é, foi e nem nunca será uma ilha.

Ao longo desse artigo, veremos esse raciocínio aplicado no contexto dos relacionamentos –namoro- e refletiremos sobre a dualidade de que ninguém é uma ilha, mas ao mesmo tempo ninguém é dependente exclusivo de outra pessoa.

Pensando bem nisso, lança-se a pergunta: quem nunca quis ter um namoro estável, dentro do qual se pode ter a segurança, a tranqüilidade, e a “certeza” de estar sendo sempre amado. No entanto... feliz?

Quanto ao último item, o de ser feliz, já é um outro departamento. Não é raro que grande parte dos relacionamentos está fadada ao fracasso por conta de uma mistura perigosa de segurança e de falsa felicidade. Isso mesmo, falsa felicidade.

Primeiro precisamos entender que em todas as relações, o conflito, o distanciamento saudável e as diferenças são essenciais. Esses são os mecanismos que fazem os namoros se tornarem dinâmicos, vivos, com emoção. Contudo, muitas pessoas acham que para se ter um namoro feliz, é necessário estar insistentemente agradando ao parceiro, passar boa parte do dia ligando, estar ao lado 24 horas ou então completamente apegado, entregue e dependente da relação, esquecendo-se da própria vida, aceitando até o que não quer, para assim evitar o desgaste, conseqüentemente fazendo com que a pessoa esteja sempre satisfeita ao nosso lado. Ledo engano.

O apego pela pessoa e pelas sensações que ela produz em nós, o medo de perder a pessoa e as sensações que ela produz em nós, a esperança de conseguir manter a pessoa ao nosso lado e sustentar as sensações que ela produz em nós, tudo isso envenena nossa lucidez e faz com que mergulhemos em um relacionamento fatigado, sem direção e infeliz. No fundo algo nos diz para tomarmos coragem e nos libertar dessa prisão emocional. Por outro lado nossa zona de conforto nos impede de abrir mão de todas essas sensações, temendo não achar ninguém melhor ou igual para nos dar essa segurança de que erroneamente tanto dependemos. No fim, arrastamos relações por anos com a barriga, mostramos a sociedade que temos um namoro superficialmente feliz, de acordo com os padrões que a mesma nos impõe e deixamos de viver outras coisas que o universo proporcionou para nós, por pura falta de coragem ou mesmo comodismo.

Um namoro lúcido é fundamentado em circunstâncias que a princípio nos parecem contraditórias. Devemos aprender a distinguir distanciamento saudável de afastamento, necessidade de ficar sozinho às vezes de fechamento, individualidade de egoísmo. Namoros devem ser moldados na base da cumplicidade, honestidade, sinceridade e acima de tudo desapego. É como uma frase que sempre encontramos nesses livros de citações românticas e que resume perfeitamente o mecanismo das relações: “Aquilo que amo, deixo-o livre”. E por que deixar livre as coisas que tanto amo? Porque quanto mais depender delas, maior será o sofrimento quando elas forem embora um dia. E acredite, você querendo ou não, concordando ou não, elas se vão.



Este artigo foi escrito sob forte influência dos seguintes álbuns: paralamas do sucesso (Nove luas), Legião Urbana (Cinco) e Dance of Days (Lírios aos anjos).

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, adorei este texto!foi feito para este momento em minha vida, momento este que eu espero que passe logo, pois já dura muito tempo!