20 de dezembro de 2010

Como comer de verdade uma mulher ou de como fazer amor usando os sentidos

O número de visitas do blog está um pouco acima dos treze mil. Assim que o título desse post sair nos feeds de outros blogs parceiros, creio que esse número aumentará de forma considerável. Não porque o blog seja famoso, não porque eu escreva bem (?) e menos ainda porque que as pessoas gostam daqui, mas sim, porque a maioria de nós (homens) não sabe de fato como comer uma mulher.

Antes de tudo, esqueça a ideia de que só se come uma mulher se você conseguir enfiar cada vez mais fundo e pelo maior número de horas seguidas seu carcará dentro dela. Aliás, esqueça por enquanto a ideia de contato físico e se concentre nos sentidos. Isso mesmo. Aquelas coisinhas que você aprendeu na escola: visão, audição, paladar, olfato e por último, o tato. Outra coisa importante: não leve isso como um manual. Com algumas mulheres pode dar certo. Com outras, nem tanto. O objetivo aqui é sair da mesmice e comer uma mulher sem usar as mãos. Nem a língua, nem o p... você sabe o que.

Poucos homens lembram disso, mas mulheres são seres bastante sensitivos. O Aurélio Eletrônico define um ser sensitivo como o " que tem a faculdade de sentir, perceber pelos sentidos". Não é a toa que elas choram ao assistir novelas mexicanas ou se emocionam quando o Edward consegue finalmente pegar na mão da Bella. Isso é inerente a elas. Claro que tem sempre as exceções. Entretanto, na maioria dos casos, podemos dizer que elas são levadas pelas respostas dos seus sentidos, ou seja, nós homens temos cinco aliados importantes numa possível conquista ou então numa possível demonstração de plena feminilidade delas. E não há coisa mais gratificante para um homem do que participar desse processo de brilho completo de sua mulher. Por isso, enumeramos cada um, lembrando sempre que não precisa ser nessa ordem.

Visão

Um dos primeiros passos para se comer bem uma mulher é ter brilho nos seus próprios olhos. O passo seguinte é olhar profundamente nos olhos dela. Quando você olha diretamente para ela, no fundo mesmo, sem se desviar, sem hesitar, demonstrando que está ali e que não queria estar em outro lugar que não aquele, bingo!, você já tem uma mulher querendo tirar a calcinha. Mulheres não resistem a homens com olhar cortante e penetrante. É como se ela dissesse: "Meu Deus, ele me olha tão profundamente que já me sinto nua".

Audição

Eu adoro falar sacanagem no ouvido da mulher. Lembro-me de quando em meus namoros, na hora mais inusitada, eu falava alguma coisa nesse sentido que além de pegá-la de surpresa, ainda abria espaço para um sexo mais caprichado quando chegávamos em casa. Por hora inusitada quero dizer fila de banco, fila de supermercado, compras no shopping, sofá da casa com a mãe dela ao lado, roda de amigos, parada de ônibus, enfim, algum lugar que não propicie o sexo na hora, mas que a deixe pensando a ponto de fazê-la soltar um sorrisinho sacana.

Ei, sabia que eu tô molhadinha?

Em contrapartida, uma relação também não pode ser só regada a sacanagem e sexo. Se você só falar em putaria, vai chegar num momento em que o efeito de suas palavras será quase nulo. Por isso é importante dosar e saber o momento certo de falar algumas coisas bonitas. Nada muito meloso. Só o suficiente para deixá-la surpresa, sem reação, sem palavras e sem defesa ao mesmo tempo. Um "eu te amo" durante uma discussão ríspida. Ou então uma ligação no meio da madrugada só para dizer que é louco por ela. Uma declaração sussurrada enquanto vocês estão estudando para o mestrado. O leque de possibilidades é enorme. Basta você lembrar que mulheres também se encantam e muito com palavras. Se forem usadas de forma correta, as palavras poderão despertar os desejos mais insanos dela. E nunca duvide desse tipo de desejo de uma mulher.

Olfato

Comer uma mulher pelo olfato remete a você ser um homem limpo e cheiroso. E para tal, não precisa de muitas frescuras, nem muito menos saber qual foi o último lançamento de cosméticos da Avon. Basta você se cuidar e pronto.

Há em nosso corpo um hormônio chamado feromônio que segundo as más línguas se trata de substâncias químicas que, captadas por animais de uma mesma espécie (intraespecífica), permitem o reconhecimento mútuo e sexual dos indivíduos (Wikipédia). Traduzindo em miúdos, quando a mulher sente o cheiro desse hormônio, pode se preparar, que ela quer dar fazer amor. Contudo, apenas os feromônios não basta. Use bons perfumes que brinquem com os sentidos dela. E há perfumes de toda espécie. De vinho, de café, de chocolate... O importante é usar um que atice a vontade dela de te cheirar.

Outro fator importante: brincar com olfato não se resume apenas a perfumes. Você pode usar comida também, incensos, bebidas, sabonetes... O essencial aqui é atiçar o olfato dela e brincar com os diversos aromas, de modo que vocês comecem a noite se cheirando e terminem o dia se comendo.

(Continua no próximo post com os sentidos do paladar e do tato)

8 de dezembro de 2010

Resposta ao tempo




Resposta ao tempo. E só. Ele que é capaz de curar feridas, de aumentar saudades e de fechar corações. Música linda que leva dentro de si uma lição de vida das boas. Lição para as pessoas que acham que o tempo sozinho cura tudo, lição para aquelas que se agarram de modo doentio ao tempo, querendo reviver algo que não volta mais e por isso se agarra a migalhas, lição para aquelas que não têm paciência e são absolutamente imediatistas. Enfim, dependendo da sua concepção e de seus valores e também de seu momento, o tempo pode ser um forte aliado, bem como pode ser um imperdoável carrasco. Para mim ele já foi os dois. Hoje não passa de um velho mestre, que vez por outra puxa teu tapete para te lembrar que humildade é importante sempre, pois, quem se acha mais esperto que todo mundo, quem se acha dono da verdade, que acha que é sempre capaz de dar uma boa desculpa, na verdade não está pronto para vida. Sem muita enrolação, saboreiem a música.

30 de novembro de 2010

Amor sem compromisso

"Há indivíduos que não querem amar, mas que querem viver de amor" (Nietzche [?])

O amor é uma coisa louca, estranha, contraditória, meio que incompreensível. Não sabemos de onde ele vem e muito menos para onde nos leva. Toda vez que tento abordar esse tema aqui, tenho o maior cuidado para não fazer generalizações imbecis e muito menos cair em lugares comuns. E hoje não vai ser diferente. Tratar do amor sem compromisso é ao mesmo tempo um desafio e um deleite para mim. Desafio porque, como já disse em algum lugar aqui do blog, eu não sei mais amar, ou devo estar enferrujado para isso. Deleite porque é sempre bom falar mal de uma coisa que a gente não tem, mas que gostaria muito de ter. ;-P

Há alguns anos, quando iniciei algumas leituras relacionadas ao amor, visando entender melhor para me curar de um trauma daqueles, vi muita coisa interessante. Afirmações do tipo "não temos apenas um grande amor da nossa vida, mas sim, vários grandes amores longo dela", ou então "o amor se constrói a cada dia" e muitas outras tão sábias quanto essas. Também vi atrocidades, verdadeiras barbaridades do tipo "só ame quem te ama", "amor se paga com amor", entre outras bobagens. Nada disso aí é verdade absoluta, lógico. E é difícil chegar a um meio termo quando se trata de amor. Ou se ama demais, ou se ama de menos. E é nesse último aspecto que quero focar essa postagem. Quer dizer, não em amar demais, mas em amar descompromissadamente.

Eu não sei se cabe classificações ao amor. Nunca vi os poetas mencionarem isso. Nem os especialistas. Nem os namorados, nem os fuckboddys, enfim, nenhum ser que conheço até agora teve a ousadia de ser escroto ao ponto de classificar o amor. Terei um imenso prazer e uma indescritível honra em ser o primeiro a fazer isso. Classificarei de Amor sem compromisso aquele tipo que vive de migalhas, que se satisfaz com qualquer besteira, que acontece de vez em quando, que promete muito e faz pouco, que vive de Sms, twiter, msn, orkut, baddo, qualquer merda cibernética em detrimento da presença física do outro. Ou seja, um pseudo-amor, vulgarmente conhecido como amor de rapariga.

O amor sem compromisso está em alta nos dias de hoje. Tem o aval da sociedade e prega um conceito errôneo de individualidade. Na verdade, é um paradoxo do caralho. A pessoa quer formar um casal, contudo, ao mesmo tempo quer ter liberdade total de solteiro. Para ilustrar melhor, podemos fazer uma analogia com a seguinte situação: o sujeito quer cagar, mas não quer limpar o rabo e ainda sim quer ficar com o bumbum cheirando a alma de flores. Completamente incongruente.

Índio mandar aquele twitter que é pra fazer fita com patroa, né cara pálida?

Voltando ao tema em si, como foi dito mais acima, às vezes caímos na tentação de dar ao termo individualidade o sentido de descomprometimento. Sabemos que em uma relação sadia, cada ser deve ter seu espaço e deve também ser respeitado dentro dele. Porém, pelo amor de Deus, não vamos confundir individualidade com isolamento. Um casal que mal se vê e acha que isso é normal porque estamos no século 21, deveria repensar sua relação. Namorados que se falam mais pelo celular do que pessoalmente, morando a apenas poucas ruas ou poucos minutos um do outro e ainda acham que isso é saudável, deveriam romper de vez isso que chamam de relação. Na verdade, nem se trata de relação, mas de conveniência, pois, é como se estabelecessem contratos sexuais e afetivos imaginários. A pessoa tem alguém em quem se apoiar, tem um sexo gostoso na hora em que quiser, tem um certo grau de intimidade mas não tem o comprometimento de fazer algo mais por aquilo. Não faz muito esforço, quase não faz nenhuma renúncia, está presente nos momentos bons, mas sempre ocupado nos momentos ruins. Como dizia Nietzche, não quer amar, mas quer viver de amor.

O amor sem compromisso vive do nosso medo de nos comprometermos com algo. E comprometimento envolve responsabilidades. E responsabilidades é o que menos queremos. Queremos desfrutar de toda intensidade de um amor de novela, mas não estamos muito dispostos a cultivar aquilo. Não temos paciência em surpreender, não fazemos jogos amorosos lúdicos, não tiramos nosso parceiro da mesmice. Achamos que só pelo fato de rotularmos a relação, tudo está seguro, tudo está tranquilo. Uma mensagem aqui, um scrap ali. Talvez até um telefonema. Pronto. Regamos nossa relação. Renovamos nosso contrato. Pelo menos ainda hoje, temos um amor. "Ir vê-la numa segunda feira assim que sair do trabalho? Não. Deixa para o sábado. Fazer uma comidinha gostosa para ele e colocar algumas cervejas no freezer? Não. Melhor fazer isso no domingo". E assim temos, como Chaumier define, um casal alternativo, um casal de solteiros ou uma solteirice compartilhada.

"Dizer que se forma um casal não é dizer que existe amor"(Conangla, 2005). Há muitas pessoas que estão acompanhadas pelo simples fato de não conseguirem ficar sozinhas. Consequentemente, a relação que era embasada na confiança, na cumplicidade e na presença, perde força para aspectos como desleixo e comodismo, o que, no final de todo o processo, gera pessoas redundantes e contraditórias. Eles não querem ceder muito tempo ao outro, nem muito espaço e, o que é pior, não ficam muito presentes. E amor não se faz sem presença. Amor se constrói todo dia, juntos, às vezes renunciando alguma coisa, outras vezes não abrindo mão de algo, porém, valorizando e cultivando a presença do outro. Se você já namora ou está casado há algum tempo e acha que presença é coisa descartável numa relação, talvez seja hora de rever e, quem sabe, partir para outros caminhos. Se você já não faz questão de regar a semente do amor com frequência, se vive muito bem mesmo estando sozinho e quase não sente a necessidade de estar junto ao outro, talvez seja hora de rever e, quem sabe, partir para outros caminhos. Mas, por fim, se você acha que relação se solidifica com tuitadas, scraps e ficando online, por favor, esqueça tudo que leu aqui, apague esse blog dos endereços recentes do seu navegador e aperte ALT+F4.

22 de novembro de 2010

Do amor

"Nada na vida é mais importante que o amor" (Arthur Schopenhauer)

Amor, é só o que quero de você. Apenas amor. Não me pergunte nada, você sabe que eu sou confusa. Não me faça escolher nada, apenas me leve para onde você quiser ir. Me leve sem me fazer perguntas, me leve sem hesitar. Faça do seu mundo o meu mundo. Não me dê escolhas, não me faça propostas. Apenas me pegue pela mão e me faça viver. É apenas isso que espero de um homem: que me faça viver. Amor, meu amor, não me dê garantias nem certezas. Apenas vida. E ter vida vai bem além de uma frágil segurança ou estabilidade. Eu quero poder não sentir o chão, mas estar ao teu lado. Eu quero uma vida digna de filmes, com dramas em proporções absurdas, muitas lágrimas, muito riso, tudo isso misturado. Amor, não me leve tão a sério. Por favor. Pois toda vez que você faz isso, é como se eu perdesse um pouco da confiança em você. Amor, meu grande amor, assim como diz aquela música: "não chegue na hora marcada, assim como as canções, como as paixões e as palavras... " Me surpreenda, meu bem. Isso é tudo que uma mulher pede para um homem. Por favor, eu imploro: ME SURPREENDA. Seja me amando quando eu não merecer, seja me amando quando eu merecer, seja mandando flores quando eu menos esperar, seja não dando atenção às minhas confusões. Pois, como todos sabem, nós mulheres somos confusas por natureza, meu anjo. Dizemos sim quando queremos dizer não. Dizemos não quando queremos dizer sim. Nem nós mesmas nos entendemos. Cabe a você não deixar ser levado por isso. Me veja como nuvem, meu lindo. E quando eu começar a surtar, por favor, não se feche para mim. Isso é o que você pode fazer de pior para nós dois: se fechar diante da minha confusão. Seja um homem destemido, me encare de frente, fale firme comigo, me jogue na cama e me mostre quem é que manda aqui. Apesar de pregar aos quatro cantos a igualdade dos sexos, no fundo nós gostamos de homens que nos dominam, que sabem para onde estão indo e nos convidam a ir junto, que tem poder de decisão, que querem crescer, que querem sempre mais. Ficamos extremamente molhadas diante de um homem assim. Você não sabe como nos sentimos femininas quando temos a certeza de que um homem deste calibre está ao nosso lado... E nunca duvide das habilidades de uma mulher quando ela está no auge de sua feminilidade. Somos capazes de enlouquecer reis, de provocar guerras e de tantas outras coisas inimagináveis.



Voltando ao foco, meu bem, peço que você seja mais sensível, sem contudo, se tornar um veadinho. É porque há uma diferença nisso. Homens sensíveis compartilham conosco de nossas dores e fracassos, mas continuam firmes lá para nos segurar. Veadinhos costumam chorar mais que nós. E de mulher insegura e frágil aqui já basta eu. Também peço, meu anjo, que faças mais experiências comigo com o objetivo de despertar meus sentidos. Sabia que eu adorei aquele jantar silencioso, no qual rimos bastante com o garçom que ficou sem entender nada? A sua ideia de não falar em momento algum me pareceu estranha no começo e eu morri de rir quando você escreveu num papelzinho explicando para o garçom o que estava havendo. Ah, também adorei a ideia do vinho. Você sabe que sou fraca para bebida, mas compartilhar essas experiências com você torna tudo uma grande festa. Obrigado, amor, pela viagem que fizemos. Sou fresca e adoro conforto, mas passar alguns dias fora de casa contigo me fez ver que onde quer que eu esteja, se você estiver ao meu lado, tudo fica bem. Também queria dizer que eu simplesmente amo e admiro essa sua capacidade de se alegrar com as coisas. Seja um novo lugar, uma bebida diferente, um novo filme ou qualquer outra coisa. Você não espera que eu goste. Simplesmente me apresenta e essa sua empolgação me faz ficar empolgada também.

Por fim, amor meu, não sei se ficaremos juntos para o resto da vida. Não sei se amanhã ou depois, ou próxima semana, ou daqui a 50 anos, iremos nos separar. Contudo, quero deixar claro aqui que você me faz acreditar no amor. Este sentimento tão contraditório, tão assustador e sublime ao mesmo tempo. Às vezes pensamos que apenas amor não é suficiente. Mas se analisarmos direito, sem amor, nada flui. É isso que move a humanidade, que inspira os poetas, que faz as pessoas seguirem em frente, que nos faz ficar juntos. Podemos nem perceber, mas o amor é o centro de tudo. E uma vida sem amor é uma vida amarga, triste, miserável. Mesmo que alguém diga que casar por amor é burrice. Mesmo que o amor hoje em dia esteja tão banalizado. Só vale a pena viver por amor. Uma vida só tem sentido se tiver amor. E no fim é isso. Eu te amo. A cada dia. Sempre mais.

...


Inspirado no filme Eu sei que vou te amar.



1 de novembro de 2010

Da necessidade de conexão ou jogo dos 11 erros

Conexão. Palavra concreta que permite vários significados. Dizemos que uma coisa está conectada quando ela está em sintonia com alguma outra coisa diferente. Ou então que a conexão foi estabelecida quando as coisas andam no mesmo sentido e em harmonia. Você tenta fazer uma ligação do seu celular e ele se encontra sem área. A conexão não está boa. Sua internet cai do nada. A conexão foi interrompida. Duas pessoas se encontram e entre elas não flui uma espontaneidade. É tudo rígido, morno, sem vida. Nesse caso, a conexão nem sequer deu as caras. Temos aí então o primeiro erro. Achar que somos capazes de nos conectar o tempo todo com pessoas. Desse primeiro erro, surge um segundo ainda mais grave: tentar a todo modo estabelecer uma conectividade onde o sinal é fraco.



Talvez seja isso que nos falte. A coragem de estabelecer conexões sem esperar nada em troca. As relações contemporâneas andam tão superficiais que quando nos deparamos com alguém capaz de adentrar mundos, logo nos assustamos. Nos fechamos. Achamos que aquilo ali não tem nada a ver com a gente. Nesse momento surge o terceiro erro: nosso medo de deixar que alguém se conecte com a gente nos faz perder oportunidades incríveis. Nos faz ter uma vida normal demais. Nos faz ficar na mesmice. É incrível como a zona de conforto na qual nos encontramos limita nossas ações. Achamos que o mundo é cíclico, que os momentos se repetem, só mudam os personagens. E, quando aparece alguém com capacidade de subverter isso, armamos nossa lança e pegamos nosso escudo. Como guerreiros a postos esperando uma batalha, lutamos até a última força para manter uma identidade que achamos que é imutável. É nesse espaço que se manifesta o quarto erro. Esquecemos que o mundo é impermanente. Esquecemos que estamos mudando o tempo todo, mesmo que isso não seja perceptível. Conexão é isso. É estar aberto ao inesperado. Alguém aqui no rádio me diz que tristeza é ausência de felicidade. Me vem um insight que diz que falta de conexão é ausência de diálogo. Mas como posso pensar isso se passamos grande parte da noite conversando? O quinto erro aparece aí. Conversar demais. Racionalizar demais. Perguntar demais. Hesitar demais. Mulher não confia em homens que costumam ter esse tipo de atitude. Deve ser por isso que ela está no sofá, enquanto eu tento desabafar escrevendo isso. Ela olha para mim de um modo estranho. Consigo ver o abismo que nos separa. Eu não sei agir em um espaço limitado. Minha liberdade, profundidade e presença não são nada diante dos bloqueios que essa mulher me impõe. Consigo perceber o sexto erro. Solidificar as flutuações femininas. Desde que comecei esse blog, sempre bati nessa tecla. Mulher não conduz, mulher não toma decisões, mulher tem direcionamento que leva a relação para lugares estranhos. Não é machismo. É biológico. Pergunte quantas mulheres gostam de ser o homem da relação. A condução, o direcionamento, tudo isso são ações masculinas. É como se tivéssemos num carro. A mulher não quer decidir para onde o casal vai. Ela só quer ser conduzida. Melhor. Ela quer ser surpreendida. A conexão vem justamente dessa atitude. Homem assumindo seu lugar de homem. Mulher assumindo seu lugar de mulher. Sétimo erro. Troca de papéis. Esse seja talvez o erro que mais me incomode. Eu só queria que ela participasse das decisões comigo. Por isso perguntei tanto, hesitei tanto. A música de fundo é melancólica. Uma troca de cartas entre dois padres. Vejo nesse momento a atitude que mais admiro em uma mulher. A capacidade de ser feminina. Agora vejo o fruto de todos os erros. Negar a feminilidade dela. Estive o tempo todo imerso em mim mesmo que me esqueci de dar o espaço para que ela dançasse. “Caminhamos em ritmos diferentes”. É a conclusão que ela chega. Me divirto com isso. Eu sou inseguro e imediatista. Preciso de afirmação. Ela é medrosa e retraída. Em momento algum me dá certeza. Oitavo erro. Embasar suas ações nas certezas femininas. Há uma metáfora que diz que mulher é como onda. Ou você surfa, ou se afoga. Cometo o nono erro ao não ter capacidade de surfar essa mulher. O décimo erro acontece no momento em que escrevo tudo isso. Ela só quer ser aberta. Ela só quer alguém que faça a tão necessária conexão. Não me sinto capaz disso. Acredito no que ela diz, não percebo seu silêncio, não compreendo suas ações. Finalizo de maneira vergonhosa com o décimo primeiro erro. Ter medo de uma mulher. Como alguém espera estabelecer uma conexão se tem medo de penetrar uma mulher? Volto ao título do texto. Cometi todos esses erros. Perdi a oportunidade de fazer alguém feliz. Acaba o vinho. Apago o cigarro. Me lamento de ter escrito isso e agradeço a ela pela oportunidade.

31 de outubro de 2010

Para além de bebidas, mulheres e farras: em que consiste a vida de um homem virtuoso?

Há algum tempo que venho tentando escrever esse post. Na maioria das vezes, até começo bem. Mas depois de algumas palavras, a ideias começam a fugir, justamente porque eu não consigo me conectar muito bem com o sentido dele. Agora por exemplo: enquanto escrevo, uma ressaca dos infernos me assola. Fruto de duas noites mal dormidas, muita bebida e muita farra. Tudo que um homem que almeja alinhar sua vida não pode ter. Desse modo, como posso tentar explicar para alguém o sentido de uma vida virtuosa, se a minha anda uma confusão só? Como colocar na cabeça das pessoas que se aprendermos a cortar essas pequenas distrações, nossa qualidade de vida aumenta e, consequentemente, nossas relações se tornam mais autênticas, se eu mesmo não resisto ao som de uma cerveja gelada sendo colocada no copo? Enfim, keep walking...

Nós homens nos reunimos ao redor de bebidas, em festas, para pegar mulheres, para ir à praia, para assistir ao futebol ou simplesmente para jogar conversa fora. Até aí nada demais. Contudo, o que nos acontece quando limitamos nosso horizonte a essas simples ações? Que sentido estamos dando para nossa vida se bebemos demais, se nossa prioridade é pegar cada mulher gostosa que nos é apresentada ou então se nos impomos a todo fim de semana irmos a uma festa? Se você respondeu nenhum sentido ou quase nenhum, está, assim como eu, tentando enxergar além dessa nuvem de distrações que deixa nossa visão turva. E isso já é um começo interessante.

Todos que me conhecem bem sabem que sou um beberrão incontrolável, tenho facilidade em lidar com as flutuações femininas ( há sempre algumas exceções, claro) e que sempre que posso, estou batendo lata em alguma festa. Porém, o que pouca gente sabe é da angústia que isso me traz. Conversando com um amigo um dia desses, tocamos no assunto de que só temos uma vida. E ela é curta. E passa muito rápido. E não podemos desperdiçá-la com bobagem ou algo que faça pouco sentido. Esse post é uma tapa que estou dando no meu próprio rosto. Eu sou mestre em perder tempo e em desperdiçar a vida com bobagens. Bebo muito. Fumo demais. Durmo pra caralho. Não vivo com paixão e na maioria das vezes aperto o botão do piloto automático da minha vida e fico nesse estado por bastante tempo. Uma vez ou outra tenho lapsos de consciência e, por pouquíssimo tempo, consigo fincar os pés no momento presente. E são nesses raros momentos de lucidez que eu começo a questionar o que estamos fazendo de nossas próprias vidas. Quando estivermos velhinhos, qual sentimento teremos a respeito de tudo que vivemos? Foi uma vida virtuosa ou supérflua? Vivemos com dignidade ou passamos tempo demais xeretando o orkut dos outros? E aí? Iremos morrer felizes por termos vivido de modo pleno ou iremos nos despedir desse mundo amargurado por ter se dado conta tarde demais de quão preciosos momentos deixamos passar?

Sem medo de viver

O título desse post é só uma metáfora. Quando digo para além de bebidas, mulheres e farras, eu procuro englobar tudo aquilo que te faz perder tempo e andar distraído por esse mundo. Há gente que perde tempo com computador. Outras com televisão. Outras morrendo de véspera igual a peru. Enfim, você é responsável pela sua vida e sabe muito bem o que te faz perder minutos preciosos. Mesmo eu não servindo de exemplo para muita gente, acredito que para além de bebidas, mulheres e farras, há um horizonte muito amplo que só é revelado a partir do momento em que eu começo a viver com autenticidade. Homens virtuosos vivem assim. Eles têm seus medos, assim como eu ou você. A diferença é que eles não deixam que esse medo os paralisem e também não perdem tempo com coisas que não valem a vida deles. Homens virtuosos vivem como se não existisse o amanhã. O que importa é só o momento presente. E só. O passado já ficou para trás. O terreno do amanhã é incerto. Só resta o presente. Eles fazem hoje o que tem que ser feito hoje. Eles são precisos e cortantes. Seu olhar é em 90 graus, wide open. Seu riso é leve e espontâneo e você geralmente os identifica pela capacidade que eles têm de dar leveza à vida. E o modo de viver de um homem virtuoso só consiste numa coisa: viver e aceitar todos os riscos inerentes a isso. Qualquer coisa além disso, é bônus.

Para além de bebidas, mulheres e farras há uma necessidade de acordarmos, cortamos as distrações e aprendermos a ser livres desses condicionamentos que nos tiram o brilho da vida. Para além de tudo isso, precisamos nos posicionar no mundo e reconhecer qual é a nossa missão. É inadmissível passarmos aqui sem termos construído nada. É completamente repugnante a ideia de que por conta de nossos medos e nossa insegurança, deixamos de vivenciar coisas maravilhosas que uma pessoa, que vive em cadeira de rodas, por exemplo, daria tudo para viver. Escrever um livro, fazer rapel, saltar de paraquedas, acampar, surpreender o companheiro, ver um por-do-sol em silêncio com a namorada. Não faltam alternativas nesse mundo. Cabe a você escolher o que mais se encaixa no seu perfil. Ou você quer esperar um diagnóstico de câncer para poder viver com a intensidade que lhe é devida? Para além de mulheres e bebidas há um vasto mundo a ser descoberto. Um extenso caminho a ser percorrido. Comece enquanto é cedo. O tempo que passou já foi perdido e não volta mais. Comece a dar sentido a sua vida a partir de agora. Há tempo ainda.


P.S.: Para quem quiser refletir um pouco mais sobre o sentido que está dando a sua vida, recomendo assistir aos filmes Sem medo de viver (Fearless) e Na natureza selvagem (Into the wild), ambos preciosidades que falam tudo sem dizer muito.


14 de outubro de 2010

Do nosso observador intacto ou da minha vontade de me tornar um Paulo Coelho

Esta é uma continuação do post "De nossas máscaras e da impermanência de nossas identidades", no qual foi tratado de modo breve a questão do observador intacto. Esse ser que está o tempo todo nos acompanhando, nos vendo sofrer, sorrir, se alegrar, chorar, meter, gozar, dar tapa na bunda, mas que ao mesmo tempo está livre de tudo isso. Chamamos esse ser de observador intacto justamente porque ele sempre está livre de nossas flutuações, mesmo que a princípio não percebamos isso. Ele está além de nós e para achá-lo precisamos procurar alguém em nós que não seja nós mesmos. Confuso isso, não? ;-)

Quando estamos imersos em sofrimento, frustração, raiva, desespero ou algo parecido, solidificamos tanto aquilo que achamos que nunca vai passar. Assumimos a identidade da pessoa sofrida e esquecemos a lei da impermanência. Depois de algum tempo, aquela mesma pessoa que sofria não só consegue rir de tudo aquilo como também ainda faz piada. O que aconteceu? A identidade sofrida morreu. O ser que solidificava as coisas foi embora. Contudo, há um observador profundo que vai muito além de nossas oscilações de humor e que nunca vai embora nem morre. Ele é o responsável por tua liberdade no momento em que você se encontra no olho do turbilhão. E nossa dificuldade em perceber isso se dá justamente porque no momento em que saímos de um, já nos preparamos para entrar em outro. De fato, quase nunca paramos para conversar com esse ser. Sempre que temos oportunidade, evitamos o encontro com ele. Justamente porque ele jogará em nossa cara nossas limitações e irá fazer piada de nossas fraquezas. Mostrará que nossa capacidade de resolver problemas é limitada pelo simples motivo de que esquecemos a leveza das coisas. Não é questão de se aventurar numa vida irresponsável. É dar às coisas seu devido peso. E só. Um fim de namoro parece um fardo duro de se carregar porque não temos naquele momento a liberdade de entender que ciclos começam e acabam. Nosso observador se encarrega de fazer isso. Ele sacaneia conosco. Ele não se identifica com nada. Apenas surfa no que o momento oferece. Se é oferecido uma marola, ele faz de tudo para aproveitá-la. Se é oferecido um Tsunami, ele tenta não se afogar. Nosso observador consegue tirar proveito de qualquer tipo de situação que lhe é oferecido. Ele não rótula as coisas como boas ou ruins. Apenas aceita o que o momento traz. E o que é melhor: ele vê tudo como experiência, seja sofrimento, seja alegria. Diferentemente de nós que nos abrimos plenamente para a felicidade e nos fechamos completamente para a dor. Nosso observador intacto sabe que a vida de um homem não é feita só de alegria, nem só de acertos, nem só de virtudes. Nosso observador entende que momentos difíceis, erros e defeitos são necessários e, por isso, aceita tudo como é, sem rotular nada, sem se identificar com nada, sem solidificar nada. É dessa atitude que nasce a nossa liberdade. Pena que nem sempre temos tempo para pensar nisso. Pulamos de uma situação para outra num piscar de olhos. Saímos de um casamento para outro com uma facilidade absurda. Escondemos nossos problemas com um sorriso perdedor. Afogamos nossas desculpas no mais gelado copo de cerveja. Tudo isso porque talvez tenhamos medo de saber quem somos na essência. Fugimos do maior encontro que um homem pode ter: você e você.

Basicamente, seria essa a função do observador intacto. Ir além das flutuações e manter a lucidez que te faz encontrar o rumo das coisas novamente. No entanto, penso que essa abordagem é bastante genérica e não quero de modo algum limitá-la a apenas isso. Cabe a você encontrar esse observador e se conectar do modo que melhor lhe convir quanto a isso. E uma prática bastante simples para desenvolver liberdade e ter uma conexão melhor com esse ser intacto é a auto-observação. Esse processo consiste em se manter consciente de si mesmo em qualquer tipo de situação. Um exemplo: um amigo te falou umas verdades e você ficou puto. Tente se lembrar nesse exato momento de você ficando puto. Das sensações, das emoções perturbadoras, dos insights. “Eu não sei se criticado sem querer me defender.” Ou então passa uma gostosa do seu lado e você fica molhadinho: “fiquei de pau duro com o decote dessa gostosa.” Enfim, tente colocar consciência em suas ações, lembrando-se o tempo todo de si mesmo. Desse modo, você acaba desenvolvendo tamanha liberdade de si mesmo e dos outros e das situações que quando vir novamente o turbilhão, irá sossegadamente empinar pipa ao lado do seu observador intacto. Sorrindo. Leve. Quase voando. Quase indo embora.

30 de setembro de 2010

Pequeno tratado da generosidade (ou da sensação de alegrar-se com a alegria dos outros)

Celular toca... (Hello Moto!)

(EU)"Diz véi. Beleza?"
(AMIGO) "AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH... AAHHHHHHHHHHHHHH..."
(EU) "É o que? Tô ouvindo nada."
(AMIGO)"AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH... AAHHHHHHHHHHHHHH..."
(EU)"Eu tô dando aula, bicho. Tô ouvindo nada. Tá um barulho do caralho!".
(AMIGO FILHO DA PUTA DESLIGANDO NA TUA CARA)"tu... tu... tu..."

...

A situação acima parece bem confusa. Pra falar a verdade, eu só soube do que se tratava ontem à noite (29/09). Um amigo meu - que parece carregar do meu sangue nas suas veias e vice-versa- havia passado no exame da OAB. O modo como ele me deu a notícia foi muito estranho. Na verdade eu não havia entendido nada e nem pude dar os parabéns no momento em que ele me ligou. Mas assim que soube da notícia, logo entendi o que havia acontecido e no mesmo instante uma coisa estranha tomou conta de mim: parecia que tinha sido eu o aprovado no exame.

Não é apenas por ser meu amigo, que eu me alegrei tanto quanto ele. Claro que o fato de sermos quase irmãos ajuda bastante. Só que assim que nos falamos após a notícia, eu fiquei pensando que uma das coisas mais bonitas é a capacidade de se alegrar com a vitória dos outros. Não há sensação melhor nesse mundo. Uma coisa é você acompanhar o duro processo do outro e no fim, quando ele não tiver sucesso, você aparecer lá para consolar. Outra coisa absolutamente diferente e infinitamente indescritível é não acompanhar todo processo de perto, mas mesmo assim se alegrar como se a vitória fosse sua.


Esse exemplo do meu amigo ilustra a necessidade que temos de sermos generosos. Generosidade sempre atrai generosidade. Lembram do Profeta Gentileza? Assim também é com a generosidade. Quando a cultivamos, quando damos espaços para que ela se manifeste, quando nos alegramos mais em oferecer do que receber, acontece uma coisa mágica: as relações ganham autenticidade, o convívio é mais gostoso e a comemoração no bar tem cerveja mais gelada. Sendo assim, a generosidade é um item indispensável para que as relações humanas não afoguem num mar de superficialidade. Muitas vezes temos a tendência de ver uma vitória alheia e ficar imaginando que aquilo poderia estar acontecendo conosco. É a inveja batendo à nossa porta. Se não temos a capacidade de ficar felizes com a felicidade dos outros, isso quer dizer ainda somos seres mimados que fazem questão de ter toda luz do holofote voltada para nós. Por isso que ser generoso é uma das coisas mais difíceis que existem. Exige liberação de si mesmo, exige saber cultivar um olhar voltado para o outro e, sobretudo, comemorar com o outro como se fosse você o vitorioso.


Amigos comemoram vitórias de amigos como macho, sempre regado a muita cerveja


Somos guerreiros imersos no mundo e na vida. Contudo, não estamos aqui para guerrear contra tudo e contra todos. A nossa primeira guerra e mais difícil é contra nós mesmos. E para vencer essa batalha, precisamos a todo instante nos liberar de nós mesmos. O caminho mais fácil para que isso aconteça é sendo generoso. Não devemos perguntar o que a vida tem a nos oferecer, mas sim, o que nós temos a oferecer à vida. Seja um sorriso a quem está triste, uma palavra a quem está aflito, uma companhia a quem se sente só. Quando tomamos o caminho inverso e só queremos sugar das pessoas e situações, a própria vida nos derruba e não nos deixa ir a lugar algum. Quando chegamos oferecendo, ela se encarrega de aprofundar os laços e coisas que não esperamos acontecem naturalmente. Por isso que ficamos mais alegres quando damos um presente do que quando recebemos. Quando presenteamos alguém com um mp3, por exemplo, nossa alegria está vinculada a ação de presentear e não ao presente em si, que, em algum tempo, vai quebrar ou parar. A pessoa que recebeu ficará triste quando isso acontecer. Nós não. Pois nossa alegria transcende o presente e vai diretamente na ação de presentear.

Para finalizar, quero instigar aqueles que ainda não se aventuraram na generosidade, tentem só uma vez para poder comprovar o que falo. Sei que não há nenhuma Madre Tereza de Calcutá aqui, mas podemos fazer a alegria de alguém nas mínimas coisas, sem ao menos percebermos. Eu por exemplo, vim escrever esse post morrendo de sono às três da manhã só pra parabenizar meu amigo Steel Rodrigues pela aprovação. Tentem colocar mais generosidade em suas vidas e vejam que com o tempo, tudo vai ficando mais leve. Pois, de acordo com uma pensadora "Onde houver gentileza, haverá sempre um gesto que surpreenda. Amor se esconde nas coisas pequenas. E a amizade, nas atitudes que refletem maiores que a presença." Portanto, mais do que se alegrar com a vitória alheias, faça com que elas também sejam suas.


...

Parabéns, Steel. É só o começo de tudo. Sinto orgulho do irmão que a vida me deu. Nossas vidas são maravilhosas, cara. Só precisamos simplificar as coisas. Esse é o teu momento. Vai sem olhar pra trás.

8 de setembro de 2010

De nossas máscaras e da impermanência de nossas identidades

Talvez essa seja uma das postagens mais difíceis de escrever. O tema em si é contraditório e polêmico. Quando falamos em máscaras, logo nos vem à mente a ideia de pessoa fingida, falsa, não confiável. No entanto, o sentido que adoto aqui para máscaras não tem nada a ver com a índole da pessoa, mas sim, com sua capacidade de assumir diferentes personalidades/identidades de acordo com o que é pedido em cada situação. É o que chamamos também de impermanência. Vejamos melhor isso.

Temos, mesmo que inconscientemente, uma capacidade de construir mundos e pessoas de acordo com nossas crenças e fixações. É fácil perceber isso. Se uma pessoa partilha do mesmo gosto que nós, logo passamos a nos identificar e gostar dela. Contudo, se há alguma divergência, tendemos a olhar a pessoa de modo estranho e às vezes até nos afastamos. Isso acontece porque olhamos as coisas de um ponto de vista absolutamente estreito e limitado, que é o nosso. Achamos que nossas certezas são universais e indiscutíveis, enquanto que as dos outros, não passam de meros caprichos.

É nesse ponto que entra a noção de máscaras, pois, se pararmos para analisar, estamos o tempo todo utilizando uma. Em casa com nossa família, somos uma pessoa. No trabalho, somos outra completamente diferente. Com os amigos, idem. A cada ambiente pelo qual vamos circulando, surge com ele uma máscara específica. E isso vem muito da construção que fazemos das pessoas e dos mundos. O modo como tratamos nosso melhor amigo não é o mesmo que tratamos nosso chefe. A voz mansa e suave com a qual deixamos nossa namorada molhadinha não é a mesma com que falamos com nossa mãe. E assim por diante. Assumimos uma máscara, uma personagem, uma outra pessoa de acordo com a situação. Estamos o tempo todo mudando. Nunca somos e nem nunca seremos uma coisa fixa, rígida, imutável. É daí que surge o nosso sofrimento. Por acreditarmos que somos uma coisa alheia a mudanças, temos a tendência em nos fixarmos em determinadas máscaras e, quando caem, com elas vão nossas fixações, nossas concepções de mundo, nossas crenças e valores, enfim, nosso eu. Ficamos sem chão, sem certezas, sem rumo. Temos então, nesse momento, uma crise de identidades.

Podemos facilmente confundir máscaras com identidades. A diferença é quase imperceptível. Uma máscara, como já abordamos, vai muito da construção de mundos e pessoas que fazemos. Já identidade tem a ver com nossa percepção de nós mesmos em momentos distintos. Não sei se fui claro, tentarei através de exemplos explicar um pouco da noção de identidade, bem como sua impermanência.

Todos nós já assumimos diversas identidades. Em algum momento já fomos o filho bonzinho, o orgulho ou dor de cabeça do pai, o namorado dedicado ou o marido desleixado. Em cada situação, agimos e fomos aquilo que acreditávamos ser. Nossa visão limitada e nosso horizonte reduzido ajudaram a solidificar esse automatismo. Acreditamos tanto que éramos aquilo que, quando essa identidade se foi, ficamos sem entender como o processo todo funciona. Isso mesmo. Você, assim como eu, estamos inseridos num processo, cuja complexidade pede mais de um simples post. Não somos aquilo que acreditamos ser. Somos identidades temporárias. Que nasce, ri, ejacula, faz sexo oral, sofre e depois vai embora. É a lei da impermanência que move o mundo. Querer ir contra isso é pedir para se foder. Sofremos porque nos esforçamos ao máximo para manter uma identidade boa por muito tempo. Sofremos porque não queremos aceitar que tudo muda, o tempo todo. Sofremos porque não sabemos lidar com a mudança. Sofremos porque queremos parar o mundo. Sofremos por não aceitarmos que não podemos fazer nada diante dessas mudanças. Mas, quando você começar a entender o processo da impermanência e da fragilidade das identidades, com certeza se alegrará e saberá lidar mais facilmente com esse processo.

Você certamente já teve alguma namorada na vida. Consegue se lembrar do começo? Quando vocês apenas se paqueravam, flertarvam e, logo em seguida, quando deram o primeiro beijo? Se lembra de como você era naquele tempo? Consegue se lembrar das alegrias, das sensações, de como era bom estar junto da pessoa amada o máximo de tempo possível? Isso deve ter causado muitas alegrias. Agora lembre do fim. Das crises, das brigas sem motivos, dos ciúmes bobos, do final traumatizante. De como você quase morreu depois que esse namoro acabou. De como ela levou sua vida, sua história, seu mundo. Isso certamente lhe causou aflição. Você deve ter ficado um caco, pois, o mundo que havia construído foi levado embora por outra pessoa sem o seu consentimento. Agora tente se lembrar dos meses em que você começou a se recuperar. De quando começou a conhecer outras garotas e a viver de novo. Sair com amigos, comer outras garotas, fazer coisas que nunca pensou ser possível novamente. Você pode não ter percebido, mas nesses três processos, você construiu e abandonou identidades. No primeiro, a sua identidade era a de uma pessoa feliz e plenamente satisfeita. Você se alegrava e fazia questão de alegrar também. No segundo processo, a identidade que surgiu em você foi a do namorado infeliz, acabado, desiludido com o mundo e sem saber o que fazer. No terceiro processo, você começa a se recompor. A identidade que sofria foi embora. Ela já não era mais bem vinda ali. Desse modo, abriu espaço para a próxima. Mas, como isso é possível?

Como falei anteriormente, o mundo é regido pela impermanência, quer você aceite isso ou não. Dessa impermanência, surge uma constante criação de identidades, que por acharmos que é real, acaba por ditar quem somos naquele momento e como devemos agir. Só a partir do momento em que começamos a ter consciência da transitoriedade de nossas identidades, é que iremos entender como funciona o processo. Não é a toa que de acordo com nosso exemplo, no primeiro caso nos alegramos, no segundo sofremos e no terceiro conseguimos rir do nosso sofrimento. Isso porque, apesar da transitoriedade de nossas identidades, há uma que permanece intocada pelas flutuações da vida. Essa identidade é o que chamamos de observador. É ele quem consegue rir depois que você se liberta de algum sofrimento. É ele quem mantém tua integridade quando as coisas não parecem nada boas. É esse observador que te olha quase te sacaneando, quase indo embora, tirando um sarro da tua cara. É ele quem consegue ver além do mar de névoa no qual está inserida sua vida. É ele quem te oferece a liberdade e ele quem dispensa tuas identidades transitórias quando elas já não tem mais nenhuma utilidade. É esse observador que vai te dar a liberdade necessária para resolver os problemas agora e não depois, pois, nossa frustração surge desse atraso: quando resolvemos um problema, já estamos inseridos em outro.

No próximo post continuarei essa abordagem do observador intacto e tentarei explanar o sentido de liberdade oferecido por ele. Então veremos o quanto nossas identidades são frágeis e o quanto a impermanência ajuda no processo de construção de um homem.

(continua...)

5 de setembro de 2010

Da magia de oferecer

(...) Em qualquer caso, sem exceção, os seres buscam a felicidade e tentam evitar o sofrimento. Essa é a chave unificadora. Todos os seres, dos elefantes às pulgas, movem-se nessa direção. Em nossa relação com as pessoas também é assim, mesmo quem nos agride quer felicidade e não sofrimento. Se nos aproximamos com a intenção de prestar benefício, todos nos acolhem; mas, se nos aproximamos querendo sugar o que o outro tem, somos repelidos, não há dúvida. Mesmo numa relação afetiva ou com os amigos, é a disposição de dar, e não a de receber, que produzirá resultados. (...) A origem do sofrimento está em colocar a experiência de felicidade na dependência de algo externo. Não haverá escapatória: nossa felicidade flutuará junto com o objeto ao qual está vinculado.

(Extraído do livro Meditando a vida, do Lama Padma Samten)

17 de agosto de 2010

O que seu namoro deve ter para se transfomar numa merda III - Um homem inseguro

Homens inseguros. Infelizmente, coisa comum nesses tempos modernos. Não é difícil de encontrá-los por aí. Estão sempre fuçando o celular /Orkut/ Facebook/ Msn/ Twitter ou qualquer outra merda cibernética da namorada atrás de alguma coisa suspeita para dar chilique, ou então, procurando algum motivo absolutamente idiota para se preocupar. Pior. Não satisfeitos em agir como imbecis procurando chifre em cabeça de cavalo, ainda dão uma de machão, levantando a voz e querendo brigar contra qualquer macho alfa que lhes ameace a frágil tranquilidade que ele acha que seu relacionamento possui. Patético.


Antes de mais nada, há uma sutil diferença entre um homem estar inseguro e ser inseguro por natureza. O primeiro caso é comum acontecer alguma vez na vida de qualquer homem e não há nada de vergonhoso nisso. Pelo contrário, uma pessoa que quer o tempo esbanjar um ar de superioridade está no fundo escondendo uma forte fraqueza. Homem que é homem também tem seus momentos de medo, nos quais ele temporariamente não sabe o que fazer ou hesita em tomar alguma decisão. Vejam que eu usei a palavra temporariamente. O que nos remete a começo, meio e fim breves. E não há nada mais valoroso nessa vida que um homem que sabe reconhecer seus raros momentos de fraqueza. Uma mulher que tem uma pessoa dessas ao seu lado deveria valorizá-lo tanto quanto seu consolo nas solitárias e chuvosas noites de sábado. Ou seja, pra caralho.

O segundo caso, o qual irei impiedosamente ridicularizar abordar agora trata de uma espécie exótica que não tem confiança no próprio taco e acaba por querer quebrar o taco dos outros. Literalmente. Um homem em permanente estado de insegurança é a coisa mais ridícula que pode haver na face da terra. Ele não se concentra no trabalho, evita sair com os amigos, suspeita de todo e qualquer imprevisto que possa acontecer com a sua mulher e, o que é pior, vive em função dela. Aliás, não necessariamente dela, mais do medo que ele tem de perdê-la. Um homem inseguro não ama verdadeiramente uma mulher, mas sim, o apego e as sensações que são provocadas quando do momento em que os dois estão juntos. Vamos esculachar mais isso aqui. Um homem inseguro não vive o momento presente. Ele vive o passado e o futuro ao mesmo tempo. Vive o passado com medo das antigas fodas relações que sua mulher teve. Vive o futuro porque passa o tempo todo projetando a possibilidade de sua mulher dar para encontrar alguém melhor. Ele está tão preocupado maquinando estratégias contra as possíveis ameaças que esquece que tem uma mulher ao lado querendo ser bem comida. E não há coisa pior do que uma mulher que é mal comida. Ela se transforma num ser do outro mundo popularmente conhecido como buceta em chamas. E nunca duvide de uma. É impossível prever o que uma buceta em chamas é capaz de realizar.


O incêndio da foto começou com uma buceta em chamas. Nunca duvide de uma.


É por isso que na maioria das vezes, a insegurança desses homens acaba sempre em chifre. Um homem inseguro é um ser ansioso, medroso, dividido, covarde e um monte de coisas nada boas ao mesmo tempo. Como disse antes, ele vive de sensações. Apego é só uma delas. Há uma coisa também chamada previsibilidade que não pode faltar a um macho inseguro. Um ser deste tipo é totalmente previsível. Ele tem medo de mudanças, se assusta com contratempos e se tudo não acontece como ele planejou, fica angustiado e puto ao mesmo tempo. A mulher que convive por muito tempo com uma pessoa dessas, geralmente se torna o homem da relação. Ela passa a tomar decisões pelo casal, conduz o relacionamento e até decide as posições em que deve ser comida. Com o intuito de agradar e de fugir das responsabilidades de um homem seguro, ele abaixa a cabeça e concorda com tudo. Afinal, se der merda, enquanto tem uma DR, ele pode passar na cara dela que nada disso foi escolha dele. Triste isso.

Por fim, as atitudes ridículas que um macho inseguro pode tomar são inúmeras e não caberia num simples post. Elas podem ir desde uma despretensiosa perseguição a sua mulher até a uma ligação sem o menor sentido para o suposto urso dela. Porém, o que é mais alarmante é a incapacidade que eles têm de permanecer por um tempo incrível numa coisa chamada vácuo emocional. Explico. Vácuo emocional é quando você encerra um relacionamento enorme, rompendo, desse modo, uma vida toda de expectativas afetivas e vínculos que cultivou durante muito tempo. Homens confiantes conseguem ter mais facilidade em sair desse estado, já que apesar de uma experiência marcante, estão sempre dispostos a comer as vistosas gazelas que lhes aparecem. Homens inseguros não. Antes de pensar em enfiar seus respectivos pênis em alguma donzela que lhes dêem abertura, têm sempre de remoer sua relação passada, comparando aquele momento com o atual. Coisa de bichinha mesmo. Portanto, se você quer foder com classe um namoro, seja um homem inseguro. Dê chilique, desconfie o tempo todo da sua mulher, ligue para os possíveis amantes dela, coloque a porra de um detetive para investigá-la, enfim, deixe de aproveitar essa sua vida sem sentido e viva eternamente em função dela. 24 horas por dia. As clínicas psiquiátricas, os fabricantes do rivotril, os produtores de chapéus vikings, todo mundo que pode tirar proveito dessa sua condição patética agradece.

14 de julho de 2010

P.S, Eu te amo (Ou da necessidade da liberação)

Escrito em 14-04-2008:

"Amor, estava sem nada para fazer e resolvi ir a locadora procurar alguma coisa que me fizesse matar o tempo. Por mais que eu procurasse naquela pilha interminável de filmes, nada chamava minha atenção, nada gritava para mim. Até que a moça perguntou se eu precisava de ajuda e me recomendou esse filme, P.S, Eu te amo. A princípio recusei. Você sabe que nunca fui fã de comédias românticas. Ainda mais quando você não está por perto. Mas a moça me falou tão bem, me pediu com tanto jeitinho, que resolvi atender. Não que eu costume ceder aos pedidos de alguém, entretanto, em alguns momentos da vida é preciso dar o braço a torcer.

Havia escutado pouca coisa a respeito desse filme. Sabia apenas que o protagonista (Gerard Butler) era o mesmo do filme 300. Fiquei curioso com essa transformação. De matador a romântico e apaixonado. Enfim, não esperei nada mais do que isso. Apenas uma comédia açucarada que me faria pensar ainda mais em você. Em nós. Em nossa separação. Em como seria difícil...

Logo a primeira cena, amor, aquela na qual eles brigam por bobagem, me fez pensar na nossa relação. Mais precisamente no início e no fim. Lembro-me de quando brigávamos por bobagens, era engraçado que logo em seguida, fazíamos as pazes. Ríamos do absurdo que era aquilo. Xingar rindo, beijar chorando. Jurávamos terminar tudo ali mesmo, na beira da piscina.Contudo, era só o tempo de chegar em casa e ligar, já morrendo de saudades. Assim também é Holly e Gerry. Eles brigam por nada, eles se odeiam naquele instante para no outro admitirem que não vivem um sem o outro. Isso é lindo, mas você sabe como sou. Não costumo admitir esse tipo de coisa. Sempre achei que homem deve ter autocontrole, mesmo que isso tenha me faltado bastante nos últimos dias. Só que mesmo que eu não abra a boca, você sempre consegue ler o meu olhar. Sabe direitinho o que ele quer te dizer. E eu não tenho como esconder isso. Meus olhos falam o que minha boca não consegue dizer quando estou perto de ti.

Continuando com o filme, minha linda, tenho vontade de não mais assisti-lo. Não porque ele seja ruim. Pelo contrário. Apesar de alguns clichês, ele é bom, bom demais. Mas a ideia do Gerry morrer me dá calafrios. Penso em como a vida pode ser cruel, às vezes. Logo lembro novamente de nós dois. Nesse momento, separação tem o mesmo significado de morte para mim. Não consigo imaginar uma vida sem você ao meu lado. Muito menos sou tão criativo quanto o protagonista do filme. Eu nunca pensaria em deixar cartas se soubesse que iria morrer. Faria de tudo para passar o tempo máximo que pudesse contigo. Inclusive, este agora. Deixaria de lado essas lamúrias apenas para ficar em silêncio ao teu lado. É uma pena que as coisas não possam ser assim.

As cartas de Gerry me fazem lembrar de algumas tentativas de te impressionar. Você sabe que eu nunca fui tão bom com a escrita tanto quanto desejei. Por isso tive que esperar você sair do quarto para escrever com um batom no espelho do seu banheiro. É verdade que eu estraguei o batom, mas vê a tua expressão de espanto/ alegria/ entre outros sentimentos no dia seguinte valeria qualquer reclamação que você viesse fazer depois. Ah, eu quase ia me esquecendo da carta que propositalmente eu esqueci contigo no dia em que fizemos um ano juntos. Pelo menos por um segundo eu fui esse Gerry.

Aliás, como diz um amigo meu, todo ex namorado no fundo é um Gerry Kennedy, porque tem que aprender a liberar o outro, tem que no fundo aprender a lidar com a separação. A ideia parece ser bem intencionada. Embora não seja tão fácil. Melhor. Nesse momento me parece absurda. Mas se é assim que tem que ser...

No filme, Gerry encontra meios de liberar Holly, indicando o que ela deve fazer, onde de ir. É nesse momento que vejo o quão egoísta eu sou, meu anjo. Meu amor é diferente do amor de Gerry. Na verdade, meu amor é embasado no apego, o do Gerry, no desapego. Ele acha meios de dar espaço para Holly, de entregá-la ao mundo como um tesouro inestimável. Eu só consigo pensar no que será de mim sem você. Isso é puro egoísmo, eu sei. Não desejo te liberar de mim, embora isso seja inevitável. Nosso amor começou do nada, num simples telefonema, durou esses longos três anos e alguma coisa e agora simplesmente eu não posso mais te segurar junto a mim. Admiro Gerry pela coragem de conduzir a pessoa que ele ama em direção a novos caminhos, de mostrar orgulhoso ao mundo a mulher que ele tem. Na verdade agora vejo onde errei. Eu tentei te esconder, tentei fazer com que seu brilho não fosse muito forte e, quando outras pessoas começaram a conhecer teu valor, simplesmente enlouqueci. Ainda não tenho o distanciamento necessário para te desejar felicidade com outro, embora num futuro não muito distante, creio que isso seja necessário. É preciso coragem, amor, para trilhar caminhos desconhecidos. Isso você tem de sobra.

Gerry diz que a vida muda a cada minuto. Começo a pensar com carinho nessa afirmação. Há uma semana atrás, passeávamos felizes, rindo, fazendo planos. Hoje, estou eu aqui em casa, sozinho, assistindo uma comédia romântica que me faz pensar em você, em como será daqui pra frente. Se isso me serve de consolo, penso que nosso amor não morrerá. Um filósofo do qual não lembro o nome agora, disse que tudo nesse mundo se transforma. Assim também será o nosso amor. Encontraremos outros Gerrys e outras Hollys pela vida afora. Mas a essência de nosso amor permanecerá intocada. Em cada passeio na praia, em cada serenata que te fizerem, em cada frase escrita de batom no seu espelho. O que eu desejo não é que você lembre de mim, do meu rosto, do meu toque. Apenas lembre-se de que você teve a oportunidade de viver plenamente o amor. Se resumirmos o filme, é somente isso que ele nos diz: viver plenamente o amor, independentemente da pessoa. Isso eu aprendi contigo e creio que você aperfeiçoou ainda mais comigo.

Mas como tudo na vida tem um fim, meu bem, assim é com esse filme e também conosco. Não posso evitar que você tenha outros Williams na sua vida. Pelo contrário, só posso te incentivar a viver plenamente tudo aquilo que desejar. Mesmo que eu não esteja por perto, mesmo que eu tenha sido obrigado a ficar distante. Isso talvez seja minha rendição. Uma vez que eu quis esconder por tanto tempo seu brilho, agora é hora de mostrar ao mundo tudo aquilo que eu sempre amei e admirei em você: a mulher meiga e firme ao mesmo tempo, doce e explosiva, decidida e insegura. Todas essas contradições que durante o tempo em que ficamos juntos sempre exigiram que eu me renovasse como homem para poder te acompanhar. E antes de terminar essa carta que talvez você nunca leia, meu amor, assim como Gerry, tenho uma última coisa a te dizer:


3 de julho de 2010

O que seu namoro deve ter para se transfomar numa merda II - A declaração

Saying I love you,
Is not the words I want to hear from you
It's not that I want you,Not to say, but if you only knew
How easy it would be to show me how you feel,
More than words is all you have to do to make it real,
Then you wouldn't have to say that you love me,
Cause I'd already know.
(More than words - Extreme)


No post passado fiz uma resumida abordagem em relação aos namoros bacaninhas, aqueles que nos aprisionam numa falsa segurança e nos levam, sem que percebamos, a uma relação cujo sentido é praticamente inexistente. Ok, inexistente pode soar como exagero. A palavra mais apropriada seria uma falta de sentido. Ou algo assim.

Hoje continuando nossa série de O que seu namoro deve ter para se transformar numa bosta - que diga-se de passagem, é sucesso mundial, meu twitter ficou fora do ar por mais de 24 horas depois da postagem, teve mais gente comentando nela do que a do "cala boca, Galvão!", o nosso site aqui também ficou fora do ar por alguns segundos, não era possível nem mesmo fazer comentários aqui, congestionou toda rede do Blogger, incrível, nunca vi isso -, vamos tratar da necessidade excessiva que algumas pessoas têm de se declarar. É incrível como elas não sabem ficar um dia sem dizer "eu te amo!", "eu não vivo sem você" ou qualquer coisa do tipo. Ao contrário de que alguns possam pensar, sou um cara extremamente romântico, sensível e, quando o momento pede, delicado. Agora uma coisa que não sou e nunca serei, é meloso. Eu detesto do fundo da alma pessoas melosas. Não acho charmoso, não vejo graça e para mim soa como frescura. E das grandes. Quando vejo um casal com esse tipo de frescura, "Eu te amo", "mas eu te amo mais" "eu te amo muitãozão", automaticamente começo a sofrer uma contração súbita de duração variável da musculatura lisa, acompanhada de dor e prejuízo funcional, e que só é aliviada no banheiro. Eu não sou contra o amor. Acho lindo esse sentimento. Não sou contra o romantismo, não sou contra nada que possa levar o casal à manifestação plena de sua felicidade. Contudo, sou completamente contra a banalização desse sentimento tão lindo. Que é justamente isso que acontece.

Uma declaração bem feita é a coisa mais linda desse mundo. Faz o homem se sentir mais homem e deixa a mulher completamente molhadinha. Quem não gosta de ser surpreendido com algumas palavras inesperadas e imprevisíveis? É natural do ser humano essa desejo de se sentir querido. E mais natural ainda é querer expressar isso. Contudo, como algumas coisas nessa vida precisam ser dosadas para não perder seu brilho, o mesmo raciocínio vale para esse desejo de se declarar. Ninguém aguenta uma pessoa que passa oito horas por dia dizendo que ama a outra. Sério, experiência própria. Vejam o dialogo:


1º dia, três horas da tarde:

Homem: Amor, liguei só pra te dizer que te amo.
Mulher: Aí, que lindo amor, eu também te amo. Que saudade.
Homem: Mas eu te amo mais!
Mulher: Para com isso amor. Amamos um ao outro igualmente.
Homem: Ok, tenho que ir. Preciso terminar de fazer uma cotação aqui. Te amo.

2º dia, mesmo horário:

Homem: Amor, de novo liguei só pra dizer que te amo.
Mulher: Eu também te amo, mas tu não deveria estar trabalhando?
Homem: Eu estou. É porque eu precisava dizer isso.
Mulher: Mas nós almoçamos juntos. Não faz nem meia hora que nos despedimos.
Homem: Eu sei, eu vou tentar me controlar. Te amo. Não esquece. Eu te amo muito mesmo. Até já coloquei aquelas 69 fotos nossas no orkut. Para cada foto, um "eu te amo" em língua diferente.
Mulher: Certo. Te amo.


3º dia, mesma hora:

Homem: Amor, eu te amo!
Mulher: Ah, és tu é?
Homem: Claro. Esperava mais alguém?
Mulher: Não. É que achei que você estivesse trabalhando.
Homem: Mas estou. Parei tudo só pra te ligar e dizer isso. Te amo muitozão ão ão!
Mulher: Eu também te amo, mas isso aqui já está virando frescura. Tu estás falando como uma mulherzinha. Eu tô me sentindo o homem da relação. Que tal nos falarmos menos?
Homem: Mas você não me ama mais?
Mulher: Não é isso. É que apenas não precisamos ficar lembrando desse tipo de coisa de cinco em cinco minutos, sabe? Perde a graça. Às vezes eu digo também só pra te agradar, mas no fundo nem tenho tanta vontade assim.


É assim que eu fico quando você sabe se declarar na hora certa, seu safado!



Como vimos, se declarar uma vez ou outra é algo absolutamente saudável. Até eu faço isso. Todavia, fazer disso uma rotina banaliza esse sentimento e, quando chega a hora de fazê-lo, ele já não tem a mesma força de antes pelo simples motivo de que uma coisa quando é oferecida demais, quando a outra pessoa não precisa fazer nenhum esforço para tê-la, ela simplesmente não valoriza.

Necessidade excessiva de se declarar geralmente esconde insegurança. Achamos que quanto mais demonstrarmos nosso amor, mais a pessoa amada gostará de nós. Ledo engano, gafanhoto. Amor não se compra com palavras. Aliás, amor não se compra de modo algum. Ele floresce. E só. Portanto, controle-se e saiba enxergar os momentos de usar essa arma poderosíssima ao seu favor. Mulheres adoram homens controlados que sabem o momento certo de dizer algo que as deixem molhadinhas. Por outro lado, detestam bichinhas geração "Restart" que não conseguem se controlar e precisam dizer aos quatro ventos quão grande é o seu amor.

Se você quer transformar seu namoro em uma merda, declare-se o máximo que puder. Aproveite a tecnologia e faça isso via Orkut, Facebook, Twitter, Sms, Msn, Formspring... Mas se declare, se declare até ela/ ele dizer que está enjoado de sua cara. Quando isso acontecer, significa que você está no caminho certo.

30 de junho de 2010

O que seu namoro deve ter para se transfomar numa merda I

Queria ter começado essa série ontem. Seria bem mais divertido. Pena que a ideia só me ocorreu hoje. Como em breve esse blog vai ser dinamitado, aproveito os últimos suspiros para fazer experiências. E essa ideia caiu como uma luva.

Ontem fiz um post razoavelmente ácido. Não achei muito bom e mesmo assim causou certa repercussão. Hoje pretendo fazer algo parecido, mesmo que com poucas palavras. Afinal, meu tempo está curto ultimamente.

Neste post quero meter o pau nos relacionamentos bacaninhas. Afinal de contas, eles são uma bosta. Servem apenas para maquiar a sua incapacidade de ficar sozinho consigo mesmo. Não sabe o que é uma relação bacaninha? Talvez tenha visto muitas ao seu redor. Só não se deu conta.

Relacionamentos bacaninhas são aqueles em que os envolvidos estão sempre em plena pulsão amorosa, independente de qualquer fator que se oponha contra eles. Numa relação bacaninha, o casal é perfeito, sempre tiram fotos sorrindo e fazem questão de colocar nos sites de relacionamento para que os outros vejam e sintam inveja da tamanha felicidade alcançada por eles. O casal nunca briga em público, estão sempre aos beijos, um suga a energia do outro e no fim, um acaba se apoiando no outro, já que não tem para onde correr. Ah, esqueci de dizer que quando eles beijam, sempre chove. Depois aparece um arco-íris. Por onde eles andam, as flores desabrocham. Tudo é lindo, tudo é perfeito, tudo é maravilhoso. E aí eu me pergunto e te pergunto: qual o mal de ter uma relação assim?

Todos.

TODOS.

Se não fui claro, vou repetir: todos que você imaginar. A não ser que queira ser mais um a viver de aparências. É assim que um namoro bacaninha sobrevive. De aparências. Por que digo isso? Porque relações bacaninhas são embasadas pelo medo, insegurança, apego e é claro, a ideia de que só serei feliz se tiver alguém ao meu lado. Mesmo que briguemos às escondidas. Mesmo que tenhamos que empurrar com a barriga. Mesmo nosso medo de se separar e viver coisas novas seja maior do que dar a cara a tapa. O importante aqui é sentir a estabilidade de um amor tranquilo. Mesmo que isso me faça dormir. Mesmo que a capacidade dele de poder desejar outras seja completamente anulada. Ou então a possibilidade dela de ir embora a qualquer momento seja zero. Namoros bacaninhas são prevísiveis, monótonos, sonolentos, sem emoção. Você passa tempo junto demais, ama demais, se declara demais, se esforça demais e cobra demais. Não há tempo nem para a saudade ter oportunidade de aparecer. Nós estamos vivos e para nos sentirmos assim precisamos correr riscos, nos aventurar, seguir trilhas desconhecidas, sair do campo de conforto. Portanto, se você quer uma relação típica dos casais de filmes e novelas, transforme seu namoro em bacaninha.



P.S. Em dois anos de blog, provavelmente esse foi o pior texto que escrevi até agora. Não, eu não desaprendi a escrever, muito menos me desinteressei do blog. Como outros textos que postei aqui, esse também faz parte de uma experiência. Quem me conhece vai estranhar a forma com a qual tenho escrito ultimamente, contudo, posso garantir a vocês que textos sem nexo como esse aparecerão por pouco tempo por aqui. Bem pouco mesmo.