4 de julho de 2011

Um escritor em formação tentando desvendar a alma feminina depois de quatro caipifrutas e duas punhetas

Este conto é obra de ficção e nenhum personagem pretende reproduzir pessoas ou combinações de pessoas vivas ou mortas.


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Verão de 2000. Eu ganhava a vida tentando ser escritor. Havia largado o emprego de professor do ensino médio para me dedicar integralmente a escrita. Ensinar me ocupava muito tempo e estava me deixando louco. Nunca tive vocação para o magistério, mas, como dizem por aí, um homem precisa pagar as contas. Ou pelo menos tentar. Ensinar foi o método mais rápido que eu consegui para resolver isso. Contudo, se foi o mais eficiente, aí já é outra história...

Eu estava chegando ao fim da linha com Nina. E depois que dei a notícia de que havia largado o emprego, tudo piorou. Nossas cabeças eram diferentes e nossas perspectivas, idem. Ela era completamente cética e responsável. Uma tremenda perfeccionista. Eu era um escroto beberrão, que, tentando quase sempre demonstrar meu amor por ela, tinha como maior prova de intimidade soltar peidos com essência de carniça misturada ao nada agradável cheiro de ovo podre. Poucas mulheres hoje em dia sabem apreciar tamanha prova de intimidade e cumplicidade. Nina com certeza não era uma dessas.

Na época eu tinha 35 anos. Nina tinha 22. Essa diferença de idade quase sempre nos fazia entrar em conflito. Ela era linda, com seus cabelos loiros na altura do ombro, seus peitos firmes, sua barriga sequinha, suas pernas grossas e sua bunda deliciosa. Nina era grande onde tinha que ser. Daquelas mulheres que tem carne nos lugares certos. Eu não era feio. Era do tipo de cara que dá pra pegar depois de uma leve dose de uísque. O que chamava atenção em mim não era a beleza e sim, o paradoxo que eu carregava. Apesar de ser extremamente grosso, bruto e, para não dizer, um verdadeiro homem das cavernas, havia um pouco de sensibilidade em mim. E frequentemente as mulheres se aproveitavam disso. Nina era uma delas.

Nosso lance quase não envolvia nada sexual. As poucas vezes em que fazíamos sexo – duas ou três vezes por semana – era mecânico e quase nunca rolava beijo. Eu era a porra de um escritor que precisava de uma musa. E Nina se recusava a ser essa musa. Só me restava então procurar amor nos braços das prostitutas. Essas sim sabem como dar amor. Contanto que você tenha dinheiro suficiente, o amor estará sempre ali, acessível, doce, puro. Se o dinheiro acabar e você não tiver mais como pagar, o amor dessas nobres mulheres vem em forma de um negão de dois metros, te socando, te chutando e, se você tiver um pouco sorte, deixando teu pobre cu ileso. Realmente o amor não tem bons sentimentos.

Eu havia escrito uns contos e mandado para umas revistas especializadas. Sempre chegava a mesma resposta: “-Caro Chinaski, seus contos são realmente bem escritos, porém, muito pesados para nosso público alvo. Tente algo mais leve e com menos vaginas e pênis. Estamos no aguardo de algo menos pornográfico seu. Um abraço” Ou então: “-Caro Senhor Chinaski, o senhor realmente enviou o conto para o endereço certo? Fizemos um favor e reencaminhamos seu conto para a revista CASA DO CIO. Esperamos que o Senhor obtenha sucesso por lá.”

-Mais uma rejeição, Chinaski? Perguntou Nina.

-Esses filhos da puta não sabem apreciar uma literatura de macho. Respondi na lata.

-Você acha que literatura de macho é escrever repetidamente a palavra pênis, vagina, cu?

-Você acha que a verdadeira literatura é falar da alma feminina, e dizer que não sabe fechar ciclos, só colocar vírgulas e reticências?

-Você morre de inveja do Caio Fernando Abreu.

-No dia em que eu começar a escrever assim, me coloquem no manicômio.

-Aposto que você não entende nada da alma feminina e se contorce de inveja por isso.

-Eu sou capaz de escrever um conto sobre a alma feminina sem cair nessas pieguices.

-HAHAHA. Essa eu pago pra ver.

-Vou sair, preciso me inspirar. Vou encher a cara e depois vou dar a eles o que eles querem.

O pouco de sensibilidade que havia em mim não era suficiente para que eu escrevesse um conto decente sobre a alma feminina. Tratei de ir ao bar tomar uma caipifruta para ver se ajudava. Se eu iria escrever algo fresco, nada melhor do que começar a construção da história tomando uma bebida de veado.

Cheguei ao bar, o garçom se aproximou. Pedi uma caipifruta de morango. Sem gelo.

-Escuta, cara, tá me gozando? Perguntou o garçom.

-Como? Respondi.

-Pra quem é essa caipifruta? Ele perguntou.

-Pra mim, lógico. Pra quem mais seria, porra? Respondi impaciente.

-Dá o fora daqui, antes que eu acabe com a tua raça. Ele ameaçou.

-Qual é, cara? Os brutos também tem direito de tomar uma caipifruta de morango. Indaguei.

Mal terminei de falar, uma garrafa acertou minha cabeça. Quando recobrei a consciência, estava do lado de fora do bar, bem perto de uma lixeira. Me apoiei nela, tentando me levantar. O sangue ainda escorria pelo meu corpo, manchando por completo minha blusa. Esse negócio de entender a alma feminina não havia começado bem. Fiquei em pé e voltei a entrar no bar.

-PORRA, TU DE NOVO, FILHO DA PUTA? Berrou o garçom. –UMA GARRAFADA NÃO FOI SUFICIENTE?

-Eu só quero encher a cara em paz. Respondi.

VÁ ENCHER ESSE RABO DE CAIPIFRUTA EM OUTRO ESTABELECIMENTO. Voltou a berrar.

-Me vê um uísque duplo. Sem gelo. Pedi.

-Agora sim. Seja bem vindo, amigão. UM UÍSQUE DUPLO E SEM GELO PARA NOSSO AMIGO SENSÍVEL, CARALHO!

A noite se passou e eu enchi completamente a cara. Na jukebox tocava Light my fire, dos The Doors. Eu não tinha ideia de como começar a porra do conto. Mas precisava mostrar para Nina que eu entendia da alma feminina. Ela detestava meus contos porque quase sempre acabavam em sexo, ou em brigas, ou em bebedeiras. Ela vivia dizendo que eu nunca havia me libertado da influência do Velho Safado. Em partes, até que tinha razão. Uma vez, tentando resolver esse problema, Nina me presenteou com os melhores poemas de Emily Dickinson. Lembro que não tive oportunidade de ler o livro porque em certa ocasião acabei limpando o rabo com ele. A necessidade faz o homem, não?

Cheguei em casa e Nina já estava dormindo. Fui a geladeira, peguei uma cerveja. Voltei para a sala, acendi um cigarro e sentei em frente ao computador. Estava para começar o primeiro round.

“A alma feminina é uma coisa complexa. Mulheres são indecisas por natureza e acham que ser assim é um charme. Por que elas não podem ser práticas e deixar de frescura? Até certo ponto é bonito e aceitável que a mulher faça algum tipo de charme ou manha. Eu disse até certo ponto. Ultrapassou aquele limite, já é pura frescura. E frescura de mulher só se resolve com pica. E dura.”

Em poucas linhas eu havia não captado a alma feminina, mas pego todo machismo do planeta e fodido com ela. Estava uma merda e Nina provavelmente iria me matar ao ler aquilo. Apaguei e comecei novamente:

“A alma feminina. Algo tão doce e tão amargo. Tão simples e ao mesmo tempo, tão cheio de mistérios e armadilhas. Coisa que nem os poetas conseguem explicar. Por mais que tentem, eles não conseguem reduzir a alma feminina a poucas folhas de papel. E há uma razão óbvia para isso: mulheres não querem ser compreendidas. Elas querem ser comidas. Na verdade, muito bem comidas. O segredo para um homem captar a alma feminina é proporcional a capacidade que ele tem de fazê-la gozar diversas vezes por noite. Se ele usa bem o pau e a língua, compreenderá sua mulher, bem como a terá sempre ao seu dispor. O problema dos poetas se resume justamente a isso aí: ao invés de estar fazendo suas musas gozarem gostoso de quatro, puxando o cabelo delas e dando tapa na bunda das safadas, eles estão num quarto, trancados, sonhando, endeusando, escrevendo e batendo punheta pensando nelas. Assim fica difícil entender alguma coisa sobre a alma feminina.”

Comecei bem, mas depois ficou uma porcaria. Se bem que ri disso tudo. Levantei e fui buscar outra cerveja para inspirar.

Aproveitei que a cozinha fica perto do quarto e fui fazer uma visitinha a Nina. Ela sempre dorme nua. Só quando faz greve de sexo é que inventa de colocar alguma roupa. Por azar, nesse dia, estava vestida. Cheguei por trás e beijei seu pescoço. Ela tentou se esquivar.

-Essa semana não, Chinaski. Só quando você arrumar um emprego ou então escrever algo decente.

-Nina, vamos brincar de estupro? Perguntei.

-É o que? Você ficou maluco? Claro que não. Ela respondeu enfurecida.

-A ideia é justamente essa. Parei de falar e parti pra cima.

Nina se contorceu como pode. Tudo em vão. Comecei rasgando a blusa dela e colocando as mãos naqueles peitos. Ela me deu uma senhora mordida. Senti que o combate seria difícil. Dei um jeito de pegar algum pano perto e colocar na boca dela. Resolvido isso, enquanto a segurava com uma chave de braço, tratei de puxar a calcinha até rasgar. Não foi um procedimento fácil, porque ela se debatia mais do que égua quando está sendo amansada. Mesmo assim joguei duro e consegui, de modo precário, rasgar um lado. Os caminhos estavam quase abertos. Contudo, burro como sou, esqueci que eu ainda estava vestido. Teria que soltá-la para poder tirar minha calça. Foi o que fiz.

Nina aproveitou o momento em que eu tirava minha calça para poder sair do quarto. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde, a alcançaria. Assim que tirei a calça, fui em sua cola. Ela estava na sala, deitada no sofá, cansada, respirando de modo ofegante. A luta estava quase finalizada. Só restava mesmo o tiro de misericórdia. Segurei o pau firme e mirei naquela buceta apertada. Era bom estar ali dentro de novo.

Não sei o que acontece com essas mulheres. Elas parecem nos testar a todo momento. Quando coloquei o pau em Nina, senti que ela estava bastante molhada. Muito mais do que o costume. O pau deslizou como uma canoa deslizaria numa queda d´água. Bombei algumas vezes e quando senti que ia gozar, tirei de dentro. Era a hora de captar a essência da alma feminina. Coloquei a língua na boceta de Nina o mais fundo que consegui e senti seu suco azedo escorrer para dentro de minha boca. Senti que a essência da alma dela estava mais ácida que de costume. Nina segurava minha cabeça cada vez mais forte, como que querendo colocá-la para dentro de sua vagina. A língua já estava cansando quando resolvi usar também os dedos. A alma de Nina uivava de prazer. Sinal de que o trabalho estava sendo bem feito. Caio Fernando Abreu jamais captaria a alma dela desse jeito. Mesmo assim, conhecendo essa safada, não duvido muito que ela ainda daria para ele.

Depois que acabei de usar a língua, peguei Nina de jeito e a coloquei de costas para mim. Era a hora de captar a parte de trás da alma dela. Dei umas senhoras estocadas, com a firmeza do coice de um jumento, dei umas voltas em seu cabelo e puxei sem dó. Nina estava quase virando bicho. Nunca a vi tão descontrolada. Eu estocava com raiva. Lembrava de cada palavra dela, lembrava da surra que levei no bar, lembrava dos escritores que tinham a sensibilidade que eu nunca iria alcançar, lembrava daqueles filhos da puta que pensavam como mulher, lembrava que eu tinha um conto para escrever, lembrava de... até que gozei. Caímos acabados no chão. O combate havia terminado.

Acendi um cigarro e fiquei por uns dez minutos abraçado a Nina. Como era boa aquela situação. A sensação de segurança que seu corpo me trazia, o calor, o acolhimento. Coisas que eu já havia esquecido como era e pensei que jamais iria sentir novamente. Até um cara durão como eu precisava de alguma proteção e amparo, às vezes. Nina era exatamente isso. Ela era o lado racional, materno, acolhedor e lúcido da relação. Eu era o lado escroto, irresponsável, inconseqüente e bem humorado. Dei um beijo de cinema, completamente apaixonado em Nina e voltei para o computador. Agora sim eu era capaz de escrever algo aproveitável sobre a alma feminina. Aliás, qualquer imbecil é capaz de captar a alma feminina. Basta ter um pouco de paciência, de sensibilidade, de abertura, de boa vontade, uma língua, alguns dedos e um pau. O longo e fodido processo de aprendizado estava apenas começando.

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