- Então, como tudo começou?
- Como tudo começou?
- Sim, me fale.
- Bom... Vamos lá:
“- Basicamente, eu era acho que, quarta ou quinta série. E no colégio houve uma daquelas excursões, de levar as crianças para algum lugar e voltar na hora certa, sabe...?
...Então, praticamente, foi na estréia do playcenter, sabe o playcenter? Pronto... Hoje em dia é o Mirabilândia.
... Eu estava com meus coleguinhas, e era sempre observado o tamanho para você andar em algum brinquedo. Até que me interessei bastante por um em particular; não era brinquedo. Era a casa do terror do playcenter.
... Eu chamei todos os meus coleguinhas para ir comigo, mas ninguém quis, porque ficavam com medo. Eu já tinha doze anos. (Na época a censura era de doze anos.
... Até que eu comprei o ingresso, e entrei, mas tinha um problema; eu não podia ir sozinho, tive que esperar algum grupo que deixasse eu ir junto.
... Só havia pessoas mais velhas, e ninguém queria a companhia de um pirralha, até porque se presumia que eu ia chorar. Mas eu não ia, eu não ia chorar – não!
... Depois de ter sido rejeitado por vários grupos, eu até fiquei desanimado. Até que um em particular de quatro garotas e dois rapazes estavam entrando. E o cara da portaria perguntou se tinha problema. Alguns ficaram assim, hesitando, outros sem responder. Mas uma garota específica lá, disse: ‘Claro que não, pode vir com a gente’.
... E eu fui; bem animado.
... No começo é assim, eles nos colocavam numa sala bem escura e tal, até que chegava um cara de capuz, bem macabro para assustar. Então ele escolhia um “líder” no grupo. Após escolher o cara mais escroto de lá, as meninas o seguiram e eu fiquei atrás, assustado. Com muito medo.
... As meninas ainda estavam bem, porque ficavam se abraçando, eu não tinha ninguém, além da sensação de medo, também tive a sensação de solidão.
... Foi quando a mesma garota que disse que não havia problema entrar com eles, ELA PEGOU NA MINHA MÃO.
... Então todo o medo, todo o pavor, tudo havia cessado. Eu estava com ela, segurando a mão dela naquele labirinto escuro. Enquanto as outras garotas gritavam, ela ficava comigo, firme e forte. Eu esqueci todo o pânico do mundo, só porque ela havia segurado a minha mão.
... Passamos por diversos sustos, mas eu juro; nada conseguia me assustar – não porque eu estivesse me sentindo com uma sensação de proteção devido a ela segurar minha mão. Na verdade, eu estava tão encantado com aquela garota, que eu podia ver o satanás na minha frente e ainda assim não me assustaria.
... E para a minha infelicidade, o passeio estava terminando, após ver gente aparentemente morta, uma múmia bem sebosa (parecia que tinha saído da restauração), uma tentativa da compilação de frankstein (só que o ator estava emacunhado, um anão com capuz e uma maquiagem para assustar (o fato dele ter sido anão, não assustava ninguém), e finalmente a fase final que era a ponte. De quando deveríamos correr porque todos os personagens teoricamente iriam correr atrás de nós.
... Eu era o menorzinho do grupo, e vi todas as meninas correndo, inclusive a garota que segurou a minha mão. É como ter visto em slow-motion. Acho que todos os atores ficaram putos comigo, porque eu não corria, simplesmente não corria. Andava bem devagar para acompanhar a velocidade da distância que acontecia entre eu e a garota que me deu a mão.”
- Então foi a partir daí que você se tornou um sádico? – Perguntou minha psiquiatra.
- Sádico, o que é isso?
- Vem de sadismo. De gostar de ver os outros sofrerem.
- Não... – Disse eu após refletir um pouco. – Eu apenas gosto de ver mulheres com medo, isso me excita. Só isso.
2 comentários:
Ainda quero saber a conexão ai...
=P
fim surpreendente. gostei desse :)
obs: mulheres costumam gostar de proteção
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